Usura: a primeira finança ética inventada pelos monoteísmos

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05 Março 2019

“As religiões abraâmicas faziam uma distinção entre rendimentos financeiros lícitos e ilícitos. Assim, diferenciaram-se progressivamente dos pensadores clássicos, como Aristóteles, que consideravam o dinheiro incapaz de gerar rendimentos.”

A opinião é de Benedikt Koehler, ex-banqueiro e economista, estudioso da economia nas religiões abraâmicas.

O artigo foi publicado no caderno La Lettura, do jornal Corriere dela Sera, 03-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A religião e a economia não parecem ter muito a dizer uma à outra. No entanto, a fragilidade dos sistemas bancários e as crescentes desigualdades na distribuição da riqueza estimularam um amplo debate sobre a ética das economias modernas.

As lideranças da Igreja tornaram-se progressivamente mais explícitos ao enfatizar que as práticas econômicas devem ser não apenas eficientes, mas também éticas. Na realidade, o laço entre economia e religião foi reconhecido desde o início das religiões: os fundadores das três confissões abraâmicas prestaram uma atenção particular à prática da usura.

Moisés, Jesus e Maomé se pronunciaram sobre a amoralidade das práticas de usura. Proibições de cobrar juros sobre um empréstimo aparecem no Livro de Moisés (quatro vezes), no Evangelho segundo Lucas (duas vezes) e no Alcorão (quatro vezes).

Moisés insistia na proibição de pagar juros sobre o empréstimo, enquanto promovia outras medidas, como as práticas de bem-estar, com o objetivo de criar para os israelitas um sistema econômico diferente do de seus vizinhos.

Jesus não era o líder de uma nascente entidade política, mas ele também havia apresentado declarações a esse respeito: aconselhava os seus seguidores a “emprestar sem nada esperar de volta”.

Maomé, por fim, foi não apenas o fundador de uma religião, mas também o chefe de uma comunidade política e muitas vezes teve que julgar disputas comerciais. No Alcorão, a proibição de aplicação de uma taxa de juros pode ser encontrada em quatro das 114 Suras em que ele está dividido.

Seria errado deduzir da proibição de cobrar taxas de juros que as religiões abraâmicas não aprovavam os rendimentos de investimentos financeiros como um todo. Ao contrário, lucrar com os investimentos era lícito, mas sob determinadas condições.

Por exemplo, Moisés especificava as regras para avaliar o preço dos investimentos em terrenos agrícolas, e, no século VIII, o jurista islâmico Malik ibn Anas legislou sobre a participação nos lucros em empreendimentos comerciais.

As religiões abraâmicas, ao contrário, faziam uma distinção entre rendimentos financeiros lícitos e ilícitos. A esse respeito, diferenciaram-se progressivamente dos pensadores clássicos, como Aristóteles, que consideravam o dinheiro incapaz de gerar rendimentos.

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