18 Novembro 2015
No próximo mês o Papa Francisco irá comemorar o seu 79º aniversário e, pelo que tudo indica, continua com uma saúde vigorosa. Um pequeno drama em outubro deste ano a respeito de um suposto tumor cerebral acabou sendo apenas fantasia, e tanto em Roma quanto em suas viagens ele mantém um ritmo de vida que é de invejar a maioria dos mortais.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 17-11-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Não há motivos para se crer que o seu papado está se aproximando do fim. Por um lado, Francisco deixou escapar sinais de que o seu papado pode ser relativamente curto e ele já falou, com aprovação, do exemplo posto pelo Papa Bento XVI de renunciar. Dada a sua capacidade de nos surpreender, é inteiramente possível que ele espante o mundo com uma decisão de se retirar do papado, bem no momento em que menos se espera.
Independentemente de como as coisas vão se desenrolar, nunca é cedo demais para olhar adiante no que possa vir acontecer. Primeiro porque se trata de falar sobre o futuro da Igreja e, segundo, convenhamos, uma tal especulação é um tanto divertida.
Durante esta semana tivemos um raio-X de como estaria a situação caso uma transação papal tivesse de ocorrer nesse momento. E ele veio num comunicado do Vaticano que confirmou os 12 prelados eleitos no recente Sínodo dos Bispos sobre a família para o “Conselho Ordinário”, ou seja, o organismo que irá supervisionar as atividades sinodais até a próxima assembleia.
Estes nomes já haviam sido informados, mas o Vaticano retardou em torná-los oficiais até que o Papa Francisco se decidisse sobre três prelados adicionais, que foram acrescentados via nomeação pessoal.
Os 12 prelados eleitos pelo Sínodo são:
• Cardeal Christoph Schönborn (Viena, Áustria)
• Cardeal Wilfrid Fox Napier (Durban, África do Sul)
• Cardeal Oscar Rodriguzez Maradiaga (Tegucigalpa, Honduras)
• Cardenal Peter Turkson (Gana, presidente do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”)
• Cardeal George Pell (Austrália, prefeito da Secretaria para a Economia)
• Cardeal Marc Ouellet (Canadá, prefeito da Congregação para os Bispos)
• Cardeal Oswald Gracias (Mumbai, Índia)
• Cardeal Luis Antonio Tagle (Manila, Filipinas)
• Cardeal Vincent Nichols (Westminster, Reino Unido)
• Cardeal Robert Sarah (Guiné, prefeito da Congregação para o Culto Divino)
• Dom Charles Chaput (Filadélfia, EUA)
• Dom Bruno Forte (Chieti-Vasto, Itália)
Os três prelados nomeados por Francisco são:
• Patriarca Louis Raphael I Sako (líder da Igreja Católica Caldeia no Iraque)
• Dom Carlos Osoro Sierra (Madri, Espanha)
• Dom Sérgio da Rocha (Brasília, Brasil)
Para início de conversa, é importante estipular que as eleições para este conselho sinodal não são uma medida exata de quem pode ganhar um olhar especial num conclave papal.
De um lado, estes nomes são escolhidos pelos prelados que, de fato, participaram no Sínodo, e em todas as ocasiões vários “papabili” (concorrentes ao papado) simplesmente não se fazem presentes no encontro. De outro, todos os bispos num Sínodo votam para o Conselho, mas os eleitores ao papado são exclusivamente cardeais.
Além disso, a eleição para Conselho pode ser, às vezes, mais uma medida da dinâmica singular de um Sínodo do que a expressão do status de alguém em particular.
Por exemplo, poder-se-ia interpretar que o apoio ao Cardeal Pell como uma reação parcial à polêmica surgida com a carta ao papa que ele ajudou a organizar no início do Sínodo 2015, em que alguns prelados manifestaram preocupações para com os procedimentos adotados no evento. Esta seria uma forma de os prelados dizerem que, independentemente do que tenha sido apresentado pela imprensa, em nada isso alterou o respeito que eles depositam em Pell.
Da mesma forma, alguns dos votos atraídos por Chaput podem ter sido um “obrigado” pelo seu trabalho em receber o Encontro Mundial das Famílias em Filadélfia pouco antes de o Sínodo começar.
Dito isso, as eleições para um Conselho Sinodal ainda são significativas, principalmente porque elas são a única vez em que os futuros papas enfrentam uma votação aberta diante dos seus companheiros prelados.
Então, o que aprendemos disso tudo?
De um lado, o próximo Conclave pode ter dificuldades em alcançar o consenso.
Dos 12 prelados eleitos, seis (Schönborn, Rodriguez, Gracias, Tagle, Nichols e Forte) estiveram associados com posturas reformistas durante os sínodos sobre a família, enquanto que cinco (Napier, Pell, Ouellet, Sarah e Chaput) foram vistos como representantes conservadores importantes.
Turkson mostrou-se um alguém mais ou menos não alinhado, com os pés em cada um dos campos.
Estas escolhas provavelmente são honestas em refletir um sentimento havido no lado de dentro do Sínodo, mas elas também apresentam um retrato de um organismo dividido.
Nesse sentido, uma questão central é quais destes prelados poderia ser colocado numa situação que atraísse o apoio de todos os lados.
Do ponto de vista progressista, Schönborn, 70, poderia ser a pessoa indicada.
Ele é um religioso dominicano que, durante grande parte de sua vida, foi visto como um bispo aliado a João Paulo II e a Bento XVI e que ainda possui inúmeros amigos e admiradores nos círculos católicos mais conservadores.
Entre as figuras mais cosmopolitanas no Colégio Cardinalício, Schönborn igualmente conta com boa a avaliação por sua graciosidade pessoal e poder de fogo intelectual.
No Sínodo, quando Schönborn se colocava a falar as pessoas paravam e ouviam, pois sabiam que as suas alocuções seriam proveitosas.
Do lado conservador, Ouellet, 71, continua sendo uma personalidade atraente. Ele é visto como uma figura de profunda humildade e integridade pessoal, e como a principal autoridade vaticana nas nomeações dos bispos durante os últimos cinco anos, possui uma ampla rede de amigos no alto escalão.
Os conservadores podem preferir consolidarem-se em torno de um candidato africano, embora esteja aberto se seria Sarah ou Napier quem atrairia mais votos.
Sarah, por exemplo, pode ser considerado um pouco extremado – durante o Sínodo, ele se referiu à ideologia de gênero e aos ISIS como “bestas apocalípticas” – e os cardeais que lideram dioceses podem se perguntar se, após 15 anos trabalhando em Roma, ele não estaria distanciado demais da vida nas trincheiras.
Consequentemente, pode ser que os principais candidatos advindos dos países em desenvolvimento, conforme expresso pelas eleições sinodais, são Turkson (de Gana) e Tagle (das Filipinas).
Os dois são relativamente jovens: Turkson com 67 anos e Tagle com 58. Ambos são articulados, carismáticos e, provavelmente, contariam com um forte apoio entre os que estão comprometidos com a continuidade do atual papado.
Em comparação com estes dois, Turkson pode se sair melhor em angariar votos de todos os fronts. Ele é o rosto público de Francisco em se tratando de mudanças climáticas, por exemplo, mas também é uma espécie de prelado beligerante. (Em 2012, Turkson atiçou uma polêmica durante um Sínodo dos Bispos ao exibir um vídeo do YouTube alertando sobre uma tomada islâmica de poder na Europa.)
No momento, tudo isso não passa de um simples jogo de ideias, pelo motivo óbvio de que não há Conclave algum no horizonte. A dinâmica pode, e provavelmente irá, mudar entre o dia de hoje e quando o próximo Conclave vier a acontecer.
Mesmo assim, as eleições sinodais nos lembram de um importante insight a respeito da sucessão papal: em tese, pode-se sentar e projetar um perfil do papa perfeito e, na dianteira do próximo Conclave, muitos cardeais e analistas farão, sem dúvida, exatamente isso. No final das contas, entretanto, ficam tiverem algo a oferecer – e, neste momento, aqueles 12 prelados preenchem os requisitos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Quem irá substituir Francisco? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU