11 Setembro 2015
O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, foi surpreendido em Washington pelo novo revés da presidenta Dilma Rousseff: o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor’s.
Garcia está na capital dos Estados Unidos defendendo exatamente a solvência de seu país diante das dúvidas pela crise econômica e os escândalos de corrupção que afetam o gigante brasileiro. Segundo o assessor, que participou da XIX Conferência Anual da CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina) sobre os principais desafios da América Latina, o PT precisa “refletir” sobre alguns “erros” cometidos e apurar “responsabilidades”. Mas afirma que o partido está sendo vítima de uma campanha “criminalizadora” que não condiz com a realidade.
A entrevista é de Silvia Ayuso, publicada por El País, 10-09-2015.
Eis a entrevista.
O PT deve fazer um mea culpa pelos casos de corrupção que estão sendo revelados?
Não, o mea culpa é feito pelas entidades religiosas, e nós não somos uma. Isso que as pessoas muitas vezes dizem, que o partido está acabando, não é verdade. O partido tem uma capilaridade social extraordinária. E os erros que possa ter cometido, alguns deles graves, e inclusive as responsabilidades de alguns de seus dirigentes não vão comprometer isso.
O partido tem que fazer — e já está fazendo em certa medida — uma reflexão sobre sua trajetória. Mas deve pensar sobretudo no futuro, porque o que as pessoas querem são alternativas. O grande problema do Brasil hoje, que é um problema do Governo e dos partidos que o apoiam, mas também da oposição, é que não se sabe até onde estamos indo. Essa é a questão.
Mas há um descontentamento social muito grande e uma surpresa internacional com os casos de corrupção. Isso não está afetando o Governo?
Esse espanto internacional baseia-se numa gigantesca campanha para julgar pessoas antes da realização do julgamento. As detenções até agora são preventivas, não houve condenações no processo até agora. Não quero ser paranoico, mas há um projeto, uma tentativa de criminalizar o PT e seus dirigentes.
Com relação aos protestos, está bem claro o que a direita quer fazer. Durante um período, ela ficou um pouco desconcertada com o sucesso de nossos governos, mas saiu da perplexidade e aproveitou a conjuntura, que era favorável para ela em certa medida, e os erros que nós também cometemos, para empurrar a coisa.
Onde tropeçaram? O que aconteceu com os avanços dos últimos anos?
Não fomos capazes de construir uma narrativa sobre o processo de reformas, e assim é muito difícil avançar numa nova onda de reformas. Enquanto força política, a esquerda, o PT, e obviamente também o Governo não souberam explicar a narrativa das reformas. Lula era um pouco a narrativa.
Sua trajetória como alguém que veio de baixo era, em certa medida, um símbolo do que havia ocorrido com o Brasil. Alguém que veio de baixo se torna presidente da República, enquanto 42 milhões de pessoas saem da situação [de pobreza].
A situação interna afeta a imagem do Brasil no exterior?
Claro que afeta de algum modo, mas não acredito que seja uma questão irreversível. O Brasil hoje está enfrentando as dificuldades econômicas. Vencidas essas dificuldades, temos condições que se resolverão, seja a popularidade da presidenta ou a imagem do país. O que não significa que não tenhamos de agir para pensar nosso futuro. Hoje estamos submersos no presente, preocupados com o presente. E o futuro sempre tem dois dias.
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“O problema do Brasil hoje é que não se sabe para onde estamos indo”, constata assessor da Presidência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU