25 Mai 2022
A comemoração dos 50 anos de Santarém pode ser considerada um dos momentos marcantes da Igreja da Amazônia em 2022. Fazer memória de um momento histórico, que ajudou a assumir os novos caminhos nascidos no Concilio Vaticano II e latino-americanizados em Medellín em 1968.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
De 6 a 9 de junho, no Seminário São Pio X, o mesmo local onde aconteceu o Encontro 50 anos atrás, quase 100 participantes, bispos, presbíteros, religiosos e religiosas, leigos e leigas, da Igreja da Amazônia e de outros locais do Brasil e da América Latina, querem atualizar à luz do caminho percorrido, especialmente das orientações surgidas do Sínodo para a Amazônia, o legado de Santarém, que teve como fundamento a concretização de uma Igreja encarnada e inculturada.
O encontro quer ser um momento de espiritualidade, destacando a acolhida de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia, que se deslocará desde Belém para estar presente em um momento singular da vida da Igreja da região. A presença de Nossa Senhora de Nazaré quer ser também um reconhecimento à religiosidade popular na Amazônia, sustento secular da fé do povo do bioma amazônico.
Uma presença que, segundo o padre Vanthuy Neto, seguindo o acontecido em Aparecida, quer visibilizar “a religiosidade popular e a maternidade de Maria”. O padre da Diocese de Roraima lembra que no Documento de Santarém, Nossa Senhora de Nazaré é considerada “a Rainha da Amazônia”. Daí, ele vê três sentidos nessa presença: o encontro não é só dos bispos, e sim um encontro que quer fazer um diálogo com a experiência da religiosidade popular, da piedade, da fé do povo, algo presente no Círio de Nazaré; pedir que ela ajude a concretizar na Amazônia as experiências dessa Igreja que cada vez mais deseja armar sua tenda no meio do povo e que o Evangelho se torne fermento na vida das comunidades, da sociedade; agradecer à Mãe de Jesus pela companhia, e no serviço do qual ela é modelo, ir ao encontro de quem está mais frágil e necessitado, acolhendo o Mistério de Deus que se dá em meio dos pobres.
Também será realizada uma Eucaristia de Ação de Graças pelos 50 anos do Documento e os frutos recolhidos ao longo do caminho. Junto com isso, serão lembrados em outra celebração os mártires da Amazônia, homens e mulheres que movidos pelo Evangelho entregaram sua vida em defesa da casa comum e dos povos que habitam a região amazônica.
Um encontro que acontece 50 anos depois daquele em que “a Igreja na Amazônia assumiu como missão encarnação na realidade e evangelização libertadora, missão que ainda continua necessária e urgente”, segundo Dom Mário Antônio da Silva. O arcebispo de Cuiabá afirma que é por isso que “50 anos depois fazemos memória e assumimos novos compromisso”. O segundo vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), faz ver que “é preciso revisitar e permanecer vinculados ao espírito que gerou o Documento de Santarém como processo missionário”.
Dom Mário Antônio usa a imagem dos ramos e a videira, como “indicativo para que possamos prosseguir produzindo os frutos para a vida humana e toda a Criação, na Amazônia e em todo o mundo”. Ele insiste em que “celebrar 50 anos de Santarém é assumir o compromisso de caminhar juntos, de ser Igreja sinodal, e responder aos desafios de hoje como pastores próximos do rebanho e interpelados pelas periferias existenciais e geográficas”.
O Arcebispo de Cuiabá diz ver também o fato de celebrar Santarém como oportunidade para “proclamar a sabedoria dos povos originários na Amazônia, e reconhecer que nossas comunidades oferecem respostas para os problemas da Amazônia”. Por isso, ressalta que “é necessário escutar às comunidades e valorizar seus saberes, experiências e culturas”. Finalmente, Dom Mário Antônio da Silva, diz que “a Igreja na Amazônia se reúne e renova compromissos de vida e de vida em abundância para todos”, pedindo que “o Espírito Santo nos ilumine nos preparativos e realização do Encontro: 50 anos de Santarém na vida da Igreja na Amazônia”.
O encontro terá como ponto de partida uma análise de conjuntura sócio-política e eclesial, algo de fundamental importância diante da atual realidade, condicionada pelos ataques à floresta e aos povos que a habitam, pelo ambiente político, cada vez mais conturbado diante das eleições que acontecem neste ano de 2022, e pela realidade eclesial, fortemente marcada pela pandemia, mas esperançada diante deste tempo sinodal que está vivendo.
Ao longo do encontro será elaborado um Documento Final, uma Mensagem ao Povo de Deus, uma Mensagem ao Papa Francisco e uma Mensagem a Dom Claudio Hummes, presidente durante muitos anos da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e primeiro presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que se encontra em tratamento de saúde.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Aos 50 anos de Santarém, a Igreja da Amazônia faz memória e busca novos compromissos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU