26 Fevereiro 2016
Um documento sobre “a Igreja e o mundo contemporâneo”, a submeter ao Concílio pan-ortodoxo para sua aprovação. É espontânea a comparação com a Gaudium et Spes – a constituição do Vaticano II que tinha o mesmo subtítulo – apresentando os textos que a Sinaxe dos primazes (a assembleia dos patriarcas das Igrejas ortodoxas, reunidos em Chambésy na Suíça no final de janeiro) decidiu tornar públicos em vista do histórico encontro dos bispos de todas as igrejas ortodoxas, em programa de 16 a 27 de junho em Creta.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada por Vatican Insider, 25-02-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
O comunicado difundido pelos primazes apresenta os títulos de seus documentos que serão submetidos ao exame do Concílio; mas, é acima de tudo aquele sobre “A missão da Igreja ortodoxa no mundo contemporâneo” o primeiro a ser citado, precisando que foi aprovado com unanimidade (diversamente – por exemplo - daquele sobre “matrimônio e os seus impedimentos”, não votado por alguns patriarcas). O documento social oferece uma síntese interessante do pensamento das Igrejas ortodoxas sobre temas como a paz, a justiça, a liberdade, a luta contra toda forma de discriminação.
O texto é composto por uma introdução seguida por seis blocos temáticos. “A Igreja de Cristo vive no mundo, mas não é deste mundo”, são as primeiras palavras que faze expressamente referência ao capítulo 17 do Evangelho de João. “A Igreja – se precisa pouco mais adiante – não pode permanecer indiferente aos problemas do homem de toda época histórica; ao contrário, compartilha a sua inquietude e os desafios cotidianos, incumbindo-se como o seu Senhor da dor e das feridas causadas pelo mal que está em ação no mundo; e, como o Bom Samaritano, com uma palavra de “paciência e conforto” (Rm 15, 4; Hb 13, 22) e com a caridade operosa, verte sobre estas feridas o óleo e o vinho (Lc 10, 34).
O ponto de referência fundamental é a afirmação da “dignidade de toda pessoa”, cujo respeito incondicionado está fundado sobe as Escrituras e sobre o ensinamento dos Padres. Mas, esta dignidade está ameaçada onde é reduzido o elo entre “liberdade e responsabilidade”. É esta, sustentam as Igrejas ortodoxas, a raiz “das imperfeições e das carências que dominam o mundo moderno” (e o documento apresenta um longo elenco que vai da violência ao desinteresse pelos costumes morais, das catástrofes ao racismo). Daqui decorre a tarefa para a Igreja ortodoxa de “revelar a verdade da liberdade em Cristo”, porque “a liberdade sem responsabilidade e amor pode levar à perda da própria liberdade”.
Sobre estas bases o documento entra, portanto, na específica consideração de algumas questões, dedicando bem duas secções – a terceira e a quarta – ao tema da paz e da justiça. “A Igreja de Cristo – se lê – condena a guerra enquanto tal, julgando-a um fruto do mal e do pecado que existe no mundo. Toda guerra ameaça destruir a criação querida por Deus e a vida. E isto vale de maneira particular para as guerras com armas de destruição em massa, que têm consequências terríveis”, cujo efeito se estende “também sobre futuras gerações”.
São citadas expressamente as armas “nucleares, químicas e bacteriológicas”, como também é condenada qualquer guerra “inspirada por motivações nacionalistas e que leva à limpeza étnica, à modificação das divisas entre os Estados e à ocupação de territórios”. Também “nas situações nas quais a guerra se torna inevitável” – escreve também o documento – a Igreja tem a tarefa “de pôr em ato todo esforço por um rápido restabelecimento da paz”.
A quinta secção é dedicada, ao invés, ao comportamento da Igreja perante as discriminações: “Independentemente da cor da pele, da religião, etnia, gênero, nacionalidade ou língua – se lê – toda pessoa é criada à imagem e semelhança de Deus e é sob o mesmo título parte da comunidade humana”. A ultima secção – enfim – trata o tema do “testemunho da caridade no ministério”. “No cumprimento de sua missão de salvação para o mundo – afirma o texto que será submetido ao Concílio de Creta – a Igreja ortodoxa toma ativamente cuidado de todos aqueles que necessitam de ajuda, os famintos, os pobres, os enfermos, os inválidos, os anciãos, os perseguidos, os prisioneiros, os sem teto, as vítimas da catástrofe e das guerras, as vítimas das novas formas de escravidão”.
É forte a consonância entre esta última parte e muitas ideias contidas na encíclica do Papa Francisco "Louvado Seja": são criticados a diferença crescente entre ricos e pobres no mundo, a especulação financeira, a concentração da riqueza nas mãos de poucos, o perdurar da fome. Exprime-se preocupação pela “imposição de um estilo de vida consumista, desenraizado dos valores morais cristãos”. Ante a “crise ecológica” se exorta a Igreja a fazer “tudo o que sua força espiritual lhe permite para promover a proteção da criação das consequências da avidez humana”. Enfim – sobre o tema da pesquisa científica, sobretudo no delicado setor das biotecnologias – o documento das Igrejas ortodoxas convida a observar como critério “o absoluto direito da pessoa a ser respeitada em todo estágio da própria vida”.
No entanto, o Patriarcado de Moscou não exclui um segundo e até um terceiro encontro entre o Papa Francisco e o chefe da Igreja ortodoxa russa Kirill, após aquele de 12 de fevereiro em Cuba. “Sua Santidade – declarou à Tass o metropolita Hilarion, chefe do departamento para as relações externas do patriarcado de Moscou – disse que o primeiro encontro poderia ser seguido por um segundo e por um terceiro, mas no momento não temos acordos específicos”. E o grande Íman de al-Azhar: O que dirão a Jesus os chefes das Igrejas que nos USA aceitam o matrimônio gay?
24 de fevereiro de 2016 - Agência Fides
O Ocidente está difundindo a homossexualidade, e “infelizmente alguns chefes de Igrejas nos Estados Unidos aceitam os matrimônios homossexuais. Pergunto-me o que restou da Bíblia naquelas Igrejas. E o que dirão diante de Jesus, a paz esteja sobre ele”. Com estas palavras o sheik egípcio Amhed AL Tayyeb, grande Imã da universidade islâmica sunita de al Azhar, quis externar o seu pensamento a respeito das escolhas de algumas realidades cristãs estadunidenses – como a Presbyterian Church USA – que nos últimos tempos têm modificado os próprios estatutos internos com o objetivo de reconhecer como matrimônios as uniões entre pessoas do mesmo sexo.
As declarações – referem fontes egípcias consultadas pela Agência Fides – foram liberadas pelo representante da mais prestigiosa academia teológica sunita na Indonésia, durante um encontro com perguntas e respostas realizado junto à Universidade islâmica de Syarif Hidahyatulllah, em South Tangerang. O grande Imã al Tayeeb também acrescentou que os grupos gay intervêm nas campanhas eleitorais e a questão homossexual é utilizada como tema para conseguir consenso político. O Grande Imã se encontra pela primeira vez na Indonésia – onde também tem encontrado o Presidente Joko Widodo – para participar de um encontro internacional promovido pelo Conselho muçulmano dos anciãos, a organização, com sede em Abu Dhabi, criada com o intento de favorecer maior tolerância entre as diversas correntes do Islã.
Em algumas declarações, relançadas pela imprensa da Indonésia, o sheik AL Tayyeb reafirmou que neste momento histórico o maior desafio no meio do mundo islâmico é representado pelo fato de que “as diferenças entre as doutrinas não são toleradas, e se tornam antes pretexto de violência”. Segundo o Grande Imã de al Azhar, “não há nenhum mal no seguir uma determinada escola ou doutrina, mas ninguém pode afirmar que representa de maneira exclusiva o verdadeiro e autêntico Islã”. A guerra que destruiu a Síria, o Iraque e o Iêmen – acrescentou AL Tayyeb – “foi provocada pela divisão entre xiitas e sunitas”.
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A “Gaudium et Spes” dos ortodoxos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU