Tragédia da mineração em Mariana: pesquisador fala sobre meio ambiente e saúde das populações

Mais Lidos

  • Carta aos rabinos italianos irritados com o Papa (e não é para defender Francisco)

    LER MAIS
  • Ocupação urbana fora de controle explica desmoronamento em Gramado

    LER MAIS
  • Porque o ataque dos rabinos italianos ao Papa Francisco expõe um nervo exposto. Artigo de Marco Politi

    LER MAIS

Newsletter IHU

Fique atualizado das Notícias do Dia, inscreva-se na newsletter do IHU


Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

10 Março 2016

Quatro meses depois do rompimento da barragem em Mariana, a Fundação Oswaldo Cruz segue monitorando as ações de remediação e o acordo anunciado entre a Samarco, o governo federal e os governos de Minas Gerais e Espírito Santo, diretamente envolvidos na tragédia. Além das pesquisas iniciais, referentes à qualidade da água e ao impacto do desastre no meio ambiente, a Fiocruz também foi convidada pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) a participar do desenvolvimento de estudos epidemiológicos na região. O objetivo é desenhar um termo de cooperação para o acompanhamento, por dez a vinte anos, da saúde de toda a população que vive na bacia do Rio Doce.

Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias (AFN), o pesquisador da Fiocruz Minas e relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre água e saneamento, Leo Heller, fala sobre os riscos da tragédia para o meio ambiente e à saúde das populações. Heller também comentou o que as análises do lamaçal revelaram até o momento.

A entrevista é de Renata Moehlecke, publicada por EcoDebate, 09-03-2016.

Eis a entrevista.

A tragédia afetou o abastecimento de água na região. Como está a situação atualmente?

A tragédia teve um profundo impacto na qualidade da água dos cursos de água a jusante da barragem, com importantes impactos no abastecimento de água, tanto de pequenos núcleos de populações ribeirinhas, quanto de cidades de médio porte, como Governador Valadares e Colatina. O abastecimento nessas cidades foi retomado, mas a qualidade da água do rio Doce não retornou a seu estado original e ainda inspira cuidados.

O que revelaram as análises de água após o rompimento da barragem?

Os resultados foram controvertidos em termos de aferição da toxicidade. Em todas as análise, uma intensa elevação nos teores de turbidez e de cor foi constatada. Em algumas, foram identificadas concentrações de metais muito acima das permitidas pela legislação sobre potabilidade da água. Ou seja, um quadro não completamente claro mas, se aplicarmos o princípio da precaução, inteiramente apropriado para casos como este, um quadro que requer muitos cuidados e muita atenção pelas autoridades públicas e prestadores de serviço de abastecimento de água.

Quatro meses após o desastre, como isso ainda afeta o meio ambiente, o consumo de água e o saneamento básico?

Eu diria que estamos em uma situação melhor do que aquele imediatamente após a tragédia, mas ainda muito distante da ideal, ou mesmo da anterior a ela.

Quais são os principais problemas e riscos enfrentados pela população local?

Existem diferente impactos nas comunidades. Uma situação é a da população que foi desalojada, e que hoje vive em diferentes locais em Mariana. Esta tem passado por um conjunto de problemas, próprios da perda da identidade social, cultural e histórica, bem como da desagregação do tecido social original. Outra refere-se a comunidades que dependiam dos rios para atividades produtivas, como pesca, agricultura e pecuária, que também está passando por sérios comprometimentos em sua vida, incluindo renda. Adicionalmente, temos as populações que dependem do rio, sobretudo o rio Doce, para abastecimento. Nesse último caso, o abastecimento foi reativado, mas mostra-se necessária uma vigilância, da qualidade da água e epidemiológica, muito mais intensa e específica que a rotineira.

Quais os riscos para o meio ambiente?

O ambiente aquático e das margens foi severamente afetado e levará muito tempo para se recompor, havendo efeitos na qualidade da água e nas espécies.

De que maneira a população pode ajudar a contornar o problema?

A população deve exigir que todo o processo de tomada de decisão sobre a recuperação do ambiente e das vidas no pós-tragédia seja acompanhado de processos participativos. Isto diz respeito particularmente à população removida e ao processo de reconstrução da localidade de Bento Rodrigues. Sobre isto, o manifesto divulgado por 21 entidades aborda com muita propriedade essa necessidade e as razões para ela.

O que a Fiocruz tem feito para auxiliar na questão da água?

A Fiocruz tem iniciado projetos na área e vem dialogando, de forma respeitosa e colaborativa, com as autoridades municipais. Particularmente, um trabalho de assistência aos desalojado em Mariana está sendo acertado com a prefeitura municipal. A Fiocruz colocou-se também à disposição para contribuir com a vigilância das doenças no pós-tragédia, por meio de seus laboratórios e de seus especialistas.

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Tragédia da mineração em Mariana: pesquisador fala sobre meio ambiente e saúde das populações - Instituto Humanitas Unisinos - IHU