"Confessar o Senhor está relacionado a outro ato, para o qual chamou a atenção o Papa Francisco na homília da Vigília Pascal: 'Elevar os olhos para Jesus'".
O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.
"Confessar" é o verbo de destaque nas meditações de Santo Agostinho sobre o salmo 117, cantado na Vigília Pascal deste fim de semana:
"Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!"
Confessar, como explica o bispo de Hipona, tem dois sentidos: refere-se à conhecida confissão dos pecados à qual todo cristão é chamado, mas, igualmente, à confissão de louvor. A confissão é a ação humana que une os dois tempos litúrgicos que vivemos e estamos a viver: a Quaresma e a Páscoa. No primeiro, nos dirigimos a Deus para confessar os nossos pecados. No segundo, louvamos sua ação salvífica. Este último, para Agostinho, tem um sentido preciso: "Aqui certamente evidencia-se serem os gritos de confissão não demonstração de tristeza da penitência, mas pertencem à alegria da festividade celebrada".
Dizer com o salmista, "Eu te confessarei, Senhor, porque me ouviste e foste a minha salvação", sublinha, é uma confissão de louvor: "não se mostram aí as feridas ao médico, mas dá-se graças pela saúde recuperada. Ora, o próprio médico é a salvação".
Professar, por outro lado, "Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!", é reconhecer que ele nos deu a salvação, por nós morreu e ressuscitou: "No tempo favorável eu te ouvi, no dia da salvação, te socorri (Is 49,8), isto é, no dia em que Cristo mediador se tornou a pedra angular. Por este motivo, 'nele exultemos e nos alegremos'".
Confessar o Senhor também está relacionado a outro ato, para o qual chamou a atenção o Papa Francisco na homília da Vigília Pascal: "Elevar os olhos para Jesus". Exorta-nos mais um vez o pontífice: "Levantemos o olhar para Ele, acolhamos Jesus, Deus da vida, em nossas vidas, renovemos-Lhe hoje o nosso «sim» e nenhum maço de pedra poderá sufocar-nos o coração, nenhum sepulcro poderá encerrar a alegria de viver, nenhum fracasso será capaz de nos lançar no desespero. Levantemos o olhar para Ele e peçamos-Lhe que a força da sua ressurreição role para o lado as pedras que nos oprimem a alma. Levantemos o olhar para Ele, o Ressuscitado, e caminhemos na certeza de que, no fundo obscuro das nossas expectativas e das nossas mortes, já está presente a vida eterna que Ele veio trazer".
Quem levanta os olhos para Jesus e vê que "a pedra já tinha sido rolada", como observou o Papa Francisco, canta com Agostinho e o salmista: "Que diremos senão: 'Tu és o meu Deus e eu te confessarei; és o meu Deus e eu te exaltarei. Eu te confessarei, Senhor, porque me ouviste e foste a minha salvação?' Não o diremos com o ruído das palavras, mas a caridade que adere ao Senhor por si mesma assim clama; o próprio amor constitui esta voz. Por isso, como o salmista começou com o louvor, assim termina: 'Confessai ao Senhor, porque ele é bom, porque sua misericórdia perdura pelos séculos'".
Que nesta Páscoa possamos confessar, com alegria, Cristo, Senhor Deus do Universo. e, com toda a Igreja, alegrar-nos e e nele exultarmos.