09 Junho 2021
O impacto econômico da pandemia ainda persiste e ameaça aumentar de maneira muito preocupante a distância entre os países ricos e os países em desenvolvimento.
A reportagem é de William Desmonts, publicada por Alternatives Économiques, 18-05-2021. A tradução é de André Langer.
Ainda não sabemos realmente a especificidade da crise provocada pela epidemia de Covid-19 em relação às crises econômicas anteriores, e em particular às mais recentes, as de 2000-2001 e 2008-2009.
Em ambos os casos, essas crises que eclodiram na esfera financeira afetaram mais gravemente os países mais desenvolvidos, onde as finanças desempenham um papel muito mais importante, do que os países em desenvolvimento e os emergentes. Promovendo assim alguma correção e uma redução das desigualdades entre os países em escala global.
Com a crise desencadeada pela epidemia da Covid-19, é o contrário que está acontecendo. Os países do Sul têm sistemas sociais e sistemas de saúde muito menos desenvolvidos do que os países mais ricos. Eles também têm um acesso muito mais difícil e lento à vacinação. Finalmente, eles têm margens fiscais e monetárias muito mais limitadas para apoiar a renda das famílias e a atividade econômica.
Em outras palavras, a crise atual irá, com toda probabilidade, aprofundar novamente as desigualdades globais e fazer regredir uma série de países emergentes e em desenvolvimento. Esta é uma mudança significativa de paradigma. E não está indo na direção certa. Tal tendência, se continuar, corre o risco de ter graves consequências geopolíticas ao exacerbar as tensões internacionais e, provavelmente, a migração...
Essa é, em todo caso, a tendência preocupante destacada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu último World Economic Outlook, publicado antes do espetacular recrudescimento da epidemia na Índia, que vai acentuar ainda mais esse fenômeno.
O FMI destaca primeiramente o formidável fosso que se constata na questão da imunização. Infelizmente, isso implica que os abismos observados em termos de recuperação econômica provavelmente continuarão e se agravarão.
No plano econômico, em 2022, os países desenvolvidos terão perdido menos de 1% do seu produto interno bruto (PIB) per capita em comparação com o que era esperado no início de 2020, antes da crise, contra mais de 6% para os países emergentes e os países mais pobres, de acordo com as previsões do FMI. Em última análise, em 2024, a Ásia, excluindo a China, deve ser a mais afetada pela crise atual, seguida pela América Latina e pela África Subsaariana.
Este também é o caso, para além das desigualdades no sistema de saúde e de vacinação, porque os Estados têm um acesso muito desigual ao financiamento. Todos os países viram suas receitas diminuir em 2020, mas isso não impediu que os países desenvolvidos aumentassem seus gastos em 6%. Os países emergentes também aumentaram os seus, mas em apenas 1%, enquanto os países mais pobres tiveram de diminuí-los.
Todos os tipos de países, dos mais ricos aos mais pobres, gastam agora cerca de 2% de seu PIB em média para pagar os juros de sua dívida. Mas a dívida dos países desenvolvidos saltou de 20 pontos do PIB desde 2019 para 120% do seu PIB, enquanto a dívida dos países emergentes aumentou de apenas 10 pontos do PIB para 65% do seu PIB e aquela dos países pobres de apenas 5 pontos para 50% de seu PIB.
Em outras palavras, principalmente por causa das diferenças entre as taxas de juros com as quais podem se endividar, os países mais pobres simplesmente não podem se dar ao luxo de apoiar suas economias como fazem países mais desenvolvidos como a França. Para piorar a situação, eles também tiveram que fechar suas escolas durante muito mais tempo, prejudicando assim sua capacidade de preparar seu futuro a médio prazo.
A capacidade dos países desenvolvidos de compensar essas crescentes desigualdades nos próximos meses, tanto no campo dos sistemas de saúde e das vacinas como na ação pública, será determinante para o futuro do planeta.
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Por que a crise da Covid-19 é mais séria do que as anteriores - Instituto Humanitas Unisinos - IHU