13º Domingo do tempo comum – Ano C – Condições para percorrer o caminho com Jesus

(Foto: Reprodução | Google Imagens, creative commons)

Por: MpvM | 24 Junho 2022

 

 "No Evangelho (Lc 9,51-62) Lucas apresenta as “exigências do caminho.(...) Na primeira parte (vers. 51-56), o cenário de fundo situa-nos no contexto da hostilidade entre judeus e samaritanos. Os peregrinos que iam para Jerusalém participarem das grandes festas de Israel procuravam então evitar a passagem pela Samaria, utilizando preferencialmente o “caminho do mar” ou o caminho que percorria o vale do rio Jordão, a fim de evitar 'maus encontros'. Este é o cenário onde Jesus, caminhando, conversa com os discípulos e os convida a ter uma atitude diferenciada diante do “ódio do mundo”. Na verdade, ensina o que devem fazer quando o mundo tem uma atitude de rejeição face à sua proposta."

 

A reflexão é de Valdete Guimarães, smr, religiosa da Congregação das Servas de Maria Reparadoras. Ela possui graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC (2001); especialização em Psicopedagogia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC (2008); graduação (2006), mestrado (2007) e doutorado (2018) em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE. Atualmente é professora e no curso de Teologia na Faculdade Diocesana São José – FADISI, em Rio Branco, Acre e Orientadora do Setor de Pastoral e Ensino Religioso do Colégio Nossa Senhora do Rosário - RJ.

 

 

Leituras do dia

 

1ª leitura: 1Rs 19,16b.19-21
Salmo: Sl 15(16),1-2a.5.7-8.9-10.11 (R. 5a)
2ª leitura: Gl 5,1.13-18
Evangelho: Lc 9,51-62

 


Cumprimento às irmãs e aos irmãos das comunidades que se reúnem para celebrar o 13º domingo do tempo comum e partilho com vocês uma reflexão sobre a liturgia dominical.

 

A primeira leitura (1Rs 19,16b.19-21) nos mostra Elias, que é convidado a ungir Eliseu como profeta. Eliseu está no campo, com os bois, lavrando a terra quando Elias o encontra e o convida a ser profeta. O relato nos mostra a resposta de Eliseu ao desafio que Deus lhe lança através do gesto de Elias: Ele faz esta ruptura de vida, despedindo-se dos seus: imola uma junta de bois, queima o arado e assa a carne dos bois, dando a comer à sua família, como sinal de fechamento de um ciclo na vida. Depois segue Elias.

 

É interessante acentuar que o gesto de Eliseu é muito significativo: mostra o abandono da vida antiga, e exprime a radicalidade da sua entrega ao serviço de Deus.

 

Na segunda leitura (Gl 5,1.13-18) Paulo acentua que a verdadeira liberdade consiste em viver no amor. O que escraviza o ser humano e o impede de alcançar a vida em plenitude é o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência. E esta liberdade, que é a capacidade de amar, nasce da vida que Cristo nos dá: pela adesão a Cristo, gera-se em cada pessoa um dinamismo interior que a identifica com Cristo e lhe dá uma capacidade infinita de amar, de superar o egoísmo e os limites humanos - ou seja, nos proporciona de viver em liberdade. É o Espírito que alimenta, dia a dia, essa vida de liberdade (ou de amor) que se gerou em nós, a partir da nossa adesão a Cristo (vers. 16).

 

Para Paulo, viver na escravidão é continuar a viver uma vida centrada em si próprio; viver na liberdade ("segundo o Espírito") é sair de si e fazer da sua vida um dom.

 

No Evangelho (Lc 9,51-62) Lucas apresenta as “exigências do caminho”. O texto de hoje pode ser dividido em duas partes para uma melhor compreensão.

 

Na primeira parte (vers. 51-56), o cenário de fundo situa-nos no contexto da hostilidade entre judeus e samaritanos. Os peregrinos que iam para Jerusalém participarem das grandes festas de Israel procuravam então evitar a passagem pela Samaria, utilizando preferencialmente o “caminho do mar” ou o caminho que percorria o vale do rio Jordão, a fim de evitar “maus encontros”.

 

Este é o cenário onde Jesus, caminhando, conversa com os discípulos e os convida a ter uma atitude diferenciada diante do “ódio do mundo”. Na verdade, ensina o que devem fazer quando o mundo tem uma atitude de rejeição face à sua proposta.

 

Tiago e João pretendem dar uma resposta agressiva, que retribua na mesma moeda a hostilidade manifestada pelos samaritanos que não queriam os receber, porque estavam indo para Jerusalém. Eles disseram: O senhor quer que a gente mande descer fogo do céu para acabar com estas pessoas? (lc 9,54). O texto nos mostra que Jesus os repreendeu, lembrando que o seu caminho não passa nem passará nunca pela imposição da força e pela resposta violenta: é no dom da vida e não na prepotência e na morte que se realizará a sua missão. Isto é algo que os discípulos nunca devem esquecer se estão interessados em percorrer o "caminho" de Jesus.

 

Na segunda parte (vers. 57-62), Lucas apresenta - através do diálogo entre Jesus e três candidatos ao discipulado - algumas das condições para percorrer, com Jesus, esse caminho que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da salvação.

 

Que condições são essas?

 

O primeiro diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais: para o discípulo/a de Jesus, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do
que as comodidades e o bem-estar material.

 

O segundo diálogo acentua que o discípulo deve desapegar-se de deveres e obrigações que, apesar da sua relativa importância (como por exemplo o dever de sepultar os pais que é fundamental no judaísmo),  se estes deveres impedem uma resposta imediata e radical ao Reino.

 

O terceiro diálogo vai mais longe ainda, pois sugere que o discípulo deve despegar-se de tudo (até da própria família, se for necessário), para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada - nem a própria família - deve adiar e demorar o compromisso com o Reino.

 

Mas é importante ressaltar que não podemos ver estas exigências como normativas (por ex. o deixar de sepultar os pais, deixar a família), porque em outras circunstâncias, o próprio Jesus, recordando o mandamento da tradição, mandou cuidar dos pais e honrar pai e mãe (cf. Mt 15,3-9). E a 1ª carta aos Coríntios nos lembra que os discípulos - nomeadamente Pedro - fizeram-se acompanhar de familiares, das esposas durante as viagens missionárias (cf. 1Cor 9,5). Então, o que estes ensinamentos pretendem dizer é que o discípulo e a discípula de Jesus são convidados a eliminar de suas vidas tudo aquilo que possa ser um obstáculo no seu testemunho quotidiano do Reino.

 

Pedimos que o senhor nos faça discípulos e discípulas dele despojadas e doadas no serviço pelo Reino.

 

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