16 Outubro 2019
Esther Duflo ganhou o Prêmio Nobel de Economia na segunda-feira, 14 de outubro, por seus trabalhos sobre a redução da pobreza no mundo, junto com outros dois pesquisadores. No entanto, há dez anos, quando nosso repórter a visitou em Boston, ela nem sequer cogitava tal feito. Nós publicamos novamente este emocionante encontro com uma pioneira da economia do desenvolvimento.
A reportagem é de Laurent Grzybowski, publicada por La Vie, 14-10-2019. A tradução é de André Langer.
Ela não é do tipo de se fazer notar. A única fantasia em sua roupa é uma pequena cruz huguenote, da qual ela nunca se separa. E quando a encontramos nos corredores da universidade onde ela ensina, realmente não sabemos muito bem se estamos na presença de uma professora ou de uma estudante. No entanto, Esther Duflo é uma estrela no outro lado do Atlântico, onde é considerada a porta-voz de uma “nova onda” de economistas.
Esta normalista de 37 anos dirige o Poverty Action Lab (Laboratório de Ação Contra a Pobreza) no prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge, um subúrbio de Boston. Especialista em economia do desenvolvimento, a jovem estava um pouco solitária quando se embrenhou, há dez anos, nesta disciplina. Reconhecida por seus métodos de trabalho inovadores, ela fez seguidores. “Quando comecei a minha tese, a economia do desenvolvimento como campo de pesquisa era uma matéria muito marginal. Nós éramos apenas cinco na Harvard e no MIT. Hoje, esta linha de pesquisa conta com centenas de estudantes em várias universidades americanas”.
Protegida por sua austeridade protestante, essa ex-escoteira, que nunca recusa a ajuda à sua comunidade reformada, não se deixou intoxicar pela celebridade ou pela mídia. Inteiramente dedicada ao seu trabalho, ela atrai para o seu campo de pesquisa vários jovens estudantes de doutorado. Esther Duflo não se debate com modelos matemáticos abstratos para descobrir se os países ricos devem dedicar 1% ou 5% de sua riqueza para ajudar os países pobres.
Ela vai a campo para medir cientificamente a eficácia dos programas de ajuda ao desenvolvimento. Para ela, “um economista deve estar mais próximo de um encanador do que de um físico que procura expor as grandes leis do mundo. Dada a extensão da pobreza, é tentador desistir ou propor grandes soluções... tão radicais que são impossíveis de serem alcançadas. Nós não temos a chave do fim da pobreza, mas é possível combater melhor os males que ela engendra”.
Para reparar os vazamentos, ela quer agir como um bom artesão: encontrar as melhores técnicas pelo melhor custo, testar o que funciona e o que não funciona. É o que fez na Índia, Quênia, Marrocos, Madagascar e, recentemente, na França. Com uma convicção: “Demonstrar a eficácia de um programa de ajuda é a maneira mais segura de encontrar fundos para lançá-lo”.
A jovem pesquisadora inaugurou, em janeiro passado [de 1999], a nova disciplina criada pelo Collège de France: Conhecimentos Contra a Pobreza. É a oportunidade de encontrar, finalmente, em seu país a audiência que ela já conquistou nos Estados Unidos. Ela não é classificada pela revista americana Forbes entre os 100 intelectuais mais influentes do mundo? Em seis anos de existência, o laboratório que ela dirige já formou mais de 500 líderes de 30 nacionalidades. Bill Gates convidou-a para um almoço. Bono Vox, o cantor da banda de rock irlandesa U2, e o bengali Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2006, inventor do microcrédito, vieram para dar-lhe seu apoio.
O segredo desse “trabalho maluco”, que herdou de sua família um rigor calvinista, reside em sua fenomenal capacidade de trabalho. “Quando menina, ela nunca perdeu um minuto e sempre ia até o final do que estava fazendo”, lembra a mãe. Hoje, são 13 horas diárias de trabalho, 7 dias por semana; e ouvindo música sacra. As cantatas de Johann Sebastian Bach, que ela aprecia acima de tudo, são as suas fontes de inspiração. Seu gosto pela culinária (indiana) e seu apetite pelo esporte ilustram bem suas raízes no mundo real. Entre suas muitas estadias na casa da família de Chamonix, onde pratica caminhadas e escaladas, e sua participação na Maratona de Paris, Esther Duflo não vive nas nuvens.
Sua fibra humanitária e social vem de longe. Da infância e dos anos de escotismo, certamente. De uma primeira viagem a Madagascar, talvez. Do seu compromisso como voluntária nos Restos du Cœur, sem dúvida. Também da família, mais de esquerda: três filhos, um pai matemático e uma mãe médica. Muito envolvida em uma ONG protestante, a Appel, fundada pelo naturalista Théodore Monod, a pediatra viajava duas vezes por ano ao exterior para ajudar crianças vítimas de conflitos. “Nós a deixamos ir por duas ou três semanas, lembra Esther Duflo. O tempo parecia longo, mas foi a nossa contribuição para tornar o mundo mais humano, nos dizia ela. Quando voltava, sempre nos mostrava seus slides. Imagens sobre a miséria que não vou esquecer”.
A jovem discreta e aplicada frequenta a Escola Bíblica e torna-se chefe de alcateia. “Aprendi muito no escotismo: realizar um projeto, trabalhar em equipe, avaliar sua ação... Competências que foram muito úteis para a sequência”. Manter a mente aberta, rejeitar a injustiça, não aceitar as coisas como são, querer tornar o mundo melhor: valores partilhados em família. “A pobreza me assombra há muito tempo. Por que nasci em um país rico? Qual é a minha responsabilidade em relação aos países pobres?, pergunta-se Esther Duflo. Como nunca vou conseguir responder à primeira pergunta, decidi responder à segunda!”
Como boa protestante, ela defende o princípio da responsabilidade individual e desconfia dos dogmas e das ideias abstratas. “O mais importante para mim não é o sentimento religioso, mas o que faço da minha vida. Qual é o meu compromisso real e concreto? Minha ação é eficaz? No mundo das ONGs, podemos fazer muito trabalho sem que isso sirva para alguma coisa. O que importa é o resultado. A boa vontade não é suficiente”. Os altermundistas? “Eles têm boas intenções, mas rapidamente se tornam dogmáticos”.
Mais crente do que praticante, Esther Duflo está preocupada com o papel “às vezes negativo” desempenhado pelas religiões. “Quando o Islã impede as meninas de frequentarem a escola, ou quando as Igrejas cristãs se opõem à educação sexual na África, impedem o desenvolvimento”. Como Théodore Monod, que ela admira, Esther Duflo acredita que “a fé cristã não é apenas um estado de espírito, por mais elevado que seja. Antes de tudo, é uma vontade de agir para criar o mundo que Deus quer”. Esta convicção lhe permitirá receber, como muitos de seus antecessores no MIT, o Nobel de Economia? A ideia não a seduz. Apenas uma coisa conta para ela: continuar, como quando era pequena, a tornar o mundo mais humano.
Com o marido, o economista indiano Abhijit Banerjee, e o americano Michael Kremer, a professora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), 46 anos, vê seu trabalho sobre a redução da pobreza no mundo recompensado pelo Banco da Suécia. As pesquisas dos três laureados “melhoraram significativamente a nossa capacidade de lutar contar a pobreza global, afirma a Academia Real de Ciências da Suécia. Em duas décadas, sua abordagem baseada em experimentos transformou a economia do desenvolvimento, que agora é um próspero campo de pesquisa”.
1972 – Nascimento em Paris.
1992 – Ingressa na École Normale Supérieure.
1999 – Defende a tese de economia no MIT.
2002 – Obtém uma disciplina de economia no MIT.
2003 – Cria o Laboratório de Ação Contra a Pobreza.
2009 – Inaugura a disciplina Conhecimentos Contra a Pobreza, no Collège de France.
2012 – Nomeada para o President’s Global Development Council, um organismo estadunidense encarregado de aconselhar o presidente dos Estados Unidos Barack Obama.
2015 – Diretora adjunta do J-Pal, Laboratório de Ação Contra a Pobreza Abdul Latif Jameel no MIT12.
2018 – Ingressa no conselho científico da Educação Nacional.
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O encontro com Esther Duflo, Prêmio Nobel de Economia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU