19 Junho 2019
Inspirando-se no Evangelho segundo Mateus de Pier Paolo Pasolini para revisitar essa história em termos atuais - neste caso: a nova escravidão dos africanos nos guetos do trabalho italiano - pode ser interessante e ao mesmo tempo arriscado para um diretor com um timbre "forte" como o suíço Milo Rau, que gerou polêmica em mais de uma ocasião provocando "escândalo", mas também perplexidade. Basta lembrar do filme, onde Rau sempre entrelaça, de acordo com seu estilo, teatro civil e cinema, The Congo tribunal, apresentado em Locarno 2018 e reproposto em Matera alguns dias atrás, durante a apresentação do projeto "Novo Evangelho".
A reportagem é de Michele Fumagallo, publicado por il manifesto, 15-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sobre o que Jesus pregaria no século XXI? Quem seriam seus apóstolos hoje? Como o poder reagiria ao seu "retorno"? Pois bem, estas são as perguntas que, em um concorrido encontro em junho, perto da Sassi de Matera, se propuseram diretor e intérpretes (principalmente trabalhadores africanos) dessa nova viagem para dentro das contradições mais agudas do nosso tempo.
Rau (42) nos relata: “Há 15 anos, através de obras teatrais, tenho tratado das contradições da economia global e do papel representado pela Europa. Com o Novo Evangelho, quero unir a crítica à ordem mundial injusta, na qual até a Europa desempenha um papel e o trabalho com os relatos e as biografias de intérpretes amadores. De bom grado usei o Evangelho de Pasolini (de quem eu já havia utilizado seu Salò no teatro) como modelo para essa encenação quando me pediram para fazer algo em Matera. Nas viagens de observação pela cidade fiquei chocado com as condições desumanas dos campos de refugiados e dos trabalhadores das plantações".
Yvan Sagnet (Camarões, 34 anos) é um trabalhador que desempenhará o papel de Jesus. Ele conheceu a exploração bestial e a contratação ilegal em Salento (fundou o movimento No Cap como líder sindical). Ele relata: "Eu gostei imediatamente da ideia deste filme. Uma política que marginaliza as pessoas é absurda. E nem vamos falar quando ele faz isso em nome de Deus. Ver pessoas que vivem na clandestinidade e na escravidão não é admissível em uma nação que se define cristã. Vamos começar em Matera, mas será em Roma o ponto alto do filme. Lá, vamos apresentá-lo e gostaria muito que se tornasse um novo manifesto político”.
O projeto inclui duas apresentações públicas em Matera em 28 de setembro e 5/6 de outubro, uma assembleia pública no Teatro Argentina de Roma em 10 de outubro. Depois a apresentação do filme.
THE CONGO TRIBUNAL (Official Trailer) from MAGNETFILM on Vimeo.
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