As disputas envolvendo a Pontifícia Universidade Católica do Peru  - PUCP - diminuem a capacidade da Igreja de dialogar num ambiente cada vez mais secularizado, destaca Francis McDonagh, correspondente dos jornais católicos Tablet, de Londres, National Catholic Repórter, e membro do Gay Christian Movement, UK, em artigo enviado para o sítio do IHU, 04-02-2013.

Eis o artigo.

Fontes da Igreja Católica no Peru confirmaram a chegada à nunciatura apostólica em Lima de uma carta do arcebispo Gerhard Müller, prefeito da Congregação da Doutrina da Fé (CDF), endereçada ao cardeal Juan Luis Cipriani, arcebispo de Lima, questionando sua decisão de não renovar o mandato canônico dos professores do departamento de teologia da Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP).  Na carta, copiada à Congregação da Educação Católica e ao presidente da conferência episcopal do Peru, o arcebispo Müller pede as justificativas do cardeal para a medida tomada horas antes do fim do ano letivo 2012, diz que a medida do cardeal está suspensa até que a CDF avalie a situação, e que uma decisão final sobre o departamento compete unicamente à CDF.

De acordo com as fontes consultadas em Lima, a carta do arcebispo Müller veio como resposta imediata (‘no dia seguinte’) a uma carta enviada ao cardeal pelas autoridades universitárias em janeiro. A notícia da carta causou alegria entre os professores de teologia e os estudantes da PUCP.  Um professor comentou:  ‘Tenho certeza que vou ensinar teologia no próximo semestre.’ Agregou: ‘Esta carta muda totalmente o cenário.’

Parece que o próximo passo é que o reitor escreva ao arcebispo Müller perguntando formalmente se se pode retomar as aulas de teologia no próximo semestre, que começa em 18 de março.

Outra notícia revelada pelas fontes eclesiásticas é que o Decreto de julho de 2011 que anunciou a decisão da Santa Sede de retirar à PUCP os títulos ‘Pontifícia’ e ‘Católica’ nunca foi executado, em parte devido à reticência por parte da Congregação da Educação Católica, a quem cabe executar a medida, e também por motivos políticos e constitucionais no Peru. Para executar a medida do Vaticano no Peru, se teria que recorrer ao acordo que governa as relações entre o Estado do Peru e o Estado do Vaticano.  Este acordo, assinado pelo regime militar dias antes de deixar o poder em 1980, nunca foi validado pelo Congresso peruano.  Segundo analistas peruanos, se fosse feito um apelo a este acordo agora, o próprio acordo poderia cair.

Estes acontecimentos não afetam a disputa principal entre o arcebispo de Lima e a PUCP, sobre a administração dos bens da universidade.  Ainda neste ponto, dizem as fontes, existe um esboço de um acordo, mas paira a dúvida se tanto o cardeal como as autoridades da PUCP realmente querem um acordo.  Dentro da PUCP há grupos que gostariam de ver uma maior distância entre a universidade e a Igreja.

Na opinião de observadores que trabalham na educação católica o resultado do conflito é uma perda de credibilidade da igreja entre os jovens universitários e o mundo da cultura.  A disputa, dizem, diminui a capacidade da Igreja de dialogar num ambiente cada vez mais secularizado.