30 Junho 2016
“Pensando bem, a defesa da ordenação de mulheres diáconos é uma questão de conservadorismo. Por um lado, ela aproxima alguns dos carismas exercidos por mulheres na Igreja a uma relação estruturada com o bispo e, portanto, sob sua (presumivelmente unificadora) influência. Por outro, contribui para a fama e testemunho eficaz da Igreja como instituição através da canalização ordenada das energias das mulheres em seus ministérios "regulares", e não "irregulares" ou ad hoc”, escreve Rita Ferrone, autora de vários livros sobre liturgia, incluindo o livro “Liturgy: Sacrosanctum Concilium (Paulist Press)”, em artigo publicado por Commonweal, 27-06-2016. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Segundo ela, “ironicamente, quaisquer possíveis ganhos pelo reconhecimento e pela rotinização dos carismas das mulheres através de ordenação são superestimados nas mentes de alguns clérigos homens como um grande risco de "clericalização de mulheres". Estas preocupações são exageradas. Um clero que se preocupa tão obsessivamente com os perigos do clericalismo feminino está, na verdade, projetando seus próprios pecados e subestimando a capacidade das mulheres à virtude”.
Eis o artigo.
No Sínodo para a Família realizado no outono passado, Dom Paul-André Durocher, arcebispo de Quebec, solicitou que a ordenação de mulheres como diáconos fosse ponderada. A sugestão não pareceu ir a lugar algum. Mais recentemente, no entanto, o Papa Francisco mostrou interesse quando uma reunião de novecentas líderes de comunidades religiosas femininas de todo o mundo (União Internacional das Superioras Gerais) levantou esta questão novamente em maio. Ele disse que convocaria uma comissão oficial para esclarecer a questão do papel histórico das mulheres diáconos. Fiquei positivamente surpresa.
Não demorou muito, no entanto, para que começassem as dúvidas. Este estudo já não havia sido feito, sem qualquer resultado? E a ideia do Papa de pedir à Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) para informá-lo sobre a questão - não seria esse o golpe mortal? Afinal, o Cardeal Gerhard Müller, prefeito da CDF, é conhecido por sua oposição às mulheres no diaconato. Será que formar uma comissão era apenas uma maneira de se esquivar de questões difíceis?
Como se constata, a Comissão Teológica Internacional (CTI) desenvolveu dois estudos histórico-teológicos de mulheres no diaconato. Um teve início em 1992 e foi concluído em 1997, mas nunca foi publicado. O prefeito da CDF, o então cardeal Joseph Ratzinger, recusou-se a assiná-lo, provavelmente porque o estudo trouxe uma visão positiva à ordenação de mulheres diáconos. Um segundo estudo, muito mais longo, que o Cardeal Müller ajudou a escrever, foi publicado em 2002. Concluiu-se que os diáconos homens e mulheres da história não são "pura e simplesmente equivalentes" (as diaconisas eram inferiores) e a questão do que fazer hoje é uma questão de discernimento da autoridade da Igreja.
Embora este último estudo deixe a questão em aberto, ele tende claramente contra a possibilidade de ordenar mulheres ao diaconato. Por exemplo, os elementos do Novo Testamento são revistos - incluindo várias informações sobre os "sete" de Jerusalém, que auxiliaram os Apóstolos, mas nunca foram chamados de diáconos - sem uma única menção à diácona Febe na carta de São Paulo aos Romanos. Ela aparece brevemente muitas páginas depois, no subtítulo "diaconisas", mas nada mais é mencionado.
Pobre Febe. Foi a única pessoa no Novo Testamento que realmente foi chamada de diácona, e é deixada de lado por razões linguísticas: "Embora a forma masculina de diakonos seja utilizado aqui, não é possível concluir que o termo é empregado para designar a função específica de um 'Diácono'; primeiramente porque neste contexto diakonos ainda significa servo em um sentido geral e, em segundo lugar, porque a palavra "servo" não tem sufixo feminino correspondente, somente é precedida por um artigo feminino". Entenderam? Para completar, o final do parágrafo diz que, em Coríntios 1, São Paulo também se refere ao "diakonoi" do diabo.
Falando nisso, o estudo não reconhece que a misoginia pode ter desempenhado um papel significativo na supressão de ministérios de mulheres. A noção de que uma renovação da prática de mulheres no ministério diaconal atualmente poderia corrigir um erro, estimular o Espírito, enriquecer o ministério, parece nunca ter ocorrido aos autores do estudo ou, pelo menos, não foi mencionada. Acho isso lamentável. Entender a história exige mais lucidez, coragem e imaginação do que temos visto até agora em Roma.
Pensando bem, a defesa da ordenação de mulheres diáconos é uma questão de conservadorismo. Por um lado, ela aproxima alguns dos carismas exercidos por mulheres na Igreja a uma relação estruturada com o bispo e, portanto, sob sua (presumivelmente unificadora) influência. Por outro, contribui para a fama e testemunho eficaz da Igreja como instituição através da canalização ordenada das energias das mulheres em seus ministérios "regulares", e não "irregulares" ou ad hoc.
Ironicamente, quaisquer possíveis ganhos pelo reconhecimento e pela rotinização dos carismas das mulheres através de ordenação são superestimados nas mentes de alguns clérigos homens como um grande risco de "clericalização de mulheres". Estas preocupações são exageradas. Um clero que se preocupa tão obsessivamente com os perigos do clericalismo feminino está, na verdade, projetando seus próprios pecados e subestimando a capacidade das mulheres à virtude.
Se o Papa Francisco convocar uma nova comissão, e talvez até mesmo inclua algumas mulheres (nenhuma mulher foi autora dos dois estudos anteriores), será que apareceriam resultados diferentes? Talvez. Houve novas pesquisas sobre o assunto de mulheres diáconos dentro do catolicismo romano por estudiosos(as) como Phyllis Zagano, Gary Macy, Bill Ditewig e John Collins, com a reavaliação de algumas das fontes históricas do estudo ITC 2002. Também há rumores nos círculos ortodoxos de que o ministério de mulheres diáconos seria renovado. Aqui pode-se mencionar o trabalho acadêmico de Kyriaki Karidoyanes FitzGerald, da Visão de Santa Catarina (uma organização teológica pan-ortodoxa) e do Centro de Santa Febe para a História das Diaconisas (St. Phoebe Center).
O tempo dirá. Enquanto isso, talvez devêssemos pedir que ela rogue por nós. Por mais que tenha sido menosprezada pela falta de um sufixo feminino, Pebe com certeza fez o que tinha de ser feito.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Será que a Igreja aceitará Mulheres Diáconos? Santa Febe, rogai por nós - Instituto Humanitas Unisinos - IHU