20 Outubro 2012
"Podemos afirmar aos agricultores que ainda dependem da produção de tabaco para sua subsistência que este é o momento de avançar no debate sobre diversificação e outras alternativas, pois no futuro esta será uma questão de sobrevivência", escreve Luiz Carlos Corrêa da Silva, pneumologista e coordenador do Programa de Controle do Tabagismo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 19-10-2012.
Eis o artigo.
Como o consumo mundial de fumo tende a reduzir-se, progressivamente, até sua extinção, o Brasil, maior exportador do produto, precisa se preparar para essa nova realidade. As 180 mil famílias de agricultores que hoje ainda dependem dessa fonte de renda preocupam o governo, os setores que têm relação com a produção agrícola e seus resultados e, também, as entidades médicas e as instituições cujo maior objetivo é promover a saúde e a vida.
Recentemente, participamos de um seminário sobre este tema organizado pela Conicq (Comissão Nacional para Implementação da Convenção Quadro – tratado internacional para controle do tabagismo), em Brasília, na sede da Organização Pan-Americana da Saúde. Nesse evento, preparatório à conferência mundial em Seul, em novembro próximo, discutiram-se principalmente os artigos 17 e 18 da Convenção Quadro, que versam, respectivamente, sobre a diversificação de cultivos para os agricultores envolvidos predominantemente com o plantio de fumo e a proteção da saúde deles e do meio ambiente.
Algumas constatações e conclusões que ficaram desse encontro:
(1) os diversos setores do governo estão se alinhando mais uniformemente em relação à Convenção Quadro, pois este compromisso é do Estado brasileiro e, como tal, precisa-se promover, em conjunto, as mudanças para controle do tabaco e do tabagismo;
(2) faz-se necessária uma política agrícola mais condizente com as necessidades dos plantadores de fumo para que a multicultura não seja apenas para subsistência, mas, sim, que passe a ser o item principal de negócio para esses pequenos agricultores, pois o mundo precisa cada vez mais de alimentos e cada vez menos de fumo;
(3) não haverá proibição do plantio de fumo nem restrição das áreas para este cultivo;
(4) agricultores que já praticaram a diversificação para plantio de alimentos estão satisfeitos;
(5) a influência da indústria do tabaco, como agente de controle e monopólio, deverá ser modificada pela maior atuação das cooperativas e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Podemos afirmar aos agricultores que ainda dependem da produção de tabaco para sua subsistência que este é o momento de avançar no debate sobre diversificação e outras alternativas, pois no futuro esta será uma questão de sobrevivência. Afinal, o mundo que queremos para todos é um mundo com mais saúde e menos doenças e dependências, seja da nicotina, seja do sistema monopolista de produção, que não dá alternativas aos próprios agricultores. Um mundo com mais liberdade para que todos possam optar pelo que querem produzir, sem compromissos com apenas uma instituição que aparentemente ajuda, mas, acima de tudo, escraviza e impede iniciativas para mudanças e expansões.
O futuro só existe quando se pode fazer opções, conquistar alternativas diversificadas e apoiadas por quem de direito e dever, e quando se valorizam o trabalho e o bem comum.
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Um futuro para o fumicultor, por Luiz Carlos Corrêa da Silva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU