05 Dezembro 2023
Doutora em Sociologia e Metodologia de Pesquisa Social, formadora e jornalista, Paola Lazzarini trabalhou durante muitos anos no terceiro setor e na cooperação social. Em 2018 iniciou a experiência de Mulheres pela Igreja [Donne per la Chiesa] e contribuiu para a construção da rede internacional de Conselhos de Mulheres Católicas. Entre as publicações: Non tacciano le donne in assemblea. Agire da protagoniste nella Chiesa, Effatà editrice, 2021. Vive em Milão com o marido e a filha.
A reportagem é de Federica Tourn, publicada por Jesus, dezembro-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Assertiva, determinada e atenta a tudo que diz respeito aos desejos e às capacidades das mulheres na Igreja e no mundo, Paola Lazzarini dá a impressão de ter desenvolvido ao longo dos anos o hábito de "pensar grande". De fato, não basta ocupar espaços na Igreja se não se enfrenta o desequilíbrio das relações entre os sexos sobre o qual se alicerça a instituição: “Não serve a nada que o Papa coloque mulheres na Cúria Romana se não se olha para a condição feminina na Igreja universal", diz ela.
É preciso uma revolução copernicana, que leve as mulheres onde são tomadas as decisões de bioética, de maternidade e de teologia. “Interessa-me que mulheres que sentem a vocação ministerial possam exercê-la”, explica, “mas de modo mais geral me preocupa tudo o que impacta a vida concreta das mulheres e, acima de tudo, gostaria que na Igreja o discernimento das mulheres contasse como aquele dos homens". “Gostaria, em suma, que não fôssemos mais consideradas apenas ‘complementares’ aos homens, como foi novamente afirmado durante o último Sínodo, onde as mulheres eram de qualquer maneira muito poucas para poder incidir e levar a uma verdadeira mudança."
Estudiosa e formadora, fundou em 2019 a associação Mulheres pela Igreja, que reúne simples batizadas, determinadas a denunciar o papel subalterno ao qual estão relegadas. O manifesto é claro: “Estamos apaixonadas pela Igreja, pelas nossas famílias, por aqueles que são mais frágeis e indefesos, mas apaixonadas também pela nossa força, energia e inteligência, dons de Deus. Queremos levar para a Igreja tudo o que somos e não nos diminuir para agradar alguém." Uma associação jovem que adquiriu imediatamente uma voz significativa, até se tornar uma referência no âmbito do feminismo católico.
“Sempre tive consciência das injustiças sofridas pelas mulheres, mas as considerava como parte do caminho ascético que me era pedido como fiel: aceitá-las era uma forma de exercer a humildade", conta. Tudo muda quando nasce sua filha Miriam. “Eu pensei que iríamos batizá-la e que ela passaria pelas mesmas humilhações que eu sofri", explica, "e então me disse que não podia aceitar isso: o que poderia ter tido um significado espiritual para mim, não era justo impô-lo a ela e às outras garotas." Lazzarini cresceu em uma família muito religiosa, que acreditava no empenho pessoal. "Em casa tínhamos a Lumen Gentium e aos oito anos já sabia de cor o Saltério”, conta. Frequentou a escola dos Jesuítas e, depois da universidade, decidiu tornar-se freira. “Os meus pais não ficaram contentes com a minha escolha, especialmente a minha mãe, que, no entanto, queria que meu irmão fosse padre”, lembra. "Na minha família as freiras não eram estimadas como os sacerdotes".
Naquela congregação, Paola Lazzarini permaneceu por cinco anos: um período que hoje lembra como muito educativo, mesmo que não simples. “Decidi sair porque estava procurando uma maior radicalidade e não gostava que pretendessem me dizer como eu tinha que viver a relação com Deus e também porque desejava relações autênticas, difíceis dentro da comunidade."
Sem uma profissão, recomeçar não é fácil: “Foi muito difícil”, confessa hoje. "Aos 30 anos eu me sentia como um salmão nadando contra a corrente." Então a vida retoma seu ímpeto, Paola Lazzarini termina o doutorado, encontra emprego na Acli, se casa. Está pronta para dedicar a sua vocação em chave diferente, como leiga, ligando o seu pensamento ao de muitas outras mulheres que trabalham por uma Igreja mais justa e inclusiva.
Em 2018, ela ficou fulgurada por um discurso de Mary McAleese durante um encontro organizado por Voices of Faith, em que a ex-presidente da Irlanda denuncia abertamente a misoginia da Igreja e reitera que as teólogas não são “as cerejinhas do bolo”, como disse o Papa Francisco, mas “o fermento do bolo". “McAleese falava com tamanha liberdade sobre o que eu também pensava que me deixou maravilhada”, lembra. “Naquele momento percebi quanta hesitação eu ainda tinha para falar livremente.” Precisamente o encontro com as outras mulheres, a colaboração e o reconhecimento mútuo são uma parte fundamental da reflexão de Lazzarini. Também por isso recentemente passou o bastão a Patrizia Morgante, nova presidente de Mulheres pela Igreja: “Estou feliz, porque é um sinal que as mulheres têm uma forma diferente de exercer a liderança", explica. “O poder não deve ser possuído, mas exercido e é importante passar adiante e deixar que outras façam crescer o que você construiu; por minha vez, eu não teria ousado agir se outras mulheres não tivessem me convidado para fazê-lo."
No futuro, para ela ainda há a pesquisa sobre a vocação numa perspectiva leiga: “Estou interessada em entender onde as mulheres continuam a encontrar, dentro ou fora da Igreja, o alimento espiritual”, explica. "Que chaves usamos para tomar decisões, como fazemos coincidir ideais e escolhas concretas? Em uma palavra, a minha é uma pesquisa espiritual que se torna um questionamento sobre viver no mundo".
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Paola Lazzarini. É hora de dizer basta às humilhações mascaradas de “caminho ascético” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU