13 Dezembro 2018
O vazamento de óleo na Baía de Guanabara, no estado do Rio de Janeiro, ocorreu no pior momento possível para os manguezais afetados.
A reportagem é de Léo Rodrigues e Nielmar de Oliveira, publicada por Agência Brasil, 12-12-2018.
É o que aponta André Esteves, secretário-executivo da organização não governamental Instituto Ondazul, responsável pela gestão do Parque Natural Municipal Barão de Mauá, em Magé (RJ). Segundo ele, os caranguejos estão na época da desova.
“Nesse momento é que se tem a reprodução em alta escala. Então, a contaminação nessa região irá afetar as espécies e trazer uma perda muito grande”, diz. O vazamento teve início na noite de sábado (8) e se originou no Rio Estrela a partir de um duto da Transpetro, subsidiária da Petrobras que atua no transporte e na logística de combustível no Brasil e também em operações de importação e exportação de petróleo e derivados, gás e etanol.
Os pescadores e catadores de caranguejo contaram à reportagem da Agência Brasil que estão evitando sair de casa. “Nós acabamos de enfrentar dois meses de defeso e estaríamos entrando agora no período de reprodução. No caso dos caranguejos, estamos a poucos dias do início do período de desova, mas como e aonde colocar as ovas se está tudo contaminado pelo óleo?”, diz o presidente da Federação dos Pescadores do Rio de Janeiro (Feperj), Luiz Cláudio Stabile Furtado.
“O pessoal tá evitando sair para pescar porque em um primeiro momento suja a rede. Depois, vem a parte da comercialização: ninguém quer comprar peixe da região porque alegam que está contaminado, ou então quer jogar o peixe pra baixo porque o peixe está sujo de óleo”, acrescentou o pescador.
De acordo com a Transpetro, cerca de 60 mil litros escoaram em direção à Baía de Guanabara. A causa do acidente foi atribuída a uma tentativa de roubo de óleo, danificando o duto. Em nota divulgada nesta manhã, a Transpetro afirmou que 79% do óleo já foram recolhidos.
O Parque Natural Municipal Barão de Mauá fica próximo ao encontro do Rio Estrela com a Baía de Guanabara. Ele foi criado em 2012, quando um decreto da prefeitura de Magé transformou em unidade de conservação a área de mangue que vem sendo recuperada pelo Instituto Ondazul. A região foi uma das mais afetadas pelo derramamento de óleo que ocorreu em 2000 e ganhou repercussão internacional. Na época, imagens de aves com o corpo coberto por óleo circularam por todo o mundo e os trabalhos de recuperação ambiental em Magé mobilizaram diversas entidades que atuaram sob a liderança do Instituto Ondazul.
André Esteves avalia que, diante deste novo vazamento, a Transpetro agiu rápido, mas considera que o “estrago foi feito”. Segundo ele, o óleo não alcançou a área onde ocorre o trabalho mais intenso de reflorestamento, mas atravessou as barreiras de contenção e atingiu populações de caranguejos. Ele destaca ainda a preocupação socioeconômica. Para Esteves, haverá grandes prejuízos para os pescadores e para os catadores de caranguejos.
“Apesar de todas as providências que foram rapidamente tomadas para a contenção do vazamento, já tinha chegado no mangue. Ainda não dá para ter uma ideia precisa dos danos. Claro que estamos falando de um acidente ambiental infinitamente menor do que ocorreu em 2000. Estão dizendo que vazou em torno de 60 mil litros. Em 2000, foi 1,3 milhão de litros”, avalia o secretário-executivo do Instituto Ondazul.
Em agosto, a Agência Brasil visitou o Parque Natural Municipal Barão de Mauá e mostrou os resultados já alcançados pela recuperação passados mais de 18 anos do acidente de 2000. Já foram reflorestados 90 dos 116 hectares do manguezal e é possível encontrar árvores com cerca de 20 metros de altura. As populações de caranguejos se restabeleceram e estão distribuídas entre mais de dez espécies diferentes. Aves e mamíferos comuns em manguezais também voltaram a habitar a região.
Os técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) estão avaliando os danos ambientais na área. Uma equipe especializada está atuando na contenção e mitigação de danos.
Segundo o órgão, somente após a conclusão do levantamento, será possível estipular valor de multa e responsabilização. O Inea informou que uma equipe sobrevoou a Baía de Guanabara, nesta segunda-feira (10), e constatou que as Ilhas de Paquetá e Brocoió não foram atingidas pelo vazamento.
No entanto, informou que parte do óleo vazado contaminou o solo e o Rio Estrela.
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Vazamento de óleo na Baía de Guanabara afetará reprodução da fauna em mangue - Instituto Humanitas Unisinos - IHU