28 Fevereiro 2020
Paul Krugman é há alguns anos um dos economistas mais bem reputados do mundo, como lhe credita o Nobel recebido em 2008. Porém, agora em sua qualidade de "grilo falante" diante das fake news diárias lançadas por Donald Trump, o guru nova-iorquino tornou-se também um especialista em relação à crise da verdade. Em entrevista concedida à La Vanguardia em razão da publicação do seu livro Contra os zumbis – sobre velhos e falsos mitos da economia –, Krugman crê que hoje em dia “as pessoas se importam menos com as mentiras”.
A reportagem é publicada por La Vanguardia, 19-02-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O pesquisador começa apontando que “todos somos vulneráveis às crenças que nos são convenientes”. E reconhece que ele próprio sucumbiu a essa tentação alguma vez, ainda que, em geral, lute contra isso. “Claro que todos – assinala –, deveríamos resistir a isso, porém o certo é que grande parte do povo não o faz”. E na política é pior: “A ideia de que a honestidade ao enfrentar a realidade é uma virtude parece ter desaparecido da vida pública”, opina.
O abuso da mentira vai sendo difundido e capilarizado. É “assimétrico” na medida em que a verdade importa mais a uns que a outros. E assim, no caso dos Estados Unidos, a veracidade “preocupa mais aos democratas que aos republicanos”.
Qual é a chave para que a falsidade seja perdoada agora muito mais facilmente que até uns anos atrás? “Não está claro. Mas, ao que parece, uma parte importante dos cidadãos acredita em uma verdade superior de cunho político ou religioso e pensam que a mentira não importa se servir a essa verdade mais elevada”, responde o Nobel.
Neste contexto, todos os especialistas ou estudiosos que trabalham com a lógica e os dados estão “na defensiva”, assume Krugman. Porém, os economistas “não podem se queixar” se são comparados aos cientistas do clima e do meio-ambiente, destaca. Pois estes “se encontram em um mundo onde as pesquisas mais certeiras sobre a terra e seu futuro não apenas são ignoradas, mas também perseguidas”. Em suma, estamos em “uma situação onde os piores parecem estrar triunfando”, diz.
Krugman admite que, para fazer frente aos mentirosos, os especialistas precisam mudar sua forma de comunicar. Como? “Frente a tudo, indica, devemos deixar de fingir que estamos mantendo discussões honradas e sinceras”. Por exemplo, sobre os economistas, aponta que “não estamos sendo honestos com o povo se damos a ideia de que os cortes de impostos se pagam e se compensam por si só”, fazendo referência a uma das discussões econômicas mais repetidas em todo lugar.
Em seu livro, um recopilado de artigo publicados na imprensa, Krugman insiste na importância do problema da mudança climática acima de qualquer outra questão. "Como é que não fazemos nada para frear o desastre que sabemos que se aproxima?" Para começar, na sua opinião, “enfrentamos uma catástrofe total e ademais desnecessária”. Um apocalipse que sabemos como evitar e cuja prevenção para um mundo sem emissões contaminantes não custaria muito. E então? Krugman responde: “Se as pessoas são politicamente estúpidas é porque há gente muito interessada em mantê-las assim. Há muito dinheiro para financiar o negacionismo climático. E os meios de comunicação se uniram e deixaram de ser diretos sobre a gravidade da situação”. De acordo com o que defende este Nobel, vivemos sob o império da mentira. Da mentira e da estupidez.
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“Hoje triunfam os piores”, afirma Paul Krugman, Nobel de Economia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU