12 Outubro 2024
Depois que o último filho adulto sai de casa, Chiara, uma mulher madura que sofreu uma grande perda, decide viajar com o marido, um vendedor que percorre as cidades da região. Quando descobre a ideia de reencarnação na filosofia budista, ela passa a ver uma nova oportunidade na sua vida. Nos cinemas.
O comentário é de Alysson Oliveira, publicado por Cineweb, 25-09-2024.
Uma pequena comunidade semi-isolada na região da Serra Gaúcha é palco para o terceiro longa dirigido por Cristiane Oliveira, 'Até que a música pare'. Nesse local, o filme observa as dinâmicas pessoais a partir de Chiara, interpretada pela excelente Cibele Tedesco, atriz de teatro em seu primeiro trabalho no cinema.
Depois que seu último filho sai de casa já adulto, ela fica meio perdida em seu próprio universo. A morte acidental de outro filho, pouco tempo antes, é também uma ausência que recai sobre ela e o marido, Alfredo (Hugo Lorensatti), um comerciante ambulante que viaja pela região.
O roteiro escrito por Cristiane e coescrito por Gustavo Galvão, coloca uma espécie de lupa sobre essa mulher, fazendo dessa observação um olhar sobre o Brasil de alguns anos atrás. Na televisão, notícias dão conta de casos de corrupção na política nacional. Na vida das personagens, pequenas corrupções cotidianas colocam o casamento dos protagonistas em crise.
Ao mesmo tempo, o filme lança um olhar sobre a comunidade onde vive o casal. Trata-se de um grupo que se comunica por uma língua própria, o talian, fruto da mistura do português com os dialetos dos imigrantes do norte da Itália, e que hoje está incluída no Inventário Nacional da Diversidade Linguística. Por meio desse elemento, o filme coloca uma dualidade entre a tradição e a modernidade. A neta de Chiara, por exemplo, está sempre com celular nas mãos, mas isso não é exatamente algo negativo; afinal, é ela quem ajuda a avó em pesquisas na internet.
As pesquisas são necessárias, em especial, quando Chiara conhece um jovem italiano (Nicolas Vaporidis), que a ensina sobre a filosofia budista, em especial, sobre a reencarnação, o que traz uma nova perspectiva sobre a morte do filho.
Tudo isso é narrado numa temporalidade bastante particular, contrastando a vida de Chiara em casa, e, depois, na estrada com o marido. Cristiane, que, até então, colocara apenas protagonistas adolescentes em seus longas, traz uma mulher madura que precisa redescobrir o prazer de viver. De certa forma, talvez, Chiara seja até menos experiente do que as meninas de 'Mulher do Pai' e 'A Primeira Morte de Joana', os outros longas da diretora. E, nesse sentido, 'Até que a Música Pare' a observa com ternura e delicadeza e, também, com uma certa curiosidade por essa mulher que, aos poucos, reencontra o seu lugar no mundo.
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'Até que a Música Pare' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU