16 Junho 2022
"Todos os Estados com armas nucleares estão aumentando ou potencializando seus arsenais e a maioria deles está intensificando a retórica nuclear e o papel que essas armas desempenham em suas estratégias militares", escreve Francesco Vignarca, Coordenador das Campanhas da Rede Italiana Paz e Desarmamento, em artigo publicado por Il Manifesto, 14-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Agora os dados demonstram claramente: terminou a tendência à redução dos arsenais nucleares que estava em curso desde o final da guerra fria”.
Esse é o comentário lapidar (e preocupado) de Hans Kristensen, membro sênior associado do Programa Armas de Destruição em Massa do SIPRI e diretor do Projeto de Informação Nuclear da Federação dos Cientistas Americanos, ao apresentar os dados mais atualizados sobre a consistência das forças nucleares contidos no Anuário recém-publicado pelo Instituto de Pesquisa Sueco.
Um alarme diretamente ligado à modernização dos arsenais dos nove países (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte) que as possuem oficialmente nos últimos anos: por isso, embora a número total de ogivas tenha diminuído ligeiramente entre 2021 e 2022, é previsível para a próxima década que a tendência seja de aumento.
Entre as "modernizações" em andamento, devemos mencionar também as novas bombas B61-12 que serão instaladas na Itália também para serem usadas pelos F-35 de nossa Força Aérea.
Cerca de 9.440 ogivas das 12.705 existentes no início de 2022 estavam em condições de uso potencial: 3.732 acopladas a mísseis e aeronaves, cerca de 2 mil – quase todas pertencentes à Rússia ou aos EUA – mantidas em estado de alerta operacional máximo.
Os dois países possuem conjuntamente mais de 90% de todas as ogivas, mas os outros sete estados "nucleares" estão desenvolvendo ou implantando novos sistemas de armas ou anunciaram sua intenção.
Por exemplo, a China está no meio de uma expansão substancial de seu arsenal nuclear que, de acordo com algumas imagens de satélite, inclui a construção de mais de 300 novos silos para mísseis.
Todos os Estados com armas nucleares estão aumentando ou potencializando seus arsenais e a maioria deles está intensificando a retórica nuclear e o papel que essas armas desempenham em suas estratégias militares.
Sem esquecer o custo também financeiro: segundo a Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares a manutenção de arsenais nucleares custa cerca de 75 bilhões de dólares por ano e o próprio Congresso dos Estados Unidos prevê um custo total de 634 bilhões de dólares só para os EUA na década de 2021- 2030.
“Compartilho as preocupações claramente explicadas por Hans Kristensen - ressalta Daniele Santi, presidente da Senzatomica - Se não conseguirmos abolir as armas nucleares todas as outras questões de que estamos falando (emergência climática, democracia, futuro) não terão sentido. Não terá sentido falar em direitos civis porque não haverá ninguém que possa gozá-los: não importa quanto ou por quanto tempo as pessoas se esforcem para fazer um mundo ou uma sociedade melhor, uma vez iniciada uma guerra nuclear, tudo será inútil. A realidade da era nuclear é que todos somos obrigados a viver constantemente acompanhados pelo pior, mais incompreensível e absurdo perigo imaginável”.
Dessa consciência nasceu a ação da sociedade civil para um desarmamento humanitário também no âmbito dos arsenais nucleares, com a obtenção do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares (Tpnw) votado em 2017 e que entrou em vigor em 2021.
“Senzatomica continuará engajada na mobilização "Itália, repense isso" junto a todos os cidadãos e cidadãs italianos por um mundo livre dessa loucura - acrescenta Santi - e por isso também continuamos a pedir ao governo italiano que participe como observador na primeira Conferência dos Estados Partes no TPNW a realizar-se em Viena de 21 a 23 de junho”.
"Estaremos em Viena, junto com os movimentos pelo desarmamento nuclear, para participar da primeira conferência dos estados que fazem parte do TPNW em um momento histórico único - ecoa Lisa Clark, copresidente do International Peace Bureau e responsável pelo desarmamento nuclear para a Rede Italiana de Paz e Desarmamento - Sempre dissemos que as armas nucleares devem ser proibidas, pois representam, junto com as mudanças climáticas, a principal crise existencial da humanidade e do planeta. Infelizmente, com as ameaças do presidente Putin de fevereiro passado e com a divulgação dos dados do SIPRI dos últimos dias, a discussão sobre como evitar a catástrofe assumiu um papel de destaque também para a opinião pública em geral. A boa notícia é que, com as sociedades civis em todo o mundo alertadas para o perigo nuclear, estamos confiantes em convencer os governos nacionais a assumir um compromisso concreto de libertar a humanidade dessa ameaça”.
Um caminho que deverá ter como primeiro objetivo a interrupção da ampliação dos arsenais nucleares.
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“Armas nucleares, agora o risco é maior do que na Guerra Fria” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU