03 Junho 2017
Neste sábado, 3 de junho, em Milão, por ocasião das celebrações pelo 500º aniversário da Reforma Protestante, a Federação das Mulheres Evangélicas na Itália (Fdei, na sigla em italiano) promove um encontro intitulado “Falar com uma língua livre. Qual o espaço para as mulheres na Reforma?”.
A reportagem é de Gian Mario Gillio, publicada por Riforma, 01-06-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fizemos algumas perguntas para a pastora valdense da Igreja de Milão, Daniela Di Carlo, copromotora do evento e de toda a iniciativa que, a partir deste sábado até o dia 4 de junho, levará a Milão um dos mais importantes festivais celebrativos: “500 anos da Reforma Protestante 1517-2017”.
A 500 anos da afixação das 95 teses de Lutero na porta da igreja do castelo de Wittenberg, muito se sabe sobre o caminho da Reforma ocorrido na Alemanha, na França e na Suíça, mas não tanto, e tão profundamente, sobre o que ocorreu na Itália. É correto falar também de uma Reforma Protestante italiana?
Certamente podemos falar de uma Reforma Protestante na Itália, embora não com os tons triunfalísticos que podem ser usados para definir o que aconteceu em outras partes da Europa. Mas sentimos o dever de atribuir grande reconhecimento àquelas mulheres e àqueles homens que aderiram ao movimento valdense e que, com profunda coragem, ainda na Idade Média, precisamente no século XII, primeiro em Lyon – e depois da excomunhão ocorrida pelo Papa Lúcio X em 1184 – pregaram o evangelho em muitas partes da Itália, particularmente no Piemonte, Lombardia, Puglia e Calábria.
No século XVI, depois, surgiram círculos culturais de grande destaque, embora pequenos, formados por aqueles que se reconheciam naquilo que estava acontecendo nos países tocados pela Reforma luterana, calvinista, zuingliana e, por outro lado, pela Reforma radical composta por aqueles que, embora encontrando a necessidade de um pensamento reformado, não se reconheciam nas Igrejas dos principais reformadores. Olhares diferentes, mas que contribuíram para a criação daquele protestantismo pluriconfessional do qual somos filhas e filhos hoje.
A mutação religiosa e social determinada pela Reforma Protestante contribuiu, de modo relevante, para mudar o lugar das mulheres na Igreja, mas também para lhes dar uma nova consciência, produzindo outras mudanças também na família e na sociedade. Pode-se falar de um novo protagonismo feminino?
Sim. A Reforma lançou as bases, ao longo do tempo, para garantir significativas e profundas liberdades para as mulheres. Cada movimento nascido, embora de maneira diferenciada, da Reforma contribuiu para a mudança da sociedade e da elaboração teológica. Em particular, a ideia de um ministério universal favoreceu essa elaboração, um verdadeiro caldeirão de ideias, que possibilitou e favoreceu, nos anos seguintes, a consagração pastoral das mulheres.
Quais foram as mulheres mais influentes, que depois se tornaram ponto de referência na Europa e na Itália, e que souberam dar fôlego e dar continuidade ao caminho iniciado por Lutero?
Não só por Lutero, mas também por Calvino. De fato, pensemos em Renata da França, que se mudou em 1528 para Ferrara e que decidiu abrir as portas da sua casa para a frequentação de intelectuais, e nas trocas culturais geradas pela Reforma, cujos protagonistas, por isso, foram perseguidos e que obtiveram asilo justamente dela. O próprio Calvino se apresentou a ela e se tornou o seu guia espiritual. Conservamos ainda hoje a densa correspondência que permaneceu constante, mesmo após do seu retorno a Genebra.
Também em Ferrara, encontramos Olimpia Fulvia Morata, que contribuiu para o nascimento de uma pequena célula protestante constituída por refugiados provenientes da França, mas também de intelectuais italianos processados e condenados pela Inquisição por causa das suas ideias religiosas. Não podemos esquecer, ainda, Vittoria Colonna, que, em Nápoles, abraçou com outras e outros, como Marcantonio Flaminio, Jacopo Bonfadio, Scipione Capece, Bernardino Ochino, Pietro Martire Vermigli, Galeazzo Caracciolo, Gian Francesco Alois, Pietro Carnesecchi, Isabella Bresegna Monrique, Caterina Cibo, o pensamento reformado de Juan de Valdes que divulgou e elaborou os escritos e, assim, o pensamento de Lutero.
No título escolhido para o encontro deste sábado, em Milão, e do qual você vai participar, está contida a pergunta explícita: qual o espaço para as mulheres na Reforma? Podemos acrescentar: hoje?
Naturalmente, hoje as mulheres ocupam um espaço cada vez mais apreciado nas Igrejas filhas da Reforma Protestante. O gênio, o pensamento das mulheres está em ação agora, basta vê-lo entre os encargos que elas desempenham, nas Uniões Femininas, na Fdei, na Igreja em geral. As mulheres trazem uma atenção particular em relação à linguagem para se dizer “Deus” hoje. Um Deus que seja inclusivo não só para as mulheres, mas também para aqueles e aquelas que foram postos às margens das Igrejas. As mulheres protestantes hoje mantêm viva a atenção e combatem a violência de gênero. Justamente, na tarde dessa sexta-feira, temos previsto, no âmbito das celebrações pelo 500º aniversário, uma “bula do silêncio”, ideia simbólica para denunciar publicamente toda violência sexual. Um trabalho das mulheres que mudou radicalmente a ideia de Igreja no passado e continua a fazê-lo hoje, na tentativa de construir uma Igreja que se apoie na Palavra e na justiça de Deus.
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Qual o espaço das mulheres na Reforma? Entrevista com Daniela Di Carlo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU