10 Julho 2017
Há relatos contraditórios sobre quantos sacerdotes na diocese nigeriana de Ahiara atenderão ao pedido do Papa Francisco de enviar uma carta de obediência até domingo. Muitos dos sacerdotes que estão enviando cartas ainda insistem que o clero da diocese está sofrendo discriminação pela Igreja no país.
A reportagem é de Inés San Martín e Charles Collins, publicada por Crux, 07-07-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Até o prazo de 9 de julho, é difícil dizer como terminará o impasse na diocese de Ahiara na Nigéria. O papa Francisco ameaçou suspender todos os sacerdotes que não lhe escreverem uma carta pedindo desculpas por não terem aceito o novo bispo, Peter Ebele Okpaleke, nomeado em 2012, e que ainda não pôs os pés na cidade.
Para quem não conhece a história, resumidamente, o argumento de quem rejeita a nomeação do bispo de Ahiara é que a diocese tem um número muito alto de vocações para o sacerdócio, conhecidos por terem alto grau de instrução e serem bons ministros, mas ignorados nas nomeações a bispo.
Eles também acusaram a hierarquia local de corrupção, de favoritismo e de discriminação, com a cooperação de alguns funcionários do Vaticano.
Na verdade, o Crux recebeu uma mensagem de várias fontes que chegava a pedir a renúncia do papa Francisco.
É importante salientar que nem todos se opõem ao bispo, e há pessoas que foram para uma diocese vizinha, onde está Okpaleke, para comparecer à missa celebrada por ele e demonstrar apoio.
Muito sobre a situação não se sabe com certeza: há dúvidas inclusive sobre o número de sacerdotes envolvidos. De acordo com a edição de 2017 do Annuario Pontificio, o livro de estatísticas do Vaticano, existem 114 sacerdotes seculares na diocese e 14 de ordens religiosas.
No entanto, alguns clérigos em Ahiara dizem que a diocese tem 700 sacerdotes, embora isso inclua sacerdotes ordenados para outras dioceses e pertencentes a ordens religiosas, mas que não atuam na diocese.
Também há relatórios conflitantes sobre quantas pessoas enviaram a carta ao papa: o Fórum da Mbaise Catolics - um site pró-Okpaleke - afirma estar atualizando o total acumulado e informou no dia 7 de julho que 157 sacerdotes enviaram (o site também afirma que há 201 sacerdotes na diocese).
Uma carta a que o Crux teve acesso, enviada aos sacerdotes da diocese pelo cardeal John Onaiyekan, arcebispo de Abuja e atual Administrador Apostólico de Ahiara, os lembra de que "o mês de graça, concedido por Sua Santidade... está chegando ao fim".
Na carta de 3 de julho, Onaiyekan diz ao clero que falou com o papa sobre a situação na diocese durante o consistório de 28 de junho e "garantiu a ele que, com suas orações e a graça de Deus, tudo ficará bem".
"O Papa ofereceu total perdão por todos os atos de omissão e comissão", diz a carta. "Ele espera abranger a todos com um novo espírito [de] lealdade e comunhão. Continuamos nossas fervorosas orações para que o Espírito Santo guie a todos no caminho da plena comunhão com a Igreja Cum et sub Petro"[ênfase no original].
Onaiyekan orienta os sacerdotes a enviarem cartas originais e assinadas, via carta registada ou pelo serviço de correio, para a embaixada do Vaticano em Abuja.
O padre David Ihenacho disse ao Crux que ele enviou uma carta de desculpas ao papa, mas disse que existe uma injustiça "multifacetada" em Ahiara. "A diocese é conhecida por ter sacerdotes com maior nível de instrução da Nigéria. Como é que nenhum é qualificado o suficiente para se tornar bispo?”, escreveu.
"O motivo é a discriminação. E os sacerdotes não são considerados qualificados para liderar a diocese de Ahiara. Isso é injustiça pura", disse Ihenacho. Apesar disso, o padre disse que sua carta ao papa expressava sua "vontade de aceitar quem quer ele envie e que tenha designado como meu bispo".
Ihenacho disse que todos os sacerdotes na diocese obedecerão porque "sabemos que o Santo Padre não brinca com ameaças de sanção".
Outro padre, Evaristus Mbata, escreveu para Crux afirmando que "nossa lealdade ao [Papa Francisco] não pode ser comprometida de forma alguma".
Mbata disse que ele também escreveu a carta solicitada, mas insistiu que o clero e as pessoas da diocese façam um "apelo discreto" ao Vaticano frente à nomeação de Okpaleke, e afirmou que membros da hierarquia nigeriana bloquearam essa ação.
Esta é uma queixa constante em Ahiara: que certos grupos étnicos estão controlando as nomeações episcopais no país e o povo rural de Ahiara é menosprezado, apesar do grande número de vocações.
"O ponto de discórdia não é obediência ou desobediência ao Papa, mas a luta contra a conspiração de estruturas institucionalizadas de corrupção organizada e favorecimento na Igreja nigeriana que se estende ao Vaticano", afirmou o padre Ben Ogu em uma mensagem para o Crux.
"Pode-se imaginar como é a situação e quais são as conseqüências para uma diocese rural considerada como pária de ser vista como desafiando uma instituição que conquistou o poder por meios incontestados por anos", disse ele.
Mas além das fontes diretas, nem sempre fáceis de ter acesso, a mídia local não é confiável. Por exemplo, dizem que 3.000 pessoas saíram às ruas para protestar contra Okpaleke no sábado, mas um jornal noticiou antes de o evento acontecer, levantando suspeitas de que os jornais locais imprimiram um comunicado de imprensa antes de o evento agendado ocorrer. O Fórum Mbaise Catolics afirmou que o protesto não aconteceu.
E também noticiou que o governador local do estado de Imo, Rochas Okorocha, encontrou-se com os sacerdotes e disse-lhes para se submeterem à vontade do papa, ou "a igreja será alvo de piada".
Outro relatório de imprensa afirma que uma carta de protesto assinada por centenas de clérigos e sacerdotes da diáspora de Ahiara será apresentada ao papa no sábado, um dia antes do término do prazo.
Ninguém sabe o que realmente acontecerá quando o prazo se encerrar no domingo, ou se Okpaleke finalmente poderá entrar na diocese, depois de cinco anos de exílio.
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O prazo do ultimato do papa para a diocese da Nigéria se aproxima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU