"O pessoal não aceitou acordo, a greve continua"

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29 Mai 2018

Ao contrário do que o governo tem dito sobre a greve dos caminhoneiros, que está no oitavo dia, o segundo acordo com a categoria não deve colocar fim à mobilização tão cedo. A opinião é do presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, para quem os condutores de caminhão paralisados Brasil afora não querem medidas provisórias e medidas negociadas com o Congresso, mas sim a imediata redução do preço dos combustíveis na bomba.

A reportagem é de Fábio Góis, publicada por Congresso em Foco, 28-05-2018.

Para José Araújo, que responde por centenas de milhares de caminhoneiros, a situação ainda é de paralisia na atividade e de disposição para a mobilização. “Está praticamente tudo parado ainda. O pessoal não aceitou o acordo”, disse José Araújo ao Congresso em Foco, explicando que são muitos os posicionamentos entre os milhares de caminhoneiros ainda mobilizados Brasil. Ele diz estar difícil até reunir informações sobre o quadro grevista, dada a inabilidade do governo nos primeiros dias de negociação com os grevistas e a multiplicidade de reações.“É complicado, sabe? Difícil até a gente dar entrevista. Eu participei das reuniões da semana passada. Ontem [domingo], não fui convidado e não participei. Esse acordo que foi feito ontem, das três medidas provisórias, ninguém está respeitando não. Os caras querem que reduza mais [o preço] do óleo diesel. A situação é complicadíssima”, acrescentou.

Falando de São Paulo com a reportagem, José Araújo diz estar em linha direta com 15 pontos de concentração espalhados pelo país. O dirigente passou boa parte da semana passada em Brasília, onde participou de reuniões na Casa Civil e não assinou, a exemplo do presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, a primeira proposta de acordo apresentada pelo governo.

“Ninguém quer voltar ao trabalho, não. Falaram que esse não é o acordo que fizeram [internamente], não estão satisfeitos. Fica difícil até falar para vocês [imprensa]. Está muito difícil mesmo. Estou aqui na capital [SP], não tem gasolina. Eu rodei e não achei gasolina, muito raro achar um posto que tenha. As entregas de gasolina estão sendo mais para empresas de ônibus e assim por diante”, relatou.

Ele disse ainda que a insatisfação da categoria permanece mesmo depois de alguns grupos terem conseguido, em reuniões neste domingo (28), garantias como redução dos impostos sobre o diesel e do preço do frete e a não cobrança de pedágio para caminhões sem carga. Desde então, o presidente da Abcam tem dado entrevistas sobre o acordo e dito que boa parte dos caminhoneiros se desmobilizou. Segundo a entidade, a expectativa é que a greve esteja totalmente desmobilizada até amanhã (29), algo que não combina com o que diz o colega José Araújo.

“Está tudo bagunçado. É muita liderança querendo falar. Um fala uma coisa, outro fala outra. A categoria já está se revoltando com os próprios representantes. Isso fica mal para quem trabalha sério. Eu trabalho direito, sério, mas quando se fala em sindicato envolve o nome de todo mundo. Quando se fala em sindicato pelo meio, fica pior ainda. Porque, queira ou não queira, não pode existir uma categoria em que todo mundo manda. Tem que haver uma regra, quem responda por eles”, pondera.

Redução na bomba

Para o presidente da Unicam, a receita para o fim da greve é simples: “Eles [caminhoneiros] querem que seja reduzido o preço do diesel na bomba. E não o que vai acontecer daqui a 30 dias, 60 dias. Não tem um posto que mudou [o preço] e disse que daqui em diante o preço vai ser ‘x’. Eu fiz um cálculo aqui sobre aquela medida de [redução] 46 centavos: em mil quilômetros, a economia é de 170 reais no frete. Não dá em nada, não muda nada. Eles não vão ganhar nada no mês”, reclama.

Ainda segundo o dirigente, criou-se uma polêmica no âmbito da própria categoria, pois não há um discurso unificado sobre a greve. Nesse sentido, ele lembra que representantes das empresas transportadoras tomaram a frente das negociações da semana passada, e por isso não assinou o acordo segundo o qual a paralisação seria suspensa por 15 dias. “Eu sabia que não ia voltar, como não voltou. Aliás, aumentou [a adesão à greve]. Eu fiz o certo. Está aí a prova. Do mesmo jeito que estava parado de manhã está agora”, acrescentou.

José Araújo comentou ainda a postura do presidente da Petrobras, Pedro Parente, em não modificar a política de preços dos combustíveis, que se baseia na variação do preço internacional do petróleo e do câmbio. Nesse sentido, completa o dirigente, o próprio presidente Michel Temer dá demonstrações de fragilidade.

“Mantém-se o Pedro Parente fazendo uma anarquia dessa toda e está lá, belo e folgado. E o governo ainda apoiando! O Temer seria um secretário dele. O Pedro Parente está mandando. Acho que tem que mudar a política de preços. Tem que mudar, sim! Agora, deixá-lo lá [na Petrobras] com um rombo de cinco bilhões de reais, se não me engano… É um absurdo um negócio desses. E não é só o diesel. E a gasolina? E os derivados? Tem que mudar todo o sistema, se não nossa categoria não vai parar com muita facilidade, não”, vaticinou.

Depois de dias de negociação, governo e lideranças grevistas fecharam acordo para reduzir em R$ 0,46 o litro do óleo diesel. Desse total, R$ 0,16 serão obtidos por meio da eliminação da cobrança da Cide (R$ 0,05 sobre o litro do combustível) e do PIS/Cofins (R$ 0,11) até o fim do ano. Os R$ 0,30 restantes serão subvencionados pelo Tesouro, em pagamentos compensatórios à Petrobras e outras empresas que vendem o combustível, inclusive os importadores.

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