08 Dezembro 2016
"Os índices assustadores de violência confirmam a tragédia na qual nos encontramos. Resta-nos esperança? Sim, esperança. Não a confundamos com expectativa. A expectativa é passiva. A esperança é ativa", escreve Reginaldo Andrietta, bispo diocesano de Jales, em artigo que publicamos a seguir.
Eis o artigo.
“O que você quer ganhar no Natal, este ano?” As respostas dadas por 70 crianças e adolescentes de uma entidade socioeducativa de Jales, nos últimos dias, surpreendeu as educadoras que lhes dirigiram essa pergunta e tem emocionado quem toma conhecimento do que disseram. A maioria disse que queria uma cesta básica, pois, como afirmou uma dessas crianças, “em casa está faltando tudo, até mesmo comida”.
Como celebrar o Natal no Brasil, hoje, sabendo que o país vive situações sociais alarmantes? Os desempregados ainda são milhões. Muitos têm emprego informal, sem garantia de direitos. A violência cresce, até mesmo nas escolas. Os professores são mal remunerados. Os hospitais continuam precários e superlotados. Os ecossistemas são destruídos. A disparidade de renda é grande. O acesso à alimentação, à habitação e à terra é restrito. Movimentos sociais que lutam por direitos da classe trabalhadora são reprimidos.
Os índices assustadores de violência confirmam a tragédia na qual nos encontramos. Resta-nos esperança? Sim, esperança. Não a confundamos com expectativa. A expectativa é passiva. A esperança é ativa. Para compreendê-la, comparemos com uma mulher grávida. Todo o seu ser vai se transformando em vista do novo ser que ela gera. Amando-o ela se engaja. A esperança é assim, nos encoraja, nos compromete com a novidade que desejamos.
Qual Natal desejamos e nos comprometemos, então, celebrar? O Natal da futilidade ou da fraternidade? O Natal da ganância ou de ações em favor dos socialmente excluídos? O Natal da extravagância ou da convivência saudável? O Natal dos homicídios ou do respeito à vida? O Natal da corrupção ou da honestidade? O Natal dos vícios ou da sobriedade? O Natal mercantilista ou humanista? O Natal dos analfabetos políticos ou dos cidadãos conscientes e responsáveis? O Natal de todos os desejos ou do que é essencial?
O essencial, sem dúvida, é Jesus Cristo. É seu Natal que celebramos. Saibamos, pois, distinguir o que é verdadeiro e o que é fútil na forma que o Natal é comemorado. Inspiremo-nos, para isso, na exortação do apóstolo Paulo: “Não vos conformeis com as estruturas deste mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,2).
Celebremos, pois, o Natal como um novo nascimento, aprendendo com as crianças e os adolescentes, a desejar o que é, na realidade, necessário; aprendendo também com os mais calejados na vida, a lutar pelo que é justo. Que tal, então, engajarmo-nos para que todos recebamos a tão sonhada cesta básica, por exemplo, do trabalho em condições dignas, de gestões econômicas e políticas incorruptíveis, da sustentabilidade ambiental e do desenvolvimento humano integral?
Renovemos, pois, nosso engajamento com o aniversariante, festejado no Natal, de gestar uma coexistência humana realmente justa e fraterna. Que nossos projetos pessoais e sociais correspondam ao que celebramos no Natal. Que esse Natal seja, portanto, digno de um novo nascimento. Assim como “o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz” (Mt 4,16), que nossa luz seja Jesus. Ele, sim, nos conduz pelos caminhos da justiça e da paz.
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Qual Natal queremos celebrar? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU