12 Fevereiro 2018
“Um fracasso moral.” É assim que Penny Mordaunt, ministra britânica para a Cooperação Internacional, define o escândalo sexual que atingiu a Oxfam, uma das maiores organizações humanitárias do mundo. Enviados ao Haiti para as operações de socorro do devastador terremoto de 2010, que provocou mais de 300 mil mortes na ilha caribenha, alguns de seus funcionários organizavam encontros com prostitutas, talvez até menores de idade, e “orgias ao estilo Calígula”, como revelado nos últimos dias em uma reportagem investigativa do jornal The Times.
A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada no jornal La Repubblica, 11-02-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nesse domingo, os jornais ingleses ampliam as acusações também a outras associações de beneficência. O Sunday Times relata que, em 2017, a própria Oxfam teria se envolvido em 87 episódios de “comportamento impróprio” por parte do seu pessoal em missão ao exterior, 53 dos quais foram denunciados à polícia, com 20 empregados demitidos, revelando que a organização Save the Children está envolvida em 31 casos desse tipo (10 denunciados às autoridades), e a Christian Aid, em dois.
O Guardian escreve que a Oxfam já havia sido denunciada por causa de relações da sua equipe com jovens prostitutas em 2006 no Chade, onde o chefe da missão também era Roland van Hauwermeiren, depois forçado a renunciar por causa das festas no Haiti. E até mesmo a Cruz Vermelha britânica admite cinco casos de suposta violência sexual ocorridos no Reino Unido. Com uma mão, ajudavam, com a outra, abusavam.
O mundo das ONGs e das campanhas humanitárias, muitas das quais têm seu quartel general em Londres, também acabou no furacão das acusações de abuso sexual, que, tendo começado no cinema de Hollywood, fez vir à tona comportamentos semelhantes em vários setores da sociedade britânica, da política à City.
Um escândalo agravado por acusações de “cover up” [acobertamento] na Oxfam, suspeita de ter mantido às escondidas as renúncias dos empregados envolvidos, alguns dos quais puderam, assim, encontrar trabalho novamente em outras agências humanitárias.
Embora negando os encobrimentos, a Oxfam reconhece que os comportamentos de “uma pequena parte” de seus empregados foram “vergonhosos”.
Mas a admissão não parece suficiente, como assinalam as palavras da ministra da Cooperação Internacional, departamento do qual a Oxfam recebeu, no ano passado, 32 milhões de libras esterlinas de financiamento público.
Nesta segunda-feira, está agendado um encontro com a cúpula da organização humanitária em Downing Street: o governo ameaça cortar suas contribuições. “Eu lhes darei a oportunidade de me dizerem pessoalmente o que fizeram após esses eventos e verei se demonstram ter as qualidades morais que eu acho necessárias a eles”, afirma a ministra Mordaunt. “Se não fornecerem todas as informações que têm sobre o caso, não trabalharemos mais juntos.”
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Escândalo sexual na Oxfam: ''Um fracasso moral'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU