02 Outubro 2015
Por volta das 23h do último 18 de abril, três pessoas armadas entraram na sede da torcida organizada do Corinthians (Pavilhão 9), na zona oeste da capital, logo após um churrasco. Doze torcedores ainda estavam no local. Quatro deles conseguiram fugir, mas os demais foram obrigados a se ajoelhar e a deitar no chão. Todos foram executados.
Fonte: http://goo.gl/8K4MsN |
Sete morreram no local. A oitava vítima chegou a ser socorrida, mas morreu no hospital.
A reportagem é de Elaine Patricia Cruz, publicada por RBA, 01-10-2015.
As vítimas dessa chacina tinham entre 19 e 38 anos. Em entrevista, o parente de um dos torcedores assassinados, que pediu que sua identidade fosse mantida em sigilo, por medo de retaliação, disse que o jovem era estudante e trabalhador.
"Não tinha nenhum tipo de vício. A única coisa que ele gostava de fazer era torcer para um time de futebol", disse.
O jovem assassinado também não tinha passagem pela polícia. "E mesmo que eles [as vítimas] não estivessem trabalhando ou que estivessem fazendo bico. A coisa é o seguinte: por que está desempregado tem que morrer? Por que já passou pela polícia tem que morrer? E esses 19 que foram mortos lá em Osasco e que nem passagem tinham?", questionou.
A maioria das vítimas das chacinas ocorridas em São Paulo é jovem e mora na periferia, segundo representantes do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e da Defensoria Pública de São Paulo ouvidos pela Agência Brasil. Na chacina de Carapicuíba, por exemplo, ocorrida no dia 19 de setembro, três dos quatro mortos tinham menos de 18 anos: dois deles tinham 16 e um, 17 anos. Já nas chacinas de Osasco e de Barueri, do dia 13 de agosto, as vítimas tinham entre 15 e 41 anos.
"Existe um estereótipo. Geralmente [as vítimas] são pobres, de cor negra e jovens. E tem também estereótipo de linguagem e de comportamento coletivo. Isso tem hamado muito a atenção: a padronização da vítima", disse Rildo Marques, presidente do Condepe.
Segundo a defensora pública Daniela Skromov de Albuquerque, as vítimas ou os parentes das vítimas são pessoas "traumatizadas com as ações do Estado"."São pessoas já massacradas pela vida periférica que levam. E mais massacradas ainda pelo poder letal. É completamente enlouquecedor você passar uma vida ouvindo que a polícia serve para proteger, brinca de polícia e bandido, paga os impostos e, de repente, o imposto que você paga financiou a bala que matou o seu filho. Ou as balas, porque são várias", disse Daniela.
Débora Maria da Silva, que perdeu o filho na onda violenta de maio de 2006 no estado e ajudou a fundar o movimento Mães de Maio, diz que as vítimas das chacinas ou da violência policial são pessoas como seu filho: "pobre, preto e periférico". A questão da pobreza, segundo ela, tem um grande peso na "seleção" feita pelos executores. "Há brancos dos olhos azuis assassinados, mas eles não têm um CPF com conta bancária robusta. Matam aqueles que não tem acesso à Justiça", disse.
Um levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz com base em dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação junto à Secretaria de Segurança Pública revelou que as vítimas de chacinas são ainda mais jovens que as de homicídios praticados no estado de forma geral. "Entre as vítimas em chacinas temos quase 28% delas na faixa entre 15 e 19 anos e, comparado com homicídio normal, esse número não chega a 8%", disse Bruno Langeani, coordenador do instituto.
Ainda segundo o levantamento, a maioria das vítimas é do sexo masculino. "Olhando geograficamente, vemos que, infelizmente, grande parte das chacinas acontece nas periferias da capital e também há uma concentração na Grande São Paulo", acrescentou.
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Eu sei que Javé faz justiça ao pobre
e defende o direito dos indigentes.
Os justos louvarão o teu nome,
e os retos viverão na tua presença. .(Sl 140, 13-14)
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Jovens negros e pobres são maioria entre vítimas de chacinas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU