30 Mai 2020
As árvores de mangues armazenam mais carbono em seus solos se comparadas a outras espécies, o que as tornam ativos valiosos na luta contra o aquecimento global. Elas também diminuem o impacto das tempestades, servem de zonas de reprodução para peixes e outros animais marinhos e constituem eficazes sistemas de filtragem que evitam o influxo de água salina que torna o solo inadequado para a agricultura.
A reportagem é publicada por ONU, 29-05-2020.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), governos e comunidades costeiras de países tropicais estão se sensibilizando cada vez mais sobre o valor dos manguezais para a natureza e os seres humanos.
A biodiversidade é um importante benefício ecossistêmico das florestas de mangue. A comunidade local e o ecoturismo baseado na diversidade biológica dos manguezais podem ajudar na conservação e no manejo sustentável desses ambientes naturais. Os turistas têm diversas opções para conhecer a fauna e a flora desses ecossistemas, como passeios de barco, caiaque, mergulho com snorkel, observação de pássaros e pesca noturna de caranguejos. Em Madagascar, os mangues abrigam lêmures, que estão no grupo de mamíferos mais ameaçados do planeta – e que foram documentados pela primeira vez há poucos anos.
“As florestas de mangue são ecossistemas altamente produtivos e sua conservação deve ser uma prioridade, mas onde os manguezais já desapareceram, a restauração também é possível”, diz o especialista em ecossistemas costeiros e marinhos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Gabriel Grimsditch.
Em 2019, as Nações Unidas fizeram um apelo global para mobilizar o apoio político e financeiro necessário e restaurar os ecossistemas mundiais desmatados e degradados. A Década de Restauração de Ecossistemas da ONU ocorrerá de 2021 a 2030 e intensificará o trabalho para enfrentar a degradação das paisagens — como os manguezais, nossas florestas azuis.
Recentemente, o PNUMA e outros colaboradores, em parceria com o Projeto Florestas Azuis, financiaram projetos bem-sucedidos de captura de carbono de manguezais no Quênia e em Madagascar.
Esses projetos vinculam as florestas de mangue ao mercado internacional de carbono, com o valor deste item sendo direcionado ao plantio e à conservação dos manguezais e oferecendo outros benefícios para as comunidades locais. Atualmente, o PNUMA está estudando como ligar os ecossistemas de ervas marinhas ao mercado de carbono no Quênia.
As experiências nesses países foram apresentadas no Indian Ocean Blue Carbon Hub Inaugural Think Tank, que aconteceu mês passado, nas Ilhas Maurício, por serem os únicos projetos financeiros bem-sucedidos de captura de carbono de manguezais baseados no trabalho de comunidades costeiras. Como resultado, ocorreu o reconhecimento de que a biodiversidade e os outros benefícios desses ecossistemas, incluindo a captura de carbono, são vitais para uma economia saudável e baseada na natureza.
“É importante restaurarmos os mangues, mas quem pagará por isso?”, questionou o Blue Carbon Lead da GRID-Arendal e coordenador do Projeto Florestas Azuis (Blue Forest, em inglês) do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), Steven Lutz. “Estamos estudando como o valor pelo carbono retirado dos manguezais pode estimular florestas saudáveis e meios de subsistência costeiros”.
No Equador, o Projeto Florestas Azuis apoiou a parceria da Conservação Internacional com o governo e as comunidades locais para a criação de acordos de conservação de manguezais. Com o programa Socio Manglar (em espanhol), as comunidades indígenas recebem incentivos econômicos – com base na biodiversidade desses ambientes – para se comprometerem com a conservação e proteção desses ecossistemas. Como recompensa, eles ganham uso exclusivo do aratu-vermelho e do berbigão, pescados muito lucrativos no país.
“A restauração não será alcançada facilmente. Recursos financeiros consideráveis e uma forte participação das comunidades locais a longo prazo são necessários para termos projetos bem-sucedidos”, diz a especialista em ecossistemas marinhos do PNUMA, Isabelle Vanderbeck, que trabalha em estreita colaboração com o GEF em projetos de restauração de manguezais.
Uma resolução adotada pela Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 15 de março de 2019 “encoraja os Estados-membros a investirem em pesquisa, educação e sensibilização da população, a oferecerem capacitações para a gestão sustentável e restauração dos manguezais e ecossistemas relacionados e a pensarem em maneiras de mobilizar os recursos necessários para os países em desenvolvimento”.
A Área Focal de Águas Internacionais do GEF está permitindo que o Projeto Florestas Azuis realize a primeira avaliação em escala mundial sobre como os valores de captura de carbono e outros serviços de ecossistemas costeiros podem ser aproveitados para uma melhor gestão ambiental e construção de comunidades mais sustentáveis – enquanto mitigam, ainda, as mudanças climáticas. O projeto também visa aprofundar conhecimentos para promover tomadas de decisão bem embasadas, gerar conscientização, incentivar a cooperação entre todas as partes interessadas e fornecer experiências e ferramentas para ser aplicado globalmente.
A Década de Restauração de Ecossistemas da ONU 2021–2030, liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e por outros parceiros, como a iniciativa Africa Restoration 100, o Fórum Global de Paisagens e a União Internacional para a Conservação da Natureza, abrange os ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos. Como um apelo global à ação, a Década reunirá apoio político, pesquisa científica e força financeira para incentivar massivamente os esforços pela restauração.
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Saiba como os manguezais nutrem a vida marinha e armazenam carbono - Instituto Humanitas Unisinos - IHU