O silêncio das plantas. Wisława Szymborska na oração inter-religiosa desta semana

Foto: Pixabay

19 Dezembro 2025

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações, músicas e versos de diferentes espiritualidades e religiões, mergulhamos no Mistério que são a absoluta transcendência e a absoluta proximidade.

Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo e colaborador do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

O silêncio das plantas

A relação unilateral entre mim e vocês

até que não vai tão mal.


Sei o que é folha, caule, pétala, pinha e espiga

e o que lhes acontece em abril e em dezembro.


Embora minha curiosidade não seja recíproca,

me debruço só para ver algumas de vocês

e para ver outras ergo a cabeça.


Dou-lhes nomes:

bordo, bardana, hepática,

urze, zimbro, visco, miosótis,

mas vocês não me dão nenhum.


Partilhamos a mesma viagem.

Durante uma viagem conjunta é costume conversar, afinal,

trocar impressões, nem que seja sobre o tempo

ou sobre as estações que passam no trajeto.


Não faltariam assuntos, pois temos muito em comum.

Essa mesma estrela nos mantém sob seu alcance.

Projetamos sombras na base das mesmas leis.

Procuramos saber algo, cada qual do seu jeito,

e somos parecidos também no que não sabemos.


Perguntem, e eu lhes explicarei como puder:

o que é isso de ver com os olhos,

para que bate meu coração

e por que meu corpo não tem raízes.


Mas como responder a perguntas não feitas,

se além disso se é alguém

que para vocês é tão ninguém.


Epífetas, arvoredos, prados, juncos —

tudo que lhes digo é monólogo

e não são vocês que escutam.


Uma conversa entre nós é imperiosa e impossível.

Urgente na vida apressada

e adiada para nunca.


Wisława Szymborska
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Wisława Szymborska (nascida Maria Wisława Anna Szymborska; Kórnik, 2 de julho de 1923 — Cracóvia, 1 de fevereiro de 2012) foi uma escritora polonesa ganhadora do Prêmio Nobel de literatura em 1996. Poeta, crítica literária e tradutora, viveu em Cracóvia. Sua extensa obra, traduzida em 36 línguas, foi caracterizada pela Academia de Estocolmo como "uma poesia que, com precisão irônica, permite que o contexto histórico e biológico se manifeste em fragmentos da realidade humana", tendo sido definida como "o Mozart da poesia". É a poeta polonesa mais traduzida no exterior. (Fonte: Wikipédia)

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