11 Julho 2022
"Alguns teólogos acreditam ser necessário recuperar a consciência do 'magistério interior', tão esquecido entre os cristãos. Vêm dizer o seguinte: de pouco serve insistir no 'magistério hierárquico' se nós crentes – hierarquia e fiéis – não damos ouvidos à voz de Cristo, 'Mestre Interior'."
"As palavras que se pronunciam na Igreja devem servir apenas de convite para que cada crente escute dentro de si a voz de Cristo. É isso que é decisivo."
Jose Antonio Pagola, teólogo espanhol, comenta o texto de Lucas 10:38-42, publicado por Religión Digital, 11-07-2022.
Enquanto a hierarquia católica insiste na necessidade do "magistério eclesiástico" para instruir e orientar os fiéis, setores importantes dos cristãos orientam sua vida hoje sem levar em conta suas diretrizes. Para onde esse fenômeno pode nos levar? A questão está se tornando cada vez mais preocupante.
Alguns teólogos acreditam ser necessário recuperar a consciência do "magistério interior", tão esquecido entre os cristãos. Chegam a dizer o seguinte: de pouco serve insistir no "magistério hierárquico" se os crentes - hierarquia e fiéis - não escutam a voz de Cristo, o "Mestre interior" que continua a instruir por meio de seu Espírito aqueles que verdadeiramente querem segui-lo.
A ideia de Cristo "Mestre interior" vem do próprio Jesus: "Não chameis a nenhum mestre, pois um é o vosso Mestre: Cristo»" (Mateus 23:10). Mas, sobretudo, foi Santo Agostinho quem o introduziu na teologia, afirmando fortemente a sua importância: "Temos apenas um Mestre. E sob ele somos todos colegas estudantes. Não nos tornamos professores falando-vos do púlpito. O verdadeiro Mestre fala de dentro."
A teologia contemporânea insiste nesta verdade que está muito esquecida por todos, a hierarquia e os fiéis: as palavras que se pronunciam na Igreja devem servir apenas de convite para que cada crente escute dentro de si a voz de Cristo. Esta é a coisa decisiva. Somente quando alguém “aprende” do próprio Cristo é que “algo novo” é produzido em sua vida como crente.
Imagem: Reprodução
Isso traz consigo várias demandas. Em primeiro lugar para aqueles que falam com autoridade dentro da Igreja. Eles não são os donos da fé ou moralidade cristã. Sua missão não é processar e condenar pessoas. Menos ainda "lançar fardos pesados e insuportáveis" aos outros. Eles não são mestres de ninguém. São discípulos que têm que viver “aprendendo” de Cristo. Só assim poderão ajudar os outros a "se deixarem ensinar" por ele.
É assim que Santo Agostinho questiona os pregadores: "Por que você gosta de falar tanto e ouvir tão pouco? Quem ensina verdadeiramente está dentro; por outro lado, quando você tenta ensinar você sai de si mesmo e anda sobre o de fora. Ouça primeiro quem fala de dentro, e de dentro fala depois para quem está de fora."
Por outro lado, todos devemos lembrar que o importante, ao ouvir a palavra do magistério, é sentir-se convidado a voltar-se para dentro para ouvir a voz do único Mestre.
Santo Agostinho também nos lembra: "Não ande fora. Não espalhe. Entre na sua intimidade. A verdade reside no homem interior." A cena em que Jesus elogia a atitude de Maria, que "sentada aos pés do Senhor, ouviu a sua palavra", é sóbria. As palavras de Jesus são claras: "Só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte."
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Pagola: “Quem fala com autoridade na Igreja não é mestre de nada” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU