24 Junho 2020
"Deus está na alegria de quem vence a doença. Ele também acompanha e recebe em sua Glória todos aqueles que morrem do coronavírus. Eles são vítimas do mau funcionamento desta sociedade. O Grande Capital os sacrificou... Deus sabe que não deveria ser assim", escreve José Luis Caravias, jesuíta espanhol, missionário no Paraguai. A tradução é de Luis Miguel Modino.
Na oração de Jesus, seu primeiro pedido é "santificado seja o vosso nome" (Mt 6,9).
Esta oração dele tem raízes profundas na tradição bíblica. O Pai Nosso é uma síntese maravilhosa dos ideais do Povo de Deus.
É um mandamento bíblico: "Guardarão os meus mandamentos e os observarão: eu sou o Senhor. Não profanarás o meu santo nome, para que eu seja santificado entre o povo de Israel" (Lv 22:32).
Durante o exílio na Babilônia, o Deus de Israel é desprezado e insultado pelos conquistadores como inútil e impotente. Então o profeta Ezequiel promete que o Senhor libertará seu povo para que seu nome não seja mais desprezado. "Cuidarei da honra do meu nome, que foi desonrado pelo povo de Israel entre as nações para as quais foram exilados" (Ez 36,21).
Deus santifica seu nome libertando os israelitas de seus ídolos e dando a eles um novo coração e um novo espírito. Ele tira os corações de pedra e lhes dá corações de carne para cumprir seriamente a Aliança. É assim que eles santificam o nome de Deus (Ez 36, 19-28).
Neste primeiro pedido do Pai Nosso, Jesus usa a linguagem bíblica tradicional. Ele pede que, através de seus seguidores, Deus seja verdadeiramente conhecido como ele é. Jesus sabe que é difícil reconhecer Deus como ele é. Afirmamos muitas coisas falsas sobre Deus. Ele veio para nos dar uma imagem autêntica de Deus. Essa era sua principal preocupação. Que nós o reconheçamos, com a nossa vida, como o Senhor realmente é, é o que nos faz pedir ao Pai.
É um grito de busca autêntica por Deus no meio de um mundo de falsas imagens divinas. Tornar conhecida o autêntico rosto de Deus é a missão básica de Jesus e de todo seguidor de Jesus. Experimentar conhecer Deus cada vez melhor é o ideal de todo crente.
Na história da humanidade, a palavra Deus em todas as religiões e idiomas foi muito atacada. Atributos e ações horríveis são ditos por Deus. Dizemos coisas de Deus que não diríamos sobre nossos piores inimigos. Nesta pandemia, Deus é responsabilizado por sofrimentos muito graves. A missão dos seguidores de Jesus é limpar a sujeira com o nosso comportamento correto, de acordo com as circunstâncias.
Cada um de nós luta para limpar nossa imagem de Deus, constantemente suja e deformada pelo "mundo". É a luta da Igreja e de cada crente: reconhecer que Deus é sempre inteiramente santo, completamente bom. Nada do que não é santo pode ser dito dele. Não em nome dele podemos fazer outra coisa senão amar...
Jesus pede no final do Pai Nosso para não cair na "tentação", no singular. A que se refere? Parece a tentação básica da idolatria. A tentação de inventar outros deuses menos amorosos e exigentes que o único Deus. É nada menos que o cumprimento do primeiro mandamento: não ter outros deuses. Livrai-nos do mal, deste terrível mal de confundir-te, Senhor, com qualquer coisa horrível.
Os dois últimos pedidos no Pai Nosso são a concretização do primeiro para santificar seu nome. Era comum na poesia oriental acabar esclarecendo o que foi afirmado no início. Jesus pediu para santificar o nome do Pai, ou seja, para realmente conhecê-lo como ele é. Essa era a essência de sua missão. No final da frase, ele repete o mesmo desejo, mas em uma versão negativa: "Não nos deixemos cair em tentação" (Mt 6,13). Não são tentações vulgares. A grande tentação é inventar outros deuses, pequenos, sujos, manipuláveis, justificadores de nossa sujeira. Acreditar e esperar ajuda de imagens falsas de Deus é o grande mal da humanidade. Por esta razão, insiste: "Livrai-nos do mal" (Mt 6,13), do terrível mal da "idolatria, causa e fim de todos os males" (Sab 14,27).
No livro da Sabedoria, escrito pouco antes da vinda de Jesus, afirma-se: “A invenção dos ídolos foi a origem da devassidão; quando eles apareceram, a vida foi corrompida” (Sab 14,12).
A catequese paroquial normalmente ensina a confissão do quarto mandamento e insiste no sexto. Dificilmente alguém examina o cumprimento do primeiro mandamento. No máximo, um pouco do segundo, limitado a juramentos.
Amar a Deus de todo o coração supõe que não há lugar para ídolos... Os ídolos, por si só, não existem. O que nos escraviza e nos impede são atitudes idólatras de nós mesmos. Esperar que uma imagem tão concreta realize o milagre que buscamos é a idolatria. Buscar soluções mágicas, isso é idolatria, que suja o nome de Deus.
Mas também é idolatria pedir a Deus coisas negativas que ele não pode nos dar, como vingança, por exemplo. Ou peça a ele que cumpra nossas obrigações, sem fazer nada para nós.
Os seres humanos somos continuamente tentados a inventar pequenos deuses à nossa própria medida. Nós somos fábrica de ídolos. Portanto, a rejeição da idolatria é o primeiro mandamento da lei de Deus e o primeiro pedido para a oração de Jesus.
Temos que dar muito mais importância ao exame contínuo de nossas possíveis atitudes idólatras. Em que Deus acreditamos? O que esperamos de Deus? Onde pensamos que Deus se apresenta para nós? É muito possível que atitudes idólatras possam entrar facilmente em nós.
Primeiramente, reconhecendo a vulnerabilidade do ser humano. Apesar do nosso poder tecnológico, seres ultramicroscópicos nos trazem morte incontrolavelmente...
Nesta emergência, eles abençoam o nome de Deus, mesmo que não acreditem nele, toda aquela vastidão de profissionais de branco que cuidam dos doentes com tanto cuidado. E todos os profissionais que procuram ansiosamente vacinas e remédios eficazes. Deus está com eles.
Eles santificam o bom nome de Deus entre os milhões de pessoas que cuidam de maneira tão amorosa dos mais velhos, para que não se contagiem. E o número de professores que se esforçam para alcançar facilmente seus alunos através de novos caminhos virtuais. E pais que sabem como manter os filhos em casa, sem se cansar demais. E tantas mães que sabem educar seus filhos com amor nesses tempos difíceis. E as mulheres maravilhosas que preparam panelas populares todos os dias para quem não tem nada para comer. E as pessoas que fornecem o alimento básico para as panelas populares. E a polícia que impede que pessoas irresponsáveis infectem outras pessoas. Deus se manifesta no esforço responsável de tantos em usar máscaras, manter distância, lavar bem as mãos...
Deus também circula em tantas reuniões virtuais quanto elas estão ocorrendo, desde que sejam para coisas positivas. Deus também vive nas missas transmitidas. E em comunhões espirituais. É tanto em casa quanto no templo. É sempre Deus, o mesmo Deus, próximo, respeitoso, amoroso... Com o nosso bom comportamento, santificamos o seu nome.
Deus está na alegria de quem vence a doença. Ele também acompanha e recebe em sua Glória todos aqueles que morrem do coronavírus. Eles são vítimas do mau funcionamento desta sociedade. O Grande Capital os sacrificou... Deus sabe que não deveria ser assim. E saiba como esse coronavírus se desenvolveu. Conheça os responsáveis. É por isso que protege todas as vítimas.
Quando as vacinas sejam obtidas, elas honrarão a Deus se todas as pessoas doentes puderem acessá-las. Mas elas mancharão o nome de Deus se ficarem presas em monopólios caros... Deus ajudará aqueles que investigarem qual possível dano é causado pelas vacinas monopolistas.
Deus não é ingênuo. Ele responsabilizará as pessoas que se aproveitam da epidemia. É uma vilania extrema ficar rico negociando medicamentos e suprimentos médicos nesses momentos de extrema necessidade. Eles difamam o nome de Deus. E eles receberão o que merecem.
Papai Deus, queremos conhecê-lo como você é, mesmo que um pouco, mas realmente. Não permita que aceitemos aquelas imagens negativas suas que nos apresentam neste momento difícil. Liberte-nos desse terrível mal de confiar em imagens falsas de si mesmo. Esta é a origem de muitos males.
A verdade sobre Deus nos libertará...
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Santificado seja o vosso nome nesta época de pandemia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU