10 Novembro 2025
Em sua décima e última carta à comunidade internacional, o embaixador brasileiro convida os quase 200 países participantes a "fazer história como aqueles que escolheram a coragem em vez da omissão, para virar o jogo na luta climática". "Devemos abraçar esse privilégio como responsabilidade – pelas pessoas que amamos, pelas gerações que vieram antes e pelas que ainda virão, salientou Corrêa do Lago.
A reportagem é de Lúcia Müzell, publicada por RFI, 09-11-2025.
A presidência brasileira da maior reunião multilateral para tratar da mudança climática deseja que essa seja a COP da ação, com a implementação das promessas feitas até aqui e a aceleração da transição para uma economia de baixo carbono. Para isso, é preciso passar "de uma burocracia para uma transformação, do debate para a mobilização”, disse o embaixador, ao insistir na sua ideia de "Mutirão Global” pelo clima.
Corrêa do Lago lembrou que o início da cooperação internacional para combater as mudanças do clima também ocorreu no Brasil, há 33 anos, na Rio 92. "Por mais de 30 anos de negociações, dependemos do consenso para agir. Convidamos as partes a enxergarem o Mutirão como um experimento no qual cooperamos primeiro – buscando soluções em conjunto como forma de construir confiança e criar espaços de consenso”, sugeriu ele, ao pedir que a COP30 seja "um laboratório de soluções, reunindo mentes brilhantes de todos os povos da Terra”.
‘Trabalho maior do que nós’
Além de governos de pelo menos 191 países – dos 196 que fazem parte da Convenção da ONU sobre o tema –, a COP reúne cientistas, pesquisadores, empresas e membros da sociedade civil. A expectativa é que cerca de 50 mil pessoas participem do evento. Os Estados Unidos, maiores emissores históricos de gases de efeito estufa, informaram que não enviarão uma delegação oficial a Belém.
Em sua última carta, Corrêa do Lago disse esperar que os países trabalhem no espírito de uma equipe, "capaz de canalizar a inteligência coletiva da humanidade e o melhor que podemos oferecer individualmente em prol de nosso propósito comum: proteger nossas sociedades, economias e ecossistemas”, afirmou. "Este trabalho é maior do que nós. Este trabalho é maior do que o agora.”
No sábado, o diplomata havia divulgado mais uma carta, sua nona desde que foi designado à presidência da Conferência do Clima em Belém. No texto, conclamou os participantes a trazerem respostas às lacunas de implementação e ambição do mundo na queda das emissões. A diminuição dos gases que provocam o aquecimento do planeta passará principalmente pelo setor de energia, responsável por 75% do problema.
As respostas, completou o embaixador, devem ser "voltadas à solidariedade, à cooperação internacional e à implementação acelerada” das diferentes medidas que possibilitam manter vivo o objetivo de limitar a alta das temperaturas da Terra a 1,5 °C até o fim deste século.
“O desafio que se coloca não é apenas identificar o que falta, mas mobilizar o que impulsiona – converter os déficits de ambição, financiamento e tecnologia em forças de aceleração”, declarou Corrêa do Lago.
Combate ao metano, tão nocivo quanto o CO2
Neste domingo, Brasil e Reino Unido lançam uma iniciativa para promover a diminuição das emissões de metano, hidrofluorocarbonos (HFCs) e outros gases além do CO2 que também são responsáveis pelo aquecimento global. Uma das principais fontes de emissões de metano é a pecuária.
Representantes de China, Barbados, França e Alemanha, além da Climate and Clean Air Coalition e da Bloomberg Philanthropies, participaram de uma reunião realizada em Belém. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, representou o país.
O metano é capaz de acumular quase 30 vezes mais calor do que o CO2, mas sua duração na atmosfera é de curto prazo. Por isso, o combate às emissões deste gás representa a forma mais imediata de desacelerar as mudanças climáticas.
Brasília e Londres lançaram um Acelerador de Ação dos Países sobre Superpoluentes, focado na diminuição das emissões destes gases em 30 países em desenvolvimento, até 2030. O pacote inicial prevê um investimento de US$ 25 milhões em sete nações: Brasil, Camboja, Indonésia, Cazaquistão, México, Nigéria e África do Sul.
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