15 Outubro 2025
"Crer não é ver: é confiar em um vivente. Pediam provas a Jesus, e ele pedia confiança sincera", escreve Enrico Peyretti, teólogo, ativista italiano, padre casado e ex-presidente da Federação Universitária Católica Italiana (Fuci), em artigo publicado por Rocca, n.º 20, 15-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Quem crê em Deus, o que crê? Um amigo não crente da minha geração (agora bem velha) me faz essa pergunta. Naquela época, muitos de nós renunciaram a Deus porque, ao longo do caminho, encontraram uma espécie de alfândegas, a Igreja, a religião, um sistema proprietário de Deus: o conseguia para você segundo suas próprias regras, condições e preços - doutrinas e dogmas autoritários. Estava nas mãos do clero. Uma moral minuciosa e obsessiva podia, a qualquer momento, fazer com que você perdesse graça de Deus: isto é, Deus não lhe amava mais e, se morresse naquele dia, iria para o inferno. Deus era um perigo, não amor! Estou exagerando (mas nem muito) para transmitir a ideia. Havia também cristãos bons e generosos, até padres, mas sobretudo mulheres: mães e avós! Eram elas que transmitiam o Evangelho, sem muitos medos. Mas nem para todos nós, jovens, aquele Evangelho superava a idade crítica.
Enquanto isso, eu entendia que a Igreja, tendo se tornado uma realidade social consistente, havia sido "absorvida" pelo Império Romano, naquele modelo vertical, imperial. Depois, o Sacro Império Romano, as lutas entre papas e imperadores, e as guerras cristãs de conquista. Havia os mais sagrados e os menos sagrados, os comandantes e os obedientes. A partir do segundo milênio, uma Igreja poderosa havia chegado até nós, governada por homens (e nunca mulheres) convencionalmente assexuados, uma espécie de magos do sagrado. (Sobre "clericalismo", veja o que o Papa Francisco dizia no Google.) E, no entanto, podíamos reconhecer um pouco do Evangelho puro naquele veículo histórico.
Direi àquele amigo que, apesar daquela rígida estrutura sagrada, continuei a ter esperança de crer em Deus ("Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!", Marcos 9,24) porque belos testemunhos, relativizando tudo o mais, me deram fé no Bem. O Bem vivo era o verdadeiro nome de Deus, não genérico e ambíguo, não útil aos poderosos.
Minha geração respirou aquele ar pesado, mas, graças a Deus, sentiu a chegada da nova teologia, do ecumenismo, da leitura pessoal e comunitária dos Evangelhos, até o evento e os frutos do Concílio, que vivenciamos profundamente. Os limites nunca faltam, mas o Evangelho se tornou maior que a Igreja, refletido na Igreja, nas consciências e não mais um monopólio do clero.
A Igreja, mais humilde, é mais capaz de comunicar o Espírito do Evangelho: pede escuta, não subserviência. Hoje sabemos que Jesus prometeu: "onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mateus 18,20). Essa é a Igreja. Os problemas são muitos, mas esse é o espírito, parece-me.
Então, meu amigo, em que crê o crente? Crê que existe um Ser todo-poderoso, que, no entanto, não liberta o mundo do mal? Mas quem tem provas disso? A palavra "deus" é terrivelmente ambígua; significa coisas opostas. Crer não é ver: é confiar em um vivente. Pediam provas a Jesus, e ele pedia confiança sincera. "Ninguém jamais viu a Deus": o diz o Evangelho (João 1,18), e diz que o Filho unigênito o explicou, o mostrou a nós (egsegésato).
O "Deus dos filósofos" não é tão vivo e presente. Deus também é pensado de maneiras úteis para comandar.
"Deus conosco!" ainda hoje é uma arma dos poderosos, não apenas de Hitler. Os pós-teístas agora dizem que é a energia do universo, impessoal. Jesus fala dela como Pai, Vivente que dá a vida. Os cristãos creem no Pai porque o encontram na pessoa e na vida do homem Jesus, forte e bom, profeta derrotado pelo mundo, submetido a uma morte vergonhosa, mas sempre presente, vivo, que fala ao nosso espírito com o Seu Espírito, o mesmo do Pai. Em todas as religiões e sabedorias há um sentido, mais ou menos claro e forte, de um Bem da vida, uma luz que inspira uma vida justa entre nós, em nosso reconhecimento mútuo, e nos ajuda a superar a desumanidade, até mesmo a ter esperança na felicidade, com o passar do tempo. Com esse sopro, podemos viver, sem nos desesperar.
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