27 Abril 2017
O jornal Corriere della Sera, 26-04-2017, publicou trechos do discurso proferido durante a cerimônia dessa terça-feira, 25, por Etienne Cardiles, o companheiro do policial francês morto, Xavier Jugelé. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Xavier, na quinta-feira de manhã, como de costume, eu saí para ir trabalhar, e você ainda estava dormindo. Trocamos mensagens durante o dia sobre a nossa próxima viagem. Você começou o serviço às 14 horas, naquele uniforme de protetor da ordem do qual você cuidava tanto, porque o seu aspecto devia ser impecável. Você e os seus colegas deviam chegar à delegacia do VIII arrondissement para garantir a segurança do público naquela bela avenida dos Champs-Elysées.
Naquele lugar, aconteceu o pior, para você e para os seus companheiros. Você foi embora de um golpe, e eu agradeço por isso à sua estrela da sorte. Os seus companheiros ficaram feridos, um deles gravemente, e estão se recuperando. Estamos todos aliviados com isso.
Eu voltei para casa à noite sem você, com uma dor extrema e profunda, que talvez se aplacará um dia, eu não sei. Essa dor me deu a sensação de estar mais perto do que nunca dos seus companheiros que sofrem, como você, silenciosamente, como eu, silenciosamente.
E, quanto a mim, eu sofro sem ódio. Tomo emprestada essa fórmula de Antoine Leiris, cuja imensa sabedoria diante da dor tinha despertado de tal forma a minha admiração que eu li e reli aquelas linhas, há alguns meses. É uma lição de vida que me fez crescer e que, hoje, me protege.
Quando apareceram as primeiras mensagens informando os parisienses que um incidente grave estava em andamento nos Champs-Elysées e que um policial tinha perdido a vida, uma vozinha dentro de mim me disse que era você, Xavier. E me lembrou aquela fórmula generosa e salvífica: você não terá o meu ódio.
Esse ódio, Xavier, eu não tenho, porque não se assemelha a você, porque não corresponde em nada àquilo que fazia bater o seu coração, nem àquilo que tinha feito de você um guardião da paz.
Porque o interesse geral, o serviço aos outros e a proteção faziam parte de você. Porque o diálogo, a tolerância e a temperança eram as suas melhores armas. A você, eu gostaria de dizer que você vai ficar no meu coração para sempre. Eu te amo. Continuemos todos dignos, zelemos pela paz e conservemos a paz.
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"Você ficará para sempre no meu coração": a homenagem do companheiro do policial francês morto em um atentado terrorista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU