07 Junho 2022
"Será que a classe política e as autoridades brasileiras vão continuar de braços cruzados, aguardando o próximo tiroteio em massa? Qual o interesse de Bolsonaro em armar a sociedade brasileira, quando se sabe que isto representa o aumento da criminalidade no país?", pergunta Jose Rodrigues Filho, professor da Universidade Federal da Paraíba e ex-pesquisador nas Universidades de Johns Hopkins e Harvard (USA), em artigo publicado por seu blog.
Estamos no caminho da barbárie e da brutalidade, quando o direito de se armar parece ser mais importante do que a proteção do direito à vida. As cenas de Uvalde, no Texas, são assustadoras, quando cabeças de crianças foram totalmente explodidas com tiros de rifles AR15, capazes de fazer um buraco no corpo do tamanho de uma cabeça humana, com um só tiro. Esta foi a arma usada por um jovem de 18 anos, que tinha o direito de se armar com uma arma desenhada para MATAR, usada por militares.
Uma das iniciativas principais deste governo foi armar a sociedade brasileira, junto de lobistas produtores de armas e políticos narcisistas, todos em busca de encherem os bolsos e manterem poder. Não se pode deixar de analisar os interesses da indústria de armas por trás desta iniciativa, até porque já se tem no Congresso Nacional, o que se chama de “Bancada da Bala”. Não se deve permitir que o péssimo exemplo dos Estados Unidos seja transferido para um país, onde a maioria de seu povo é favorável ao desarmamento.
Na voz destes lobistas, armas nas mãos de cidadãos cumpridores da lei torna o país mais seguro. Se isto fosse verdade, os Estados Unidos, com mais 400 milhões de armas nas mãos dos cidadãos, seriam o país mais seguro. Não é verdade. Eles não estão seguros nas escolas, supermercados, igrejas, sinagogas, mesquitas, carros, nas ruas ou em suas próprias casas.
O que acontece nos Estados é que a relação entre a indústria de armas e os representantes do Partido Republicano é muito forte. Há anos que os conservadores têm fortalecido esta relação, inclusive com tentativas de mudança na constituição, que antes não definia o direito de se adquirir armas. Portanto, trata-se de uma relação de interesses econômicos e não de segurança da sociedade.
Para o professor de Direito, Reva Siegel, da Universidade de Yale, “o direito de um indivíduo usar armas em legítima defesa não está escrito na Constituição”. Por sua vez, comenta-se que o direito ao aborto está na constituição e a Suprema Corte americana dá sinais de querer tirar este direito das mulheres. Em resumo, suprime-se o direito das mulheres e se fortalece os direitos de se armar dos homens.
Já foi dito que o governo deve servir aos vivos e não aos mortos, uma vez que são os vivos que tem direitos. O atual governo está sacrificando os que estão vivos. É traição, o que está sendo proposto para armar a sociedade brasileira. Já basta o que se levantou durante a CPI da Covid-19, que elaborou diversas denúncias sobre o desprezo com a vida e a grande quantidade de mortes no país. Os defensores de armas não previnem o tiroteio em massa.
Além disto, a criminalidade com armas de fogo só tem aumentado. Enquanto mortes com armas de fogo chega a ser de 79% dos homicídios nos Estados Unidos, no Reino Unido, onde é proibido a venda de armas, este percentual é de apenas 4%. Isto por si só mostra os riscos de uma sociedade armada. No Brasil, pesquisas mostram os efeitos danosos de uma sociedade armada.
A comoção da sociedade americana chegou a tal ponto que a própria imprensa já discute a possibilidade de levar para os políticos conservadores fotos dos pedaços de carnes das crianças assassinadas no terrível tiroteio e chacina em Uvalde, Texas. Com rosários, bouquets de flores e pequenos caixões de carne de crianças, assassinadas brutalmente, a cidade faz um dos sepultamentos mais chocantes de sua história. Para muitos, nada vai mudar a opinião dos políticos republicanos, quando seus interesses são outros.
Será que a classe política e as autoridades brasileiras vão continuar de braços cruzados, aguardando o próximo tiroteio em massa? Qual o interesse de Bolsonaro em armar a sociedade brasileira, quando se sabe que isto representa o aumento da criminalidade no país?
Já se comenta que se o Presidente Bolsonaro não ganhar as eleições, o seu exército armado vai partir para um confronto e tentar, de forma mais agressiva, o que Trump tentou fazer nos Estados Unidos. Não se pode descartar nada diante de projetos tão perigosos, como o de armar a sociedade brasileira. Se antes foi dito que a Covid-19 era uma “gripezinha”, agora está sendo dito que “um povo armado jamais será escravizado”. São aberrações inaceitáveis.
Pesquisas recentes mostram que mais de 70% da população brasileira não considera que a sua segurança depende de uma sociedade armada. O que se espera agora nas eleições é que estes mais de 70% não escolham seus representantes para o Congresso Nacional, sendo aqueles que vão defender a indústria de armas.
A única resposta que se tem de armar a sociedade brasileira é a tentativa de golpe na nossa democracia. Embora tenha errado em eleger Bolsonaro, a maioria dos eleitores brasileiros prefere o voto para escolher seus dirigentes, de forma democrática, a pistolas e rifles para escolher um ditador.
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Uma Nação sob pistolas e rifles – tiroteios em massa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU