18 Setembro 2020
“Ele nos disse que o Senhor e a Igreja amam nossos filhos porque são todos filhos de Deus. Para mim e para todos nós foi uma grande luz depois de anos difíceis e sombrios”. Mara Grassi é uma mulher de fé, mãe de Giovanni, 40, homossexual. Ontem, depois da audiência geral da quarta-feira, teve um breve encontro com o Papa e em nome da associação "Tenda di Gionata". E entregou-lhe o livro Genitori fortunati (Pais sortudos), no qual são recolhidos os testemunhos de pais católicos com filhos LGBT. É a primeira vez que a associação é convocada para um encontro, mesmo que breve, com o Papa.
A entrevista com Mara Grassi é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 17-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Genitori fortunati.
Vivere da credenti l’omosessualità dei figli
Que sensações você teve ontem?
Muito fortes. Por anos fui como uma cega. Depois que soube da homossexualidade do meu filho, sofri muito porque as regras da Igreja me faziam pensar que ele estava excluído do amor de Deus. Ninguém me ajudou.
O que aconteceu depois?
Participei por acaso em Reggio Emilia numa vigília contra a homofobia na paróquia de Regina Pacis. Conheci outros pais de fé com filhos homossexuais e, em particular através do encontro com um padre, Dom Paolo Cugini, compreendi que a fé e a homossexualidade não estão em contraposição, que Deus ama o meu filho assim como ele é.
Essas são também as palavras que o Papa lhe disse. Estava esperando por elas?
Eu esperava sim. Queria dizer ao Papa que o que nós entendemos, a Igreja deve fazer com que muitos outros pais como eu entendam, para que não sofram tanto quanto eu sofri.
O que você disse a Francisco?
Sou mãe de um rapaz homossexual que deixou a Igreja porque não se sentiu acolhido em sua diversidade. Disse ao Papa que, graças ao meu filho, mudei o meu ponto de vista. Quando conheci outros pais e jovens LGBT, pude ver a beleza e o amor de Deus também em meu filho. Disse a ele que somos pais sortudos porque a descoberta da homossexualidade de nossos filhos, mesmo que a princípio desestabilizadora, nos fez mudar os nossos olhares e ver coisas que não conseguíamos ver. E ficamos enriquecidos por isso. Descobrimos que Deus supera regras e normas, o seu amor é totalizante para todos.
E Francisco respondeu que Deus ama seus filhos como são?
Primeiro ele nos disse que Deus ama nossos filhos porque são todos filhos de Deus. Depois, quando eu lhe expliquei que queremos ajudar a Igreja a trilhar um caminho que leva a garantir que ninguém se sinta excluído dentro dela, que queremos derrubar as barreiras para um caminho mais acolhedor e inclusivo, respondeu que estava de acordo e que a Igreja ama os nossos filhos como eles são.
Quando você descobriu sobre a homossexualidade do seu filho?
Quinze anos atrás. Perguntei a ele porque havia percebido sinais inequívocos. Ele havia se afastado da Igreja por isso e ainda hoje se mantém distante. Por anos, continuei a frequentar a minha paróquia carregando esse fardo em silêncio. Depois, na vigília contra a homofobia, pela graça de Deus, abri meus olhos e parei de sofrer. Achei que a sua homossexualidade fosse errada, mas era eu que estava errada.
A Igreja tem uma atitude de fechamento em relação aos homossexuais?
Ainda sim, em muitas partes. Para muitos, fé e homossexualidade são termos em contraposição. Na cabeça de muitos, um homossexual não pode ser uma pessoa de fé. Muitos garotos e garotas LGBT nos mostram o contrário.
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“O Papa me disse: Deus ama os filhos homossexuais como eles são” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU