29 Julho 2022
Os profundas divisões na Igreja na Alemanha e na Suíça estão sendo expostas pelo caminho sinodal.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por The Tablet, 28-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em 21 de julho, pouco antes do Papa Francisco viajar para o Canadá, o Vaticano publicou uma breve declaração alertando o “Caminho Sinodal” alemão que a iniciativa não tem o poder de mudar a doutrina da Igreja ou introduzir novas estruturas eclesiais, e que se o fizesse seria uma ameaça à unidade da Igreja.
A concisa declaração do Vaticano, sem qualquer assinatura pessoal, foi manchete nas mídias seculares e religiosas na Alemanha logo em após a publicação. As reações na Alemanha e na Suíça indicam profundas divisões sobre os temas do caminho sinodal.
O presidente da conferência da Alemanha, dom Georg Bätzing, e o presidente do Comitê Central dos Leigos Católicos (ZdK), Irme Stetter-Karp, rejeitaram fortemente a ideia de que o “Caminho Sinodal” alemão estivesse planejando reformas que levariam a um cisma e apontaram que temas como a moral sexual da Igreja, o celibato sacerdotal e o papel da mulher na Igreja estavam sendo discutidos em muitos outros países além da Alemanha. Vários teólogos alemães e suíços bem conhecidos os apoiaram.
A declaração do Vaticano foi acima de tudo um “ultrajante voto de desconfiança”, destacou Daniel Kosch, observador do Caminho Sinodal alemão e secretário-geral da Conferência Católica Romana da Suíça, à agência suíça de notícias católica Kath. “Nenhum dicastério e nenhum representante da Santa Sé assumiu qualquer responsabilidade pessoal [por esta declaração]. Esse anonimato impossibilita o diálogo e, portanto, é incompatível com a sinodalidade da Igreja”, observou.
O canonista Bernhard Anuth, de Tübingen, foi mais comedido. A declaração do Vaticano estava “meramente esclarecendo” o que já estava estabelecido nos estatutos do Caminho Sinodal alemão, ou seja, que em questões que dizem respeito à Igreja Mundial, cada decisão alcançada só poderia ser um pedido ao Papa, disse Anuth à KNA. No entanto, ele admitiu, “diversos comentários de proeminentes membros alemães do ‘Caminho Sinodal’, poderiam ser, tem sido e foram entendidos como se a lei da Igreja estivesse sendo realmente alterada”.
Apenas dois dias antes da publicação da declaração do Vaticano, o secretário-geral alemão do “Caminho Sinodal”, Marc Frings, pediu um “reajuste” do ensino da Igreja Católica sobre a homossexualidade em uma contribuição convidada para o blog estadunidense “Outreach”. O “Caminho Sinodal [alemão] foi uma declaração deliberada contra o atual Catecismo Católico, que critica e deprecia a homossexualidade desde meados dos anos 1970 e ainda reprova a atividade homossexual como pecado”, escreveu Frings.
Entre os poucos bispos alemães que comentaram estava dom Bertram Meier, de Augsburg, responsável pelos assuntos mundiais na conferência dos bispos alemães. Ele saudou a declaração do Vaticano. “Isso mostra que Roma está interessada no que acontece na Alemanha. [Neste momento], o risco para a unidade da Igreja é virulento”, sublinhou. Roma não estava freando, mas estava tentando canalizar o “Caminho Sinodal” alemão e se deixar “enriquecer” pela Igreja Mundial.
Dom Rudolf Voderholzer, bispo de Regensburg, disse estar grato pela declaração “esclarecedora”. “Agora é a última hora de se juntar ao Papa no caminho sinodal e isso significa ouvir, discutir e rezar com base na doutrina católica e não com o objetivo de mudá-la”, declarou.
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O caminho sinodal mostra as profundas divisões na Alemanha e na Suíça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU