17 Julho 2024
Pesquisadores analisaram as secas de 2005, 2010 e 2016 e concluíram que as estiagens estão durando pelo menos um mês mais que o normal.
A informação é publicada por ClimaInfo, 17-07-2024.
A Amazônia viveu uma estiagem histórica no ano passado, que começou fora do prazo habitual e durou mais do que o costumeiro. Rios viraram desertos, matando peixes e botos e isolando diversas comunidades, já que o transporte fluvial predomina na região. Tudo indica que esse cenário irá se repetir este ano. E, ao que parece, as mudanças climáticas, causadas sobretudo pela queima de combustíveis fósseis, vão tornar tal fenômeno cada vez mais comum e intenso, afetando a vida de milhares de pessoas.
Um estudo publicado na Communications Earth & Environment mostra que quase 50% das localidades não indígenas e 54% das aldeias indígenas da Amazônia brasileira estão propensas ao isolamento por causa de secas extremas, destacam Observatório do Clima e BNC Amazonas. A maior parte dos afetados está no estado do Amazonas.
A equipe, liderada pela brasileira Letícia Santos de Lima, do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Autônoma de Barcelona (ICTA-UAB), analisou as secas de 2005, 2010 e 2016. E também concluiu que as estiagens estão durando pelo menos um mês mais que o normal.
Durante as secas, os níveis de água superficial e subterrânea podem diminuir, o que impacta o uso de poços. E a qualidade da água pode piorar, ficando imprópria para consumo. “Estudos anteriores mostraram evidências de aumento nas internações no Acre em 2005 associadas tanto a doenças transmitidas pela água quanto a doenças respiratórias devido à poluição do ar por causa de incêndios florestais”, relata o artigo. Outro problema é que o distanciamento entre as casas e as margens de rios e lagos exige que os moradores caminhem longas distâncias para buscar água para uso doméstico.
A estiagem de 2024 já vem se mostrando tão poderosa quanto a do ano passado. No início deste mês, o governo do Amazonas decretou estado de emergência em 20 municípios do estado situados nas calhas do Juruá, Purus e alto Solimões. Na 2ª feira (15/7), o nível do rio Madeira em Porto Velho baixou para 3,27 metros, aumentando a preocupação da Defesa Civil da capital de Rondônia com a seca prevista para este ano, informa Diário da Amazônia e AC24horas. No mesmo período de 2023, a medição do rio era de 6 metros, o que indica a gravidade da situação climática neste ano.
A indústria também já se prepara para o pior. O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (ELETROS), José Jorge Nascimento, disse que a seca de 2024 promete ser pior do que a vista no ano passado e que isso tende a prejudicar o escoamento de produtos da Zona Franca de Manaus, relatam UOL e Investing.com.
Em tempo: Em artigo no Project Syndicate, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, destaca que a frequência e a gravidade dos eventos extremos provocados pelas mudanças climáticas comprovam o que os indígenas sempre entenderam: dominar a natureza, em vez de viver em harmonia com ela, gera respostas contrárias. Por isso é necessário mudar o modelo econômico baseado na exploração dos recursos naturais até sua exaustão. “A mudança climática é uma crise global. Modelos econômicos insustentáveis construídos com energia de combustíveis fósseis afetam desproporcionalmente as populações mais vulneráveis. Ao abandonar modelos de desenvolvimento ultrapassados baseados na destruição da natureza, podemos embarcar em um caminho que não é apenas mais sustentável, mas também mais justo”, reforçou.
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Secas extremas duram mais e podem isolar 50% das comunidades amazônicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU