12 Agosto 2021
“Se você pensa que fomos feitos senhores da Criação sem sermos chamados para cuidar dela, você não compreende a nova Criação que a ressurreição gerou. Por nosso intermédio, como por meio da Virgem, Cristo pretende tocar e transformar a Criação, abençoá-la e santificá-la”, escreve o padre estadunidense Terrance Klein, da Diocese de Dodge City e autor de Vanity Faith (Liturgical Press, 2009), em artigo publicado por America, 11-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Uma reflexão para a Solenidade da Assunção
Leituras (Missa durante o Dia): 1 Crônicas 15, 3-4; 15-16; 16, 1-2; 1 Coríntios 15, 54-57; e Lucas 11, 27-28.
Leituras da Vigília: Apocalipse 11, 19a; 12, 1-6a; 10ab; 1 Coríntios 15, 20-27; e Lucas 1, 39-56.
O livro de escoteiro ainda nos ensina que você deve deixar o acampamento mais limpo do que o encontrou. Essa é uma nobre injunção que se origina na carta de Robert Baden Powell aos seus escoteiros, “tentem deixar esse mundo um pouco melhor do que o encontraram”.
Um pedaço de terra não sofre porque nós a visitamos. Como a coroa da Criação de Deus, nossa presença deve ser uma bênção para nosso ambiente, não uma praga. Não fomos criados por Deus para abusar do resto de sua Criação. Não, devemos cuidá-la, lembrando que é um presente de Deus para nós e para as gerações que virão.
Um ensino que tem grande antiguidade, mas pode parecer um tanto esotérico, pode nos ensinar muito sobre nosso cuidado com o mundo à luz da preocupação de Cristo por ele. A Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria revela o alcance da ressurreição nas profundezas da Criação. É semelhante ao ensino dos escoteiros de deixar o que tocamos melhor do que o encontramos. Tudo o que o Filho de Deus toca é totalmente transformado.
Se alguém acredita que Jesus é o Deus vivo, o Filho Eterno do Pai, como poderia a criação não ser transformada pelo seu toque? Como poderia aquilo que se abre para ele não se tornar o que ele é: divino? Ele não nos disse que veio entre nós não apenas para ensinar, não apenas para salvar, mas para nos conceder a própria vida de Deus? De fato, não parece, no Novo Testamento e em toda a história subsequente, que a vida humana se transforma, se torna divina, na mesma medida em que põe de lado o pecado e se abre a ele?
Deus, o Pai, não permitiu que a carne sem pecado do Filho sofresse corrupção. Pelo poder do Espírito Santo, o Pai o ressuscitou e glorificou o Filho em sua carne. Que trio de discípulos vislumbrou em um momento singular no topo da montanha, a Transfiguração do Cristo em carne, agora é proclamada do topo de cada montanha.
No seu nascimento, Cristo assumiu nossa carne. Em seu retorno dos mortos, não é descartado como impuro. Cristo assumiu a carne da Virgem. Ela não é um mero instrumento, usado por ele apenas para obter nossa salvação. Não! Por sua graça ela deu um “sim” completo a Deus, possibilitando a própria Encarnação. Em sua ressurreição e assunção, vemos quão radical o derramamento do próprio Deus sobre a Criação verdadeiramente é.
Em Cristo, Deus vem à sua Criação. Em Maria, a Criação recebe seu criador e se torna algo permanente e puro, algo transformado. “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1, 42). Tudo o que é tocado pelo Filho de Deus, tudo o que é libertado do pecado, também será transfigurado. “Em Cristo todos serão vivificados, mas cada um na devida ordem” (1 Cor 15, 22-23).
O que começou em Belém no ventre foi concluído no túmulo do Calvário. Nova vida é dada ao mundo na ressurreição de Cristo. O que se enraizou na carne da Virgem floresce em sua ascensão ao céu, sua passagem para uma existência divina sem o sofrimento e a corrupção que chamamos de morte. Ela é transfigurada, de corpo e alma, elevada a Deus.
As verdades parciais da fé são as mais perigosas de todas. Se você pensa que Cristo está acima de nós, mas não é totalmente Deus, você falhou em perceber o dom de Deus de si mesmo. Se você pensa que a renovação e o renascimento estão limitados à sua carne, você falha em ver o dom elevando toda a criação. E se você pensa que fomos feitos senhores da Criação sem sermos chamados para cuidar dela, você não compreende a nova Criação que a ressurreição gerou. Por nosso intermédio, como por meio da Virgem, Cristo pretende tocar e transformar a Criação, abençoá-la e santificá-la.
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Na Assunção de Maria, Cristo transforma a Criação. Nós somos chamados a fazer o mesmo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU