20 Março 2021
Observação é da diretora adjunta do Dieese Patrícia Pelatieri, em debate virtual promovido ontem pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé
A reportagem é de Eduardo Maretti, publicada por Rede Brasil Atual, 19-03-2021.
A situação da pandemia no Brasil, que se agrava sem que o governo Bolsonaro respeite os protocolos científicos, mostra que há uma parcela da população que apoia a falta de postura do governo no combate à crise sanitária. Essa é a opinião da diretora adjunta do Dieese, Patrícia Pelatieri. “Temos que olhar todos os lados. O que a pandemia tem exposto é que temos uma parcela muito grande da população absolutamente homofóbica, conservadora, genocida, que defende isso que está sendo aplicado (pelo governo Bolsonaro)”, disse Patrícia.
Embora a pauta do debate tenha sido economia, Patrícia Pelatieri resumiu o sentimento da parcela progressista e democrática da população brasileira com uma abordagem sociológica. “A responsabilidade (pela situação do país hoje) não é só de quem está lá, neste governo. Tem o judiciário, que tem responsabilidade. Gosto de destacar que não é assim, que estamos todos juntos, combatendo a pandemia e só o doido do Bolsonaro é que faz essas maluquices. Não é verdade. Você vê a grande imprensa que bate no Bolsonaro, mas protege a área econômica, como se fosse possível fazer o combate e manter o teto de gastos”, disse.
Patrícia fez essa afirmação na noite desta quinta-feira (18), ao participar de debate promovido pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé. O tema do debate foi “Cadê a retomada em V da economia brasileira?”, em referência ao termo usado pelo ministro Paulo Guedes, que previa uma recuperação da atividade econômica desde o início de 2020. Em “V” porque, segundo o “Chicago Boy”, a retomada seria tão abrupta quanto foi a queda. A “profecia” de Guedes, claro, não se realizou. Além de Patrícia, participaram da discussão mais quatro mulheres: Ana Georgina Gomes, supervisora técnica regional do Dieese-Bahia; Leda Paulani, professora titular do Departamento de Economia da FEA-USP; e Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O evento foi mediado por Maria Alice Vieira, do Barão de Itararé.
Ana Georgina, Maria Alice, Tereza Campello e Leda Paulani discutem falácia da “retomada em V” da economia (Foto: Reprodução)
Tereza Campello – assim com todas as debatedoras – destacou que o governo mantém hoje, tanto na condução da economia como no “combate” à pandemia, a mesma postura “errada” que vem desde o primeiro dia de governo. Ela enfatizou que o presidente não apenas nega a pandemia, como atrasou todas as medidas necessárias a seu enfrentamento. Lembrou que o desgoverno brasileiro demorou a tomar iniciativas, deixando de aproveitar o aprendizado de países como China e Itália, onde o vírus atacou primeiro.
Com a condução caótica do governo federal, mais de 700 mil micro e pequenas empresas, segundo números de novembro, fecharam as portas. Pior, “essas empresas não voltam, é irreversível”, disse Tereza. O governo também não entendeu, ou não quis entender, que as medidas capazes de minimizar os efeitos da crise provocada pela covid-19 não eram meramente econômicas, mas sanitárias, de saúde pública, “para que as pessoas pudessem ficar em casa”.
O fundamental auxilio emergencial, por exemplo, foi introduzido pelo Congresso a contragosto de Bolsonaro e Guedes, obrigados a ceder devido à pressão social. Fixado em R$ 600 no ano passado, foi agora reintroduzido “desidratado”, disse Tereza, com valores entre R$ 150 e R$ 375, dependendo da composição familiar. Além do valor, em média, de quase metade do anterior, com o “novo” benefício jogaram “mais de 22 milhões de pessoas fora”, disse a ex-ministra de Dilma Rousseff, sobre os excluídos que estavam entre os beneficiários em 2020.
“O valor não era de R$ 600 por acaso, mas porque é o valor da cesta básica. Por isso que os setores progressistas querem R$ 600.” Segundo ela, se não fosse o auxílio emergencial em 2020, o PIB brasileiro teria caído o dobro do que caiu. No ano passado, o Produto Interno Bruto do país recuou 4,1%, a maior queda em 30 anos. “E o que o governo faz? No final de dezembro, no auge da pandemia, acaba auxilio emergencial e auxilio às empresas, que davam movimentação mínima à economia.” Tereza observou ainda que, além de todos os erros absurdos, o Planalto continua dando sinais ruins ao mercado, como com as quedas do presidentes do Banco do Brasil e da Petrobras. Para piorar, a perversa política de Guedes-Bolsonaro vai cortar ainda mais em saúde, educação e assistência social em 2021.
“Cadê o crescimento em V?”, ironizou Ana Georgina Gomes, do Dieese da Bahia. Para ela, Guedes acertou no “V” em relação à “queda vertiginosa, mas falar em subida é precipitado”. “É estranho falar em retomada, e mais estranho é não considerar a pandemia, quando precisamos intensificar o isolamento e a interrupção em várias atividades. Os dados mostram um mercado muito ruim para todo mundo, embora pior pra mulheres, negros e mais jovens”, destacou.
Leda Paulani lembrou o termo “hecatombe”, usado pelo neurocientista Miguel Nicolelis para definir a situação brasileira na pandemia. “A hecatombe está aí. O país vive a situação de ser um exemplo triste para o mundo, que nos envergonha a todos. Penso eu que hoje o único presidente negacionista no mundo é Bolsonaro”, disse. Para a professora da USP, a postura “equivocada” do governo Bolsonaro desconsidera um pressuposto: “para a economia funcionar minimamente, as pessoas têm que ter saúde”.
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Pandemia expõe que parcela da população é homofóbica e genocida, diz economista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU