16 Mai 2017
“Um dia, eles vão me matar. Estou certa disso.” E assim foi. No dia 10 de maio, mais uma vítima se somou ao rosário dos inúmeros mortos no México. Miriam Elizabeth Rodríguez Martínez foi morta com um tiro na cabeça em San Fernando, no Estado de Tamaulipas.
A reportagem é de Nicola Nicoletti, publicada no jornal Avvenire, 13-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Miriam era a mãe de uma desaparecida, Karen, uma moça sequestrada em 2012, e cujos restos a própria mãe conseguiu recuperar em uma vala comum depois de dois anos de investigações esgotantes. Desde então, graças às suas buscas e também às investigações das forças policiais, foram identificados e presos os autores do crime. Um deles, recentemente, tinha conseguido fugir, e a vida de Miriam encontrou-se em perigo.
Aos 50 anos, trabalhadora do comércio, com uma força de vontade extraordinária, Miriam tinha se tornado ativista depois do desaparecimento da filha. O “Coletivo Desaparecidos de San Fernando”, o grupo fundado e liderado por ela, conta com cerca de 600 pessoas ativas na denúncia e na busca dos desaparecidos.
A mulher era uma referência para todo o Estado de Tamaulipas, um dos mais atingidos por esse crime. Muitos restos de homens e mulheres foram recuperados graças ao seu trabalho para dar uma sepultura digna e pôr fim às angustiantes buscas dos familiares.
Depois da fuga da prisão de um dos sequestradores da filha, ela havia pedido proteção por estar ameaçada. Ela sabia que a sua vida estava seriamente em perigo por causa das contínuas denúncias feitas pelo coletivo. Diversas organizações, incluindo o escritório mexicano do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, pediram que as autoridades investigassem, para que o homicídio não fique impune.
O padre Alejandro Solalinde, amigo de longa data da “mãe dos desaparecidos”, não esconde a sua dor e a sua raiva: “As autoridades não a protegeram. Assim como não protegem os sacerdotes, os jornalistas, os ativistas pelos direitos humanos, todos nas mãos da violência dos narcotraficantes”.
A triste coincidência é que, em 10 de maio, no dia em que o México celebra o Dia das Mães com desfiles, bailes e almoços, em que, nas escolas, com os violões, cantam-se “rondallas” e serenatas para as mães, essa mãe corajosa, que fazia ouvir a sua voz até mesmo nos Estados Unidos, foi brutalmente assassinada.
No próprio Dia das Mães, a comunidade das mãos dos desaparecidos havia desfilado na capital mexicana. A Igreja do grande país latino-americano acompanhou o pedido de justiça das famílias dos desaparecidos. Os responsáveis da Fundec e da Vida, duas associações ativas na denúncia das violações dos direitos humanos, também organizaram uma marcha no centro da cidade, antes de iniciar a viagem à Cidade do México para gritar a sua dor e a sua indignação aos mais altos cargos institucionais.
Exigir justiça e verdade do Estado, acompanhar aqueles que querem procurar os seus entes queridos é a sua missão. “Um dia triste: não há nada para festejar para nós no Dia das Mães”, disseram à imprensa. “As pessoas precisam entender que nós existimos e continuamos exigindo os nossos direitos.”
A passeata na capital começou no Monumento à Mãe chegando ao Anjo da Independência. Cerca de 40 associações de desaparecidos vieram de todo o país. Uniram-se a elas outras 35 associações pelos direitos civis. “Não há nada para se celebrar hoje, Dia das Mães. Acompanhamos aqueles que exigem justiça e verdade. Não se pode viver em uma sociedade em que se desaparece. Não só os familiares dessas pessoas desapareceram. Desaparecem também as instituições, as experiências. As histórias das famílias”, explicaram os manifestantes.
“Eles não querem ouvir o sofrimento. Como Igreja, ouvimos a dor daqueles que exigem justiça”, explicou o padre Rafael Lopez. “Rezamos por isso. São mulheres fortes, que ensinam a nós, Igreja, a não perder a esperança e a sensibilidade.”
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México. "Mãe dos desaparecidos" é assassinada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU