Apresentação do Senhor – Ano C – A missão de anunciar Jesus, Luz do mundo

30 Janeiro 2025

"Simeão e Ana representam, quase nos mesmos termos de Zacarias e Isabel, os justos que esperavam a salvação de Deus – o grupo conhecido no Antigo Testamento como os “pobres de Javé”. Antes de descrever o papel profético de Ana, Lucas faz referência ao justo e piedoso Simeão. O fato de falar primeiro de Simeão e dar a este fato um volume maior no texto, revela o modelo patriarcal da época. Mas, precisamos destacar que a profetisa Ana aparece aqui exercendo um papel de profetisa. Seu nome significa cheia de graça, graciosa."

A reflexão é de Amélia Hakme Romano. Ela é biblista leiga e faz parte do CEBI-Mato Grosso do Sul, colaborando com escolas e grupos de estudos bíblicos. Atua como facilitadora da Palavra em cursos, encontros , escolas e comunidades.

Leituras do dia

1ª leirura: Ml 3,1-4
Salmo: Sl 23(24),7.8.9.10 (R. 10b)
2ª leitura: Hb 2,14-18 ou mais breve 2,22-32
Evangelho: Lc 2,22-40

Ó luz do Senhor
Que vem sobre a terra
Inunda meu ser
Permanece em nós”!

Eis a reflexão.

Na liturgia deste domingo, somos convidadas/os a meditar, refletir e orar a partir das leituras de:

- Ml 3,1-4 que traz a mensagem do profeta para o povo que esperava a salvação de Deus: “Ei-lo que chega!”
- Salmo 24 proclama que “o rei da glória é o Senhor onipotente”.
- Carta aos Hebreus 2, 14-18 nos diz que “o Salvador veio para libertar os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão”.
Evangelho Lc 2,22-40 relata a apresentação do menino Jesus no templo.

Evangelho: Lc 2,22-40

Versículos 22-24: O texto realça que Jesus é levado pelo seu pai e sua mãe ao templo para cumprir a Lei prescrita por Moisés. Essa consagração está no Livro do Êxodo, capítulo 13, versículos 1 e 2, que diz: “Yahweh falou a Moisés: Consagra-me todo primogênito, todos o que abre o útero materno, entre os israelitas. Homem ou animal, será meu.”

No versículo 24 o texto destaca que era necessário ofertar um par de pombinhos ou rolas para a purificação de Maria. Neste sentido, a oferta realizada faz-se cumprir a Lei apresentada no livro do Levítico, capítulo 12, versículos de 6 a 8 Que diz: "quando uma mulher conceber e der à luz um filho, ficará impura durante sete dias”. Jesus, desde o momento da sua concepção, é, um ser constituído em meio a exclusão social, convivendo com pessoas desprovidas de condições fundamentais a uma vida digna e plena, podemos dizer, era todo o povo de Nazaré.

v.25-35: Lucas faz referência nestes versículos ao encontro entre o justo Simeão e o menino Jesus, concretizando a revelação que o Espírito Santo lhe tinha concedido, onde diz que “ele não morreria sem antes ver o Messias do Senhor” (Lc 2, 26).

Simeão e Ana representam, quase nos mesmos termos de Zacarias e Isabel, os justos que esperavam a salvação de Deus – o grupo conhecido no Antigo Testamento como os “pobres de Javé”. Antes de descrever o papel profético de Ana, Lucas faz referência ao justo e piedoso Simeão. O fato de falar primeiro de Simeão e dar a este fato um volume maior no texto, revela o modelo patriarcal da época. Mas, precisamos destacar que a profetisa Ana aparece aqui exercendo um papel de profetisa. Seu nome significa cheia de graça, graciosa.

É de notar que, no seu canto, Simeão proclama: “Agora, Senhor, podes deixar teu servo partir em paz, segundo a tua palavra. Porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos, luz para iluminar as nações e glória de teu povo Israel” (Lc 2, 29-32), simbolizando que as esperanças dos justos da Antiga Aliança agora estavam se realizando em Jesus. Assim como na visitação, a idosa Isabel, símbolo também dos justos, acolhia com alegria a chegada de Maria com Jesus, agora Simeão e Ana recebem com a mesma alegria a novidade da Nova Aliança, concretizada em Jesus. Lucas coloca juntos homem e mulher, um tema comum nos seus escritos (cf. Lc 4,25-28; 4,31-39; 7,1-17; 7,36-50; 23,55–24,35; At 16,13-34). Com isso, Lucas insiste que mulher e homem se colocam juntos diante de Deus. São iguais em dignidade e graça, recebem os mesmos dons e têm as mesmas responsabilidades.

Simeão abençoa ao pai José e a mãe de Jesus e anuncia para ela: “Eis que este menino será causa de queda e reerguimento de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição” (Lc 2, 34).

V 36: Havia também uma mulher profetisa chamada Ana. Profetisa significa pregadora, alguém que fala diante de outrem. Como seria possível que Ana, que não era somente mulher, mas uma mulher idosa e, além disso, viúva, pudesse profetizar no templo naquela época? Naquela época a cultura era patriarcal, as mulheres não tinham identidade própria, eram reconhecidas como filhas, esposas ou mães em relação aos homens. Na narrativa, seu marido falecido não é identificado pelo nome, mas como marido de Ana. Ana ser reconhecida como profetisa é um fato especial.

v.37. Ficou viúva e chegou aos 84 anos. Não saia do templo, servindo a Deus dia e noite com jejuns e orações, ela “Dava graças e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (Lc 2,38). Que força e influência tem Ana! Como viúva, Ana é comparável com grandes mulheres da história de seu povo. Podemos lembrar de Rute e Noemi, viúvas, Judite, a guerreira na luta pela liberdade de seu povo. Ana é uma mulher forte, uma mulher que não desiste. Resiste e alimenta a esperança. Neste texto a mulher não fala, enquanto seis versículos são fala de Simeão (29-32.34-35). Na nossa narrativa os autores apresentam Ana agradecendo a Deus e falando do menino, ela não diz uma única palavra. No texto a mulher está muda.

Quando Lucas escreve esta história, já temos grupos de viúvas organizadas e que prestavam serviços organizados nas comunidades cristãs.

Lançando um olhar para as nossas comunidades hoje: Como sentimos as estruturas patriarcais em nosso meio? Temos voz e vez? Anunciamos Jesus e seu projeto de vida plena?

Assim como Ana, como mulheres, temos um potencial, uma força que parece frágil, mas é capaz de levar adiante a luta pela vida com resistência, sonhando e alimentando o desejo de ver acontecer, mulheres e homens iguais em dignidade e graça, com os mesmos dons e as mesmas responsabilidades.

Festa das Luzes

Celebrada no dia 2 de fevereiro, data em que a Igreja faz memória da Festa Litúrgica da Apresentação do Senhor, Nossa Senhora das Candeias, da Luz, da Purificação ou da Candelária – todos estes títulos designam a mesma Nossa Senhora.

No Brasil e em Portugal é uma das devoções mais populares. Sua origem está relacionada com a purificação de Maria e a apresentação do Menino Jesus no Templo, quarenta dias após o seu nascimento.

A festa é marcada por procissões com velas acesas, que simbolizam a luz que Jesus Cristo trouxe ao mundo. No Ev. de João 8,12, Jesus diz: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”.

Somos convidadas/os a receber essa luz e multiplicar as ‘grandes maravilhas’ operadas em Maria pelo Senhor. Assim como Jesus é luz de todas as nações, todos as discípulas/os seus, no cotidiano da vida podem ser também a luz do Senhor.

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