22 Novembro 2024
As minas antipessoais e os resíduos bélicos explosivos são um pesado legado das guerras, que persiste mesmo depois dos acordos de paz serem assinados e as hostilidades cessarem. O relatório Land Mine Monitor 2024, divulgado ontem pela Campanha Internacional pela Proibição de Minas Terrestres (ICBL), mostra um aumento dramático no número de mortes causadas por explosões de minas terrestres: no ano passado, foram quase 2.000 e mais de 3.600 feridos, totalizando 5.757 vítimas nos vários países do mundo. Um número que confirma o aumento não desprezível do número de vítimas, de 4.710 em 2022, ainda mais grave considerando que 84% delas são civis, incluindo muitas crianças (mais de um terço do total).
A reportagem é de Valerio Palombaro, publicada L'Osservatore Romano, 21-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Mianmar, dilacerado pelo conflito entre a junta militar no poder e grupos rebeldes, registrou pela primeira vez o maior número anual de mortes (1.003), substituindo a Síria nesse triste primado. O país do Oriente Médio, marcado pelas consequências do conflito que eclodiu há 13 anos, permanece em segundo lugar no mundo em termos de número de vítimas, seguido pela Ucrânia e pelo Afeganistão.
O relatório documenta o uso alarmante desses “dispositivos traiçoeiros”, como o Papa Francisco os definiu, por Estados que não fazem parte do Tratado de Proibição de Minas, ou seja, a Convenção de Ottawa de 1999: Mianmar, Rússia, Irã e Coreia do Norte.
Essa importante Convenção, atualmente ratificada por 164 Estados, nunca foi assinada por países importantes como China, Rússia, Índia, Paquistão e Estados Unidos. As minas antipessoais também são amplamente utilizadas por grupos armados não estatais, principalmente no Sahel, na Colômbia, na Índia, em Mianmar, no Paquistão e em Gaza. Um total de 58 estados ainda estão contaminados por minas antipessoais. Mas em 2023 também houve alguns avanços positivos em relação à recuperação de campos minados: 33 países com obrigações nesse sentido “limparam” mais de 280 quilômetros quadrados de território, uma área igual à de todo o Reino Unido. O Camboja e a Croácia, em particular, lideraram esse progresso, limpando quase 210 quilômetros quadrados de terra, ou 75% do total.
O ano de 2024 também é caracterizado por um recorde histórico no financiamento global para ações contra as minas, ultrapassando pela primeira vez o valor de 1 bilhão de dólares. No entanto, esses financiamentos estão diminuindo para países como o Afeganistão e o Iêmen, que também enfrentam sérios problemas ligados a serviços de saúde e de reabilitação para os feridos. “Por trás dessas preocupantes estatísticas sobre as vítimas existem pessoas tentando reconstruir suas vidas após o impacto devastador das minas. Muitas vítimas não têm acesso a cuidados médicos adequados, serviços de reabilitação ou outros tipos de apoio”, destacou Eléa Boureux, Gerente de Projetos do Landmine Monitor, convidando à comunidade internacional a fazer mais em vista da Quinta Conferência de Revisão da Convenção de Ottawa, que reunirá representantes dos Estados Partes no Camboja a partir de 25 de novembro.
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Instrumentos traiçoeiros de morte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU