14 Fevereiro 2025
"O ponto crucial de uma política de migração moderna e funcional, portanto, deveria ser o mesmo para a direita e para a esquerda: separá-la das pressões xenófobas, se não abertamente racistas, que geralmente acompanham esse ressentimento e que, em vez disso, são alimentados pelas forças mais extremas e irresponsáveis".
O artigo é de Antonio Polito, jornalista, publicado por Corriere della Sera, 11-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Se um dos (poucos) governos de esquerda na Europa imita Trump e organiza um show de deportação de imigrantes, mostrados na TV enquanto são parados nas batidas, reunidos em centros, colocados em um ônibus e levados em fila para a escada de embarque do avião sob escolta policial, isso significa que a direita e a esquerda não existem mais ou que o problema é o mesmo para todos?
O primeiro-ministro britânico Starmer, pressionado por pesquisas impiedosas que sinalizam a ascensão da direita xenófoba de Farage, está obedecendo a um velho ditado inglês: “If you can’t beat them, join them”, se não pode vencê-los, junte-se a eles.
Nada garante que consiga, muito pelo contrário. Talvez os eleitores prefiram o original em vez de uma imitação. Afinal, o fato do problema ser sério para o eleitorado britânico já tinha ficado evidente desde a época do Brexit, feito também para expulsar os italianos acusados de tirar empregos e bem-estar dos britânicos, sem falar nos afegãos. De fato, o governo conservador de Sunak tinha chegado a cogitar levar os indesejáveis para Ruanda. E Starmer, do Partido Trabalhista, tinha ido a Roma falar com Giorgia Meloni para estudar a solução da Albânia (depois deve ter desistido, dado o resultado). Mas em toda a Europa, quando a esquerda está no governo, adota políticas cada vez mais rígidas contra a imigração ilegal. O chanceler Scholz suspendeu Schengen no último outono por seis meses (sem mencionar o que o “popular” Merz está prestes a fazer); o espanhol Sanchez está tentando com Gâmbia, Mauritânia e Senegal os mesmos acordos que Meloni fez com a Tunísia e, antes dela, Minniti com a Líbia (ambos com algum sucesso); sem mencionar os socialistas dinamarqueses, os mais severos.
Até Biden havia promulgado uma ordem executiva para barrar imigrantes na fronteira do México, além de certo número de entradas. Só que, para usar novamente um ditado inglês, foi too little, too late, muito pouco, muito tarde, muito pouco, para deter a maré Maga. Na verdade, essas operações precisam de espetáculo para alcançar o efeito midiático que almejam (geralmente maior do que o efeito concreto). Isso é o que Starmer deve ter pensado. E talvez seja o que Meloni busca, até agora sem sucesso, nos campos da Albânia.
A verdadeira distinção, de fato, não é mais entre uma direita má que rejeita e uma esquerda boa que acolhe. É mais entre aqueles que estão no governo e expulsam, e aqueles que estão na oposição e se indignam. E a razão está no fato de que o problema não é apenas eleitoral, mas real. Ou se encontra uma solução para não os deixar sair de seus países, e o ideal seria justamente um “Plano Mattei” pan-europeu, ou seja, promover o desenvolvimento nos países de origem para reduzir a pressão migratória; mas isso leva décadas e bilhões, não é algo que dá resultados em uma semana.
Ou são mandados de volta assim que chegam, que é o método Trump-Starmer. Se você não fizer nada, ou se apenas der a ideia de não fazer nada, logo entrará para a oposição, porque se mostrará incapaz de enfrentar um dos problemas cruciais hoje no Ocidente.
De fato, com o início do milênio, sumiu no ar qualquer receita nacional que antes era capaz de manter unidas as classes dirigentes e populares: o melting pot ao estilo estadunidense, o assimilacionismo ao estilo francês, o multiculturalismo ao estilo inglês, o solidarismo ao estilo italiano. Nos vinte anos de raiva, em que o ressentimento tomou o lugar da política (conforme o título de um excelente livro de Carlo Invernizzi-Accetti), os nativos, especialmente os mais pobres, sentiram-se esquecidos, forgotten men, rebaixados, humilhados pela globalização e pelo establishment. E eles descontaram nos “recém-chegados”, que consideram a causa mais visível e próxima de sua derrota, de sua perda de status antes mesmo que de bem-estar real.
É claro que os imigrantes não são os culpados, muitas vezes os verdadeiros “últimos”, as verdadeiras vítimas. E também é verdade que precisamos, e muito, dos imigrantes, e aliás eles costumam ser a mão de obra de baixo custo de nossas opulentas sociedades servis de massa. Mas são argumentos que não bastam a dissolver aquele grumo de ansiedade; pelo contrário, geralmente direcionam a raiva eleitoral contra aqueles que os usam para propor um acolhimento mais amplo e quase ilimitado. Argumentos racionais, mas que não contam diante de um sentimento de raiva: quando você tem que lutar por uma vaga na creche, por uma casa popular, por assistência social, pelo salário ou pela segurança do seu bairro.
O ponto crucial de uma política de migração moderna e funcional, portanto, deveria ser o mesmo para a direita e para a esquerda: separá-la das pressões xenófobas, se não abertamente racistas, que geralmente acompanham esse ressentimento e que, em vez disso, são alimentados pelas forças mais extremas e irresponsáveis. Administrá-la, sem transformá-la em um choque de civilizações. Administrá-la, mas salvando os princípios liberais de nossas sociedades.
Certamente não é fácil. Mas se não se começar sequer a pensar dessa forma, é inútil ficar depois surpreso se a esquerda de Starmer fizer como a direita de Trump.