13 Abril 2016
Alta autoridade vaticana diz que a decisão da Suprema Corte americana de bloquear a limitação da emissão de gases de efeito estufa proposta por Obama é decepcionante. Imagem publicada por portal Crux.
Uma alta autoridade vaticana que passou boa parte do ano passado viajando pelo mundo para promover o ensino do Papa Francisco sobre o meio ambiente afirmou, nesta segunda-feira, 11-04-2016, que apoia as iniciativas do presidente Barack Obama no combate às mudanças climáticas.
A reportagem é de Ines San Martin, publicada por Crux, 12-04-2016. A tradução de Isaque Gomes Correa.
“Sem querer repreender os EUA, mas nos últimos meses eu tenho ido a muitas universidades deste país para falar sobre a Laudato Si’”, declarou o Cardeal Peter Turkson, de Gana, presidente do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”.
Laudato Si’ é o título da carta encíclica emitida pelo Papa Francisco em meados de 2015 na qual o pontífice identifica a luta para compensar os efeitos das mudanças climáticas e outros problemas ambientais como sendo uma prioridade moral.
“Por volta dessa época, a Suprema Corte dos Estados Unidos pôs um fim aos projetos de energia renovável que o governo federal tinha em andamento”, falou o religioso.
Turkson referia-se a uma decisão de fevereiro tomada pela Suprema Corte que bloqueou temporariamente as regras do governo Obama em limitar as emissões de gases de efeito estufa emitidos pelas usinas de geração de energia.
Reagindo a uma ação judicial perpetrada por 29 estados e pelo setor elétrico, os juízes proibiram que seguisse em frente o “Power Clean Plan” da Agência de Proteção Ambiental americana enquanto a questão estivesse sendo contestada na justiça.
“Isso chegou até nós como uma grande surpresa, porque achávamos que este seria o momento em que todos se uniriam a esta causa”, acrescentou Turkson, ao falar com os jornalistas durante um congresso em Roma intitulado “Sobre o cuidado da casa comum: o envolvimento do Vaticano e dos EUA nas questões globais”.
O cardeal defendeu o documento papal, dizendo que, contrariamente ao que alguns dizem, a encíclica não tem a ver com “se meter nos negócios alheios”, ou que o papa esteja querendo criar uma onda de desemprego no setor.
Turkson falou que a Laudato Si’ sugere um olhar para além das soluções de curto prazo, soluções que trariam problemas no futuro, transformando elas uma visão a longo prazo.
“Se a queima de carvão agora irá nos causar problemas no futuro, por que não pensamos em modificar esta situação no interesse das gerações futuras?”, disse ele. “É essa a ideia da encíclica basicamente”.
Falando sobre o impacto que a Laudato Si’ teve desde que foi lançada, Turkon disse que há muitos exemplos a serem citados. Segundo ele, o documento esteve no centro de um evento nas Nações Unidas que estudava a contribuição e o “apoio moral” que o texto poderia dar no combate às mudanças climáticas.
Ele também falou de um evento chamado “Consciences for Climate Change”, ocorrido em julho de 2015, um mês depois da publicação da carta encíclica. Durante este encontro, o presidente francês Françoise Holland citou o documento várias vezes.
Uma encíclica é a forma mais desenvolvida do magistério papal, e a Laudato Si’ foi a primeira vez que um papa dedicou um tal documento inteiramente a questões ambientais. No documento de 184 páginas, Francisco acolhe inequivocamente o consenso científico de que as mudanças no clima são, em grande parte, consequências da atividade humana, e lamenta a perda da biodiversidade e a escassez crescente de água potável.
O pontífice é particularmente incisivo sobre a conexão entre problemas ambientais e a pobreza, sustentando que os países em desenvolvimento serão os que mais sofrerão as consequências da crise ecológica de hoje e que os povos empobrecidos têm poucas condições de se adaptarem a um clima cambiante.
Falando sobre a experiência de viajar pelos EUA visitando universidades para falar sobre o documento, Turkson declarou que, embora alguns se mostrem céticos quanto às mudanças climáticas, é inegável que os desastres relacionados ao clima estão, cada vez mais, “tornando a vida mais difícil”.
“Até que ponto os seres humanos estão contribuindo para esses fenômenos?”, disse Turkson.
O cardeal também falou sobre “as muitas pessoas que discordam destas afirmações”, respondendo às dúvidas delas usando a sua própria experiência como exemplo.
Turkson cresceu numa cidade que possui uma empresa mineradora. Ele conhece bem os impactos que a mineração de superfície tem sobre o meio ambiente local, dizendo que “o que fica não é o mesmo de quando o processo começou”.
“A floresta se vai. A camada superior do solo desaparece. A agricultura fica afetada. O serviço de saneamento fica afetado. São mudanças drásticas causadas pela atividade humana. E este é só um exemplo”, disse.
Estes exemplos, completou o cardeal, mostram como a atividade humana “pode induzir, piorar ou mesmo provocar” uma mudança climática.
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Autoridade vaticana apoia Obama no combate à mudança climática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU