25 Mai 2016
Entre as razões dos "leave", isto é, daqueles que, no referendo do dia 23 de junho, vão votar pela Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, está a de que permanecer na União significa enfrentar a ameaça da invasão dos migrantes. Contra essa ideia, Ken Loach lança-se com força: "A imigração é um dos maiores problemas contemporâneos. A Grã-Bretanha de Tony Blair criou muitos refugiados com a guerra terrível e ilegal que ele fez no Iraque, junto com os Estados Unidos. Tudo começou lá. Muitas pessoas foram forçadas a abandonar o seu país, e a grande instabilidade econômica causou migrações de pessoas que, se vivessem em uma sociedade mais justa e segura, ficariam em sua própria casa".
A reportagem é de Arianna Finos, publicada no jornal La Repubblica, 24-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na festa à beira-mar depois da vitória da Palma de Ouro por I, Daniel Blake, o diretor de Nuneaton, 80 anos no dia 17 de junho, não deixou de se consumir pela política que ama e pela sociedade frágil que defende.
Ele diz não à Brexit, porque seria a pior solução. É preciso lutar a partir de dentro, "para levar a Inglaterra e a própria Europa para a esquerda". Assim como ele, também pensam 281 artistas britânicos que assinaram um abaixo-assinado. "Essa Europa antidívida e antimigrantes está matando a solidariedade social, o trabalho e o ambiente. Sair dela, porém, seria apenas o último erro."
Eis a entrevista.
Loach, a sua escolha de ficar na Europa é ditada pela necessidade?
A União Europeia está dando passos para trás. Esse é um problema para todos os britânicos que irão votar. Para mim, hoje, a União Europeia é uma organização neoliberal. Ela sofre as pressões das grandes corporações, diminui as proteções para os trabalhadores, ataca o ambiente. Com o seu trabalho de lobbying, as multinacionais buscam os seus próprios lucros, eliminando todos os obstáculos. Países inteiros, como a Grécia e Portugal, são humilhados. Eu entendo que, para a esquerda, é difícil decidir: ela não quer apoiar essa organização neoliberal que é a União hoje, mas estou convencido de que, mais do que atacar a Europa a partir de fora, é melhor ficar dentro dela, unir-nos com os outros grupos de esquerda, o Syriza, o Podemos, a esquerda francesa, alemã. E lutarmos para criar outra Europa mais justa. É possível e necessário.
O que poderia acontecer na Grã-Bretanha com a vitória dos defensores da saída da União Europeia?
O nosso governo se deslocaria ainda mais para a direita. A extrema direita quer a Brexit para aumentar o poder do mercado, a "deregulation", as privatizações.
Na Grã-Bretanha, também há cidadãos que passam fome, perdem a casa, a saúde, a esperança. O seu filme I, Daniel Blake é uma acusação ao welfare britânico.
No nosso país, a burocracia estatal é cada vez mais cruel, deliberadamente ineficiente. Fala-se de austeridade, mas simplesmente se quer dar mais poder às multinacionais, deixar os trabalhadores mais vulneráveis.
É um retorno aos tempos de Thatcher?
Margaret Thatcher começou um percurso que agora David Cameron está levando adiante. Quarenta anos depois, a Grã-Bretanha é o país em que os preceitos do neoliberalismo são aplicados da forma mais agressiva.
Você tem muita confiança no líder trabalhista Jeremy Corbyn?
Tê-lo na liderança do Partido Trabalhista é a melhor coisa que aconteceu com o meu país desde o pós-guerra. Blair não era um homem da esquerda, nem mesmo Gordon Brown. A guerra imperialista no Iraque é uma escolha da direita, assim como o diálogo com aqueles que pensam apenas em termos de lucro. Corbyn, em vez disso, entende e defende as necessidades da classe operária. Com ele, poderemos, finalmente, tentar ter um verdadeiro partido de esquerda. O Partido Socialista Europeu passou para a direita. Agora, devemos aproveitar a possibilidade de uma mudança real.
O prefeito de Londres recém-eleito, Sadiq Khan, vai apoiá-lo?
A eleição da Khan foi uma vitória da esquerda. Agora, o prefeito deve provar que é de esquerda, apoiando Corbyn. Enquanto isso, ele conseguiu nos livrar de Boris Johnson.
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"Os refugiados são responsabilidade de todos. Também é nossa culpa se ele fogem dos seus países." Entrevista com Ken Loach - Instituto Humanitas Unisinos - IHU