Por: André | 24 Abril 2013
A presidente das Avós da Praça de Maio, junto com outra integrante do organismo, Buscarita Roa, e o deputado Juan Cabandié, participará de uma audiência pública e depois receberá a saudação do Papa Francisco.
A reportagem está publicada no jornal Página/12, 23-04-2013. A tradução é do Cepat.
A presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, será recebida nesta quarta-feira no Vaticano por Jorge Bergoglio. Carlotto irá acompanhada de outra das avós, Buscarita Roa, e pelo deputado portenho e neto encontrado Juan Cabandié. No mês passado, como parte das repercussões da eleição de Bergoglio para Papa, a presidente das Avós o havia questionado no seu papel como autoridade máxima da Igreja na Argentina. “Bergoglio nunca falou nem se aproximou das Avós para nos ajudar”, havia recordado nesse sentido, para acrescentar que esperava que, como Papa, fizesse um “gesto” a favor da busca dos netos apropriados durante a ditadura.
Fontes do Vaticano confirmaram que o encontro acontecerá após a tradicional catequese das quartas-feiras na Praça São Pedro. O convite não é o primeiro sinal de Bergoglio dado aos organismos de direitos humanos, já que dias atrás mandou uma carta a Hebe de Bonafini.
Carlotto já se encontra em Roma, onde nesta quarta-feira, às 10h30 horário local, participará da audiência pública, depois da qual será saudada pelo Papa Francisco. Cabandié confirmou, por sua vez, que a acompanhará. “Eu tinha uma viagem prevista à Itália e como Estela recebeu o convite do Vaticano, combinamos em ir juntos”, assinalou o deputado.
A presidente das Avós foi uma das vozes que, após a eleição de Bergoglio, mantiveram distância dos elogios à sua figura. Em princípio, recordou que a hierarquia da Igreja católica argentina não deu “nem um passo para colaborar com a verdade, a memória e a justiça”, e nesse marco recordou que Bergoglio pertencia “a uma Igreja que obscurece o país”.
No dia 24 de março, quando, depois da marcha pelo novo aniversário do golpe de 1976, voltou a ser consultada sobre o tema, Carlotto, sem abandonar seu fundo crítico, expressou seu desejo de que, como Papa, Bergoglio fizesse “um gesto” na direção da busca dos netos apropriados.
“Sempre tivemos vontade de falar com ele. Esperávamos que nos convocasse como expoente máximo da nossa Igreja na Argentina. Mas nunca nos chamou, e o digo com dor, e para que se reverta essa situação, não para condenar. Nunca falou de nossos desaparecidos nem dos netos que estamos procurando”, assinalou.
Nesse sentido, a presidente das Avós expressou seu desejo de ser recebida por Bergoglio. “Podemos viajar, conversar e dar-nos a mão, o que nunca fizemos”, disse. Em resposta, o agora Papa – que vem demonstrando seu interesse em manter presença na cena argentina – lhe estendeu o convite para esta semana.
Dias atrás, Francisco também enviou uma carta à presidente da Associação de Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, respondendo a uma nota que a dirigente de direitos humanos havia enviado ao Vaticano. Na carta, um colaborador do Papa assegurou a Bonafini que Bergoglio “compartilha sua dor” e a de quem “sofreu e sofre a perda trágica de seus entes queridos” durante a última ditadura.
Por outro lado, nesta segunda-feira houve o anúncio de que Bergoglio desbloqueou a beatificação de Oscar Romero, o sacerdote salvadorenho assassinado em 1980 por paramilitares da direita por sua defesa dos direitos humanos. O processo de sua beatificação esteve freado durante os papados de João Paulo II e Bento XVI, que desaprovavam as posturas da Teologia da Libertação como um desvio perigoso, segundo eles, do cristianismo para a luta de classes preconizada pelo marxismo.
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Avó da Praça de Maio é recebida pelo Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU