29 Junho 2016
“Sei que o Senhor irá me conduzir/ Eu vou voando, eu vou voandooooo”, entoa, entre gestos de asa de pássaro e de guitarra imaginária, o pastor Marco Feliciano no clipe da música “Eu Vou Voando”.
O deputado federal reeleito pelo PSC-SP também voa alto com a possibilidade de se candidatar a prefeito de São Paulo nas eleições deste ano. Na mais recente sondagem do Ibope, da semana passada, Feliciano conta com o voto de 4% dos paulistanos, mais um algarismo que se junta a seus 43 anos de vida terrena, 18 livros escritos e um sem-número de polêmicas que acumula junto à comunidade LGBT.
Na mais recente delas, o deputado nascido em Orlândia (SP) foi ao Twitter afirmar que o movimento gay tentou se promover às custas do massacre na boate Pulse, em Orlando.
O blog entrevistou Feliciano, sobre essa e outras questões, que preferiu responder às perguntas por e-mail. “Não dá pra garantir que foi um crime motivado apenas por homofobia”, diz.
Numa segunda mensagem, o “Gays & Afins” fez novas perguntas, relacionadas principalmente à pré-candidatura de Feliciano à prefeitura paulistana, que ele não respondeu.
A entrevista é de Guilherme Genestreti, publicada por Gays & Afins, 28-06-2016.
Eis a entrevista.
O sr. escreveu no Twitter que o movimento LGBT está tentando se promover com o atentado em Orlando. Por quê?
Porque o representante dessa classe no parlamento, o deputado ex-BBB [Jean Wyllys, do PSOL-RJ] postou em suas mídias sociais que eu, Marco Feliciano, era um dos responsáveis pelo massacre, pois tratava-se, segundo ele e parte da imprensa, de crime de homofobia, quando nos EUA o próprio presidente Obama, em discurso, afirmou ser um atentado terrorista. Não foi a primeira vez que esse deputado age assim. Quando em São Paulo o jovem Kaique foi encontrado morto [em 2014], ele fez o mesmo discurso e dias depois a imprensa divulga que ele se suicidou. Nunca houve um pedido de desculpas.
Na sua opinião, então, não dá para dizer que aquele ataque teve motivação homofóbica?
Como postei, não dá pra garantir que foi um crime motivado apenas por homofobia, pois há indícios de terrorismo do Estado Islâmico. O próprio atirador falou com os policiais sobre isso (no entanto, é sabido que o El tem por costume massacrar gays não deixando de ser um crime de homofobia). É preciso lembrar que seus alvos (terroristas) não são aleatórios. Exemplo: Torres do World Trade Center. Não atingiram “tijolos”, atingiram um símbolo do capitalismo americano. A mulher do assassino disse em entrevista que ele antes sondou a Disney, símbolo do entretenimento americano, mas o esquema de segurança era imenso. Então ele ataca uma boate gay, símbolo do progressismo e liberdade sexual americanos.
É comum ouvir a crítica de que o discurso religioso favorece esse tipo de ataque, pois ele faz crer que ser gay é uma “aberração”. Que acha dessa afirmativa?
Não posso falar pelos muçulmanos. Falo pelos cristãos. Esse discurso é um absurdo, uma desinformação, uma desonestidade intelectual, mau-caratismo mesmo. Cristãos pregam o amor ao próximo. Podemos não concordar com atos, mas nunca discriminamos pessoas. Jesus, no caso da mulher pega no ato de adultério, diz: “Quem não tem pecado atire a primeira pedra”. Ninguém pode acusar ninguém.
No final da história ele pergunta à mulher: “Onde estão os teus acusadores? Se eles não te acusam, eu também não”. E ele termina dizendo: “Vai e não peques mais”. Ele demonstra amor, perdão e aceitação, mas não deixa de corrigir e dizer: “Não peques mais”. Ele aceita a pecadora mas não o seu ato de pecado.
Qual a sua opinião a respeito de algumas denominações neopentecostais, como é o caso da Igreja Cristã Contemporânea, que estão abraçando o casamento gay?
Estas agremiações religiosas adaptaram a Bíblia à sua maneira de viver. Não respeitam Bíblia como ela ensina. Não vivem o Cristianismo como ele é desde sua fundação.
A condenação à homossexualidade está na Bíblia (Levítico 18:22). Mas o mesmo Levítico também proíbe fiéis de comer carne de coelho (11:5), de porco (11:7), de vestir roupas com dois tipos de tecido (19:19) e de misturar raças (19:19). Como o sr. concebe essas outras proibições?
Temos como regra de fé o Novo Testamento sem ignorar o Velho. Entendemos que o Velho Testamento foi escrito para nosso conhecimento, e o Novo Testamento como nova aliança e nela Cristo trouxe um novo mandamento: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros (Jo 13,34).
E neste Novo Testamento temos ensinamentos sobre a sexualidade: I Coríntios 6, 9-10: “Acaso não sabeis que os injustos não terão parte no reino de Deus? Não vos iludais: nem fornicadores, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem gananciosos, nem ébrios, nem maldizentes, nem roubadores terão parte no reino de Deus”.
Romanos 1:26-27: “Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro”.
No Novo Testamento, Cristo aboliu a punição com morte física aos que cometem pecados, mas continuou a salientar a morte espiritual. Como Cristo, cristãos amam os pecadores, porque são pecadores também, mas não amam o pecado.
O sr. é notório defensor da conversão de sujeitos homossexuais. Como reage ao fato de que os ramos majoritários da psicologia neguem que seja possível reverter a orientação sexual de uma pessoa?
Não foi respondida.
Como pré-candidato à prefeitura da cidade de São Paulo, qual seria a sua plataforma política voltada à população LGBT?
Não foi respondida.
Como encara o financiamento municipal à Parada do Orgulho LGBT. Caso se candidate a prefeito, pretende apresentar alguma proposta que mude a relação do município com a parada?
Não foi respondida.
O prefeito Haddad tem planos de inaugurar outros três Centros de Cidadania LGBT, que prestam atendimento médico, jurídico e psicológico a essa população na cidade, fora os dois que já existem. Qual a sua opinião a respeito desses locais?
Não foi respondida.
O governo estadual tem planos de criar um Museu da Diversidade, com acervo relacionado a temas LGBT, no Casarão Franco de Mello, na avenida Paulista. Como encara essa proposta?
Não foi respondida.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Não dá pra garantir que houve homofobia em Orlando, diz Feliciano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU