Na era Francisco, a Eucaristia define conflitos sobre a doutrina

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12 Janeiro 2019

O Papa Francisco é conhecido por não perder muito tempo pensando em disputas ou questões doutrinais.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 10-01-2019. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

O pontífice frequentemente se diverte com teólogos afirmando que de ficarem obcecados por coisas pequenas, ao retomar uma frase que o Patriarca Atenágoras de Constantinopla disse ao Papa Paulo VI, depois de uma reunião histórica, em 1964: "Vamos viver em unidade e colocar todos os teólogos numa ilha para eles debaterem sobre isso!".

Por mais que tente, Francisco não pode fazer os conflitos doutrinais do catolicismo desaparecerem completamente, porque o cristianismo é conhecido como uma religião de "credo", ou seja, a crença tem grande importância. Na realidade, os três últimos anos de seu pontificado foram marcados por um debate doutrinário decisivo, e 2019 pode ir pelo mesmo caminho.

O fascinante sobre esses debates é que todos, de alguma forma, foram a respeito da Eucaristia - sugerindo que, na era Francisco, a teologia eucarística pode ser a divisão doutrinária decisiva.

Sobre a fé pessoal de Francisco na Eucaristia, não há dúvidas.

Durante uma audiência geral em novembro de 2017, por exemplo, ele se referiu a toda celebração da missa como "um raio de luz do sol que é Jesus Cristo Ressuscitado". Em junho de 2018, na tradicional celebração católica de Corpus Christi, o Papa disse que apenas o corpo e o sangue de Jesus Cristo, o alimento da vida, podem satisfazer a fome de amor.

Em agosto do ano passado, Francisco disse que a comunhão era um pedaço do céu.

“Sempre que participamos da Santa Missa, podemos antecipar um pouco do céu na terra de certa forma, porque com o alimento eucarístico - o corpo e o sangue de Cristo - aprendemos o que é a vida eterna", disse.

Apesar da vívida ênfase eucarística, críticos afirmam que Francisco colocou em perigo as crenças católicas tradicionais sobre o Sacramento.

Com o documento Amoris Laetitia, em 2016, o Papa deu espaço a uma feroz discussão interna sobre a abertura cautelosa à comunhão para os católicos que se divorciaram ou casaram fora da Igreja. Embora essa decisão tenha tocado na questão da teologia do matrimônio, entre outras, o núcleo era o fato do que é a Eucaristia e das condições adequadas para recebê-la.

Francisco e seus conselheiros insistiram que a decisão do documento não envolvia qualquer reformulação da doutrina da Igreja, mas algumas pessoas criticaram e disseram que era um repúdio bastante radical ao que já estava estabelecido. De qualquer forma, divergências sobre o entendimento da Eucaristia foram o cerne dos debates.

De forma semelhante, a situação doutrinária mais delicada de 2018 aconteceu na Alemanha, onde cerca de dois terços dos bispos estavam a favor de um conjunto de orientações para abrir a comunhão para os cônjuges protestantes de católicos batizados, pelo menos em algumas circunstâncias.

Apesar da objeção de alguns religiosos alemães, o que forçou o Vaticano a convocar uma reunião para discutir o assunto, Francisco basicamente deixou a decisão a critério da conferência e de seus membros. Com isso, não existe nenhuma norma nacional uniforme atualmente.

Esse debate também foi sobre a natureza da Eucaristia, em parte porque levantou a questão do significado de estar intensamente em "comunhão" com a fé católica.

Embora 2019 tenha acabado de começar, a controvérsia doutrinária deste ano também pode ser a respeito da Eucaristia.

Há boatos de que Francisco possa estar se preparando para uma missa ecumênica com protestantes, particularmente luteranos, com direito a comunhão. Os detalhes foram confiados a um grupo de trabalho. A ideia é que apesar de nuances que possam separar o entendimento católico e luterano da Eucaristia, elas seriam insuficientes para impedir a mútua recepção do Sacramento, pelo menos em certas circunstâncias.

A propósito, esses boatos começaram a circular quando Francisco foi para a Suécia, em outubro de 2016, para celebrar o 500º aniversário da Reforma Protestante, e podem ser imprecisos ou exagerados. Mas o fato de existirem é significativo, em partes pelo que isso diz sobre a percepção das pessoas a respeito à abordagem do Papa a questões eucarísticas.

Por que a Eucaristia virou o centro das atenções das discussões da era Francisco?

Talvez, em parte, porque o Papa herdou uma série de interrogações sobre a Eucaristia e teve de respondê-las. Nesse sentido, talvez não seja tanto uma escolha pessoal, mas sim uma questão que qualquer papa teria de enfrentar.

Por outro lado, a fé na Eucaristia como a presença real de Cristo tradicionalmente é uma pedra angular da identidade dos católicos, uma convicção que os diferencia. Com um Papa que parece tão determinado a tirar o foco das distinções para enfatizar as semelhanças, talvez o surgimento de visões concorrentes da Eucaristia, e especialmente de quem tem direito a ela, não seja surpresa.

No entanto, ainda que às vezes Francisco faça graça das limitações intelectuais ou do pedantismo dos teólogos, a doutrina faz parte da força vital da Igreja Católica, e em seu papado, eles parecem ter muito o que falar, a começar pelos ensinamentos das ações e palavras do Papa sobre o principal Sacramento religioso.

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