21 Mai 2012
Michel Martelly comemorou esta semana seu primeiro ano na presidência do Haiti como se fosse o primeiro dia.
Mal passada a quarta-feira, o presidente haitiano, um ex-músico muito popular, conseguiu formar pela segunda vez um governo, depois de superar um novo episódio da crise política que manteve paralisada a reconstrução da ilha, devastada em janeiro de 2010 por um terremoto que matou cerca de 300 mil pessoas.
A reportagem é de Maye Primera, publicada pelo jornal El Pais e reproduzida pelo Portal Uol, 21-05-2012.
Um ano depois de sua posse, 500 mil haitianos continuam vivendo em acampamentos para desabrigados. A epidemia de cólera, que eclodiu em outubro de 2010 e causou a morte de cerca de 7.000 pessoas, continua cobrando vidas. E centenas de soldados armados tomaram os velhos quartéis para exigir que o presidente cumpra sua promessa de restabelecer o exército, desmontado em 2004 depois da queda do então mandatário, Jean-Bertrand Aristide.
Martelly era um cantor de "kompa" (música popular, mistura de reggae, soka e merengue) quando assumiu a presidência do Haiti, em 14 de maio de 2011, sob uma tenda que fazia às vezes de Parlamento, em meio a um apagão elétrico. Era a primeira vez na agitada história do Haiti que um presidente eleito recebia o poder das mãos de outro, também eleito pelo voto popular. Foi a estreia política de Martelly, e os haitianos o levaram até lá justamente pelo cansaço da política de partidos e por seu carisma. Mas essa aposta não deu os resultados esperados.
Desde que assumiu o poder, Martelly se envolveu em uma guerra política com o Parlamento - que conta com uma maioria de deputados partidários de René Préval, o presidente anterior - que paralisou seu governo. Durante esse primeiro ano, nomeou quatro primeiros-ministros e só dois obtiveram aprovação do Parlamento. O primeiro deles, o médico Garry Conille, assumiu o cargo cinco meses depois da instalação do novo governo e renunciou em fevereiro passado. Depois de três meses de vazio político, na quarta-feira tomou posse como primeiro-ministro Laurent Lamothe, ministro das Relações Exteriores, ex-tenista e empresário de telecomunicações que fez fortuna na África.
O presidente Martelly e seu novo primeiro-ministro têm os mesmos desafios de um ano atrás. Dos 650 mil haitianos que em maio de 2011 ainda viviam em acampamentos para desabrigados pelo terremoto, só 150 mil foram realojados. A maioria deles recebeu dinheiro do governo ou das prefeituras para desocupar as praças públicas e os terrenos privados onde levantaram suas tendas de campanha há mais de dois anos.
Por outro lado, a epidemia de cólera que começou em outubro de 2011 e matou cerca de 7.000 pessoas continua fazendo vítimas, embora o governo diga tê-la controlado. De acordo com o Departamento para Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, os casos de cólera quadruplicaram em abril e estima-se que este ano mais 250 mil pessoas poderão adoecer. "Se fez muito pouco para pensar que o cólera não voltaria em 2012. É preocupante que as autoridades sanitárias não estejam melhor preparadas e que se aferrem a mensagens tranquilizadoras que nada têm a ver com a realidade", indicou a respeito Gaëtan Drossart, coordenador-geral da missão da Médicos Sem Fronteiras no Haiti.
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Haiti, entre o cólera e a paralisia política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU