19 Janeiro 2016
"Quero assegurar-lhes que nada do que os primazes disseram vai mudar as ações da Convenção Geral que, ao longo das últimas quatro décadas, nos levou à plena inclusão e ao matrimônio igualitário", escreve Gay Jennings, em carta publicada por Anglican.ink, 15-01-2016.
Jennings dirigi-se aqui a The House of Deputies, câmara dos representantes diocesanos em um dos poderes da bicameral Convenção Geral da Igreja Episcopal dos Estados Unidos.
Eis a carta.
Prezados Deputados e Deputados Suplentes:
Muitos de vocês receberam a notícia de que o Encontro dos Primazes anglicanos, recém-concluído em Canterbury, votou a questão que chamou de “consequências” à Igreja Episcopal por causa da nossa plena inclusão de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) em nossa prática diária.
Esta notícia pode ser dolorosa para alguns de nós, em particular às pessoas LGBTs que estiveram excluídas, muitas vezes e por muito tempo, pelas famílias, igrejas, escolas e outras instituições atoladas na homofobia.
Quero assegurar-lhes que nada do que os primazes disseram vai mudar as ações da Convenção Geral que, ao longo das últimas quatro décadas, nos levou à plena inclusão e ao matrimônio igualitário. E, independentemente da decisão dos primazes, nós, episcopalianos, iremos continuar trabalhando com os anglicanos ao redor do mundo para alimentar os famintos, cuidar dos doentes, educar as crianças e curar o mundo. Nada do que acontece no Encontro dos Primazes mudará o nosso amor uns pelos outros, ou o nosso comprometimento em servir a Deus juntos. Recomendo a vocês o importante comunicado do Bispo Presidente Michael Curry, que fala exatamente sobre este tema.
As consequências práticas da decisão dos primazes vão ser a de que, por três anos, os episcopalianos não serão convidados a atuar em certos comitês, ou que serão excluídos das votações enquanto estiverem nesses ambientes. No entanto, os primazes não possuem a autoridade sobre o Conselho Consultivo Anglicano, organismo mundial dos bispos, do clero e dos leigos que facilita o trabalho cooperativo das igrejas da Comunhão Anglicana. Eu trabalho como representante neste organismo, juntamente com o Bispo Ian Douglas (de Connecticut, deputado pela quarta vez ainda antes de sua eleição ao bispado) e com a representante Rosalie Simmonds Ballentine (Ilhas Virgens, deputada pela sexta vez), e estou planejando viajar à Zâmbia para a nossa reunião marcada para acontecer em abril e, nela, participar plenamente.
As pessoas mais propensas a sofrer com esta notícia são os anglicanos LGBTs e seus apoiadores, particularmente na África. Eu considero muitos deles como meus amigos e colegas, e hoje estou rezando especialmente para que esta nova mensagem de exclusão não fomente mais ódio e homofobia e que não os torne ainda mais vulneráveis a violência e discriminação do que já estão. No comunicado dos primazes, lemos: “condenamos o preconceito homofóbico e a violência” e “refirmamos a rejeição de sanções criminais contra pessoas atraídas pelo mesmo sexo”. Fiquei impressionada ao ler estas palavras, mas ciente de que eu já havia lido declarações parecidas vindas de Encontros dos Primazes anteriores. Espero que, dessa vez, eles pratiquem o que dizem.
Por favor, juntem-se a mim na renovação do nosso compromisso com a Resolução A051, da Convenção Geral, que nos convoca a usarmos os recursos desenvolvidos pelos anglicanos africanos que trabalham para conter a violência e a discriminação contra os gays e transgêneros; para construir relações e aprender com os acadêmicos anglicanos africanos, cujas interpretações bíblicas reafirmam a dignidade e a humanidade das pessoas LGBTs; e para “orar pela segurança dos nossos irmãos e irmãs LGBTs, de suas famílias e comunidades e pelos acadêmicos e ativistas que, incansavelmente, trabalham em nome destas pessoas”.
Por três vezes nos últimos cinco anos, viajei para a África para estudar e orar com os africanos anglicanos e com ativistas africanos LGBTs. Essas experiências, ocorridas na África do Sul em 2011, no Quênia em 2013 e em Gana em 2015, me deram amigos e colegas ao longo da África anglicana, pessoas profundamente comprometidas com a nossa comunhão, com a dignidade e inclusão das pessoas LGBTs na igreja e com a justiça para todo o Povo de Deus.
Hoje, na medida em que nos ajustamos à notícia de que a nossa postura diante do amor inclusivo de Deus terá algumas consequências, recordo o comunicado que meus colegas e eu emitimos no final do nosso encontro em Gana poucos meses atrás. Nele, comprometemo-nos em “tornar segura a estrada de Jericó a Jerusalém, que é usada por todos os que se esforçam para ter sociedades justas e equitativas e por uma plena inclusão no Corpo de Cristo”. Hoje, estamos caminhando na estrada de Jericó a Jerusalém juntos, e assim fazemos na companhia de Cristo.
Atenciosamente,
Gay Clark Jennings
Presidente da Câmara dos Deputados da Igreja Episcopal dos EUA
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Líder da Igreja Episcopal americana anuncia que irá desafiar a interdição dos Primazes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU