02 Setembro 2016
O pedido de vários grupos sociais e dos cidadãos organizados foi ouvido pela Diocese de Riobamba. O mural que representa a vida e obra de dom Leonidas Proaño retornará à Catedral, de onde foi retirado há sete meses.
Réplica do mural de Leonidas Proaño (Foto: Elizabeth Maggi/El Telégrafo)
A reportagem é publicada por El Telégrafo, 01-09-2016. A tradução é do Cepat.
A decisão de retirar o mural foi tomada por dom Julio Parrilla, bispo de Riobamba, que argumentou que tomava tal atitude por duas razões: a primeira focava “na umidade que existia na parede da Igreja, que poderia prejudicar a obra”, e a segunda fazia referência à remodelação do Centro Pastoral, lugar para o qual o mural seria transferido.
“Essa era a casa de dom Leonidas Proaño, sempre me interessei em preservar sua memória, por isso se destinou uma área para recordar sua obra, inclusive com seus objetos pessoais”, indicou Parrilla.
No entanto, esta explicação não satisfez dezenas de pessoas que protestaram nas ruas. Outras demonstraram seu descontentamento através das redes sociais.
Inclusive o próprio autor da obra, Adolfo Pérez Esquivel, solicitou a Parrilla uma explicação sobre a mudança do quadro, em uma carta que El Telégrafo teve acesso. Na carta, o Prêmio Nobel da Paz comenta o momento em que se inspirou para criar o mural dos mártires e profetas da Igreja Latino-Americana.
“O Cristo de Poncho tem uma longa história que nasceu quando viajava para Quito, na Hospedaria Camponesa do Tejar, com as Irmãs Laurita, Genoveva e Betty. Quando não havia indígenas enfermos, eu utilizava a enfermaria para dormir. Certa noite, tive um sonho que me comoveu e ainda o recordo e sinto. Sonhei com o Cristo de Poncho, sem rosto e sem mãos, com um poncho vermelho. No dia seguinte, viajei a Yaruquies para ver as irmãs do Evangelho da Fraternidade de Charles de Foucauld, em sua pequena fraternidade. Fui com o bispo de Crateús, Brasil, dom Antônio Fragoso. Lembro-me que, ali, estavam as irmãs Nelly Arrobo e Nelsa Curbelo. Fomos à capela para rezar e quando entramos, vi o Cristo com poncho no pequeno altar”.
A presença dos indígenas, camponeses mártires e profetas, dom Oscar Romero e tantos outros juntos ao profeta da igreja latino-americana e do Chimborazo, dom Leonidas Proaño. Desse sonho, nasceu o mural que retiraram da catedral e procuram esconder e silenciar a voz de Proaño, a voz dos profetas não se pode silenciar”, destaca um trecho da carta.
No texto, Esquivel ressalta que o mural “foi projetado para a Catedral de Riobamba em momento de caminhada e compromisso da Igreja, no qual muitos mártires e profetas, a partir do Evangelho, deram testemunho de vida e muitos ofereceram a sua para dar vida”.
“Em uma carta que Parrilla me enviou, diz que deseja colocar o mural na Casa de Santa Cruz. Conheço a casa há muitos anos e não há espaço na mesma para colocar o mural, que tem 5x8 metros, pintado em uma tela de madeira e que foi um reconhecimento ao irmão dom Leonidas Proaño”, acrescenta.
Diante dos constantes pedidos dos cidadãos, que procuram manter vivo o legado de dom Proaño, o mural será submetido a uma restauração e devolvido à Catedral.
“O Bispo de Riobamba, de maneira muito acertada, decidiu que o mural fique na igreja. É muito prazeroso ouvir esta disposição, esse foi o desejo de seu autor (Pérez Esquivel) e para os riobambenhos é muito significativo que as coisas sejam assentadas assim”, apontou Hermuy Calle, governador de Chimborazo.
O departamento de patrimônio do Município de Riobamba estará atento à restauração. “Inspecionamos o mural e está em boas condições, razão pela qual faremos as respectivas recomendações”, apontou Diego Villacís, diretor de Patrimônio.
Completam-se 28 anos da morte de Leonidas Proaño
Nesta quarta-feira, completam-se 28 anos da morte de dom Leonidas Proaño, que foi considerado o bispo dos índios e dos pobres, pois sua dedicação às causas das nacionalidades indígenas e a prática da solidariedade ultrapassaram fronteiras.
Vários grupos sociais, em coordenação com o Ministério da Cultura, realizará uma caminhada pelo centro de Riobamba. Posteriormente, se deslocarão até o parque Guayaquil para comemorar esta data, com danças e conservatórios.
O mural de Riobamba, no Equador, continuará na catedral
A resposta do bispo de Riobamba, Equador: “As inspirações de Dom Proãno seguem vigentes”
De Adolfo Pérez Esquivel ao bispo de Riobamba, Equador: “Onde está o mural dos mártires da América?”
A fé que deu sentido à vida de Leonidas Proaño
Dom Leónidas Proaño - 31 de agosto
As opções fundamentais de Monsenhor Proaño
Leonidas Proaño, pilar da Igreja dos pobres do Equador
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O mural de Leonidas Proaño retorna à catedral de Riobamba - Instituto Humanitas Unisinos - IHU